Emiliano José: o PT é inimigo da casta da Casa Grande
Se pudesse, a Justissa colocaria a cabeça de Lula e Dirceu no alto de um poste!
publicado
21/05/2018
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O Conversa Afiada publica artigo do professor e jornalista Emiliano José:
A Revolta dos Búzios e Lula
João de Deus e Manuel Faustino, mestre- alfaiate e seu aprendiz. Lucas Dantas e Luiz Gonzaga, soldados. Enforcados em 8 de novembro de 1799, na Praça da Piedade, em Salvador. Depois, os corpos esquartejados, cabeças afixadas em postes no Dique, no Cruzeiro de São Francisco, na rua Direita do Palácio, na própria Piedade. Aqueles olhos mortos fixaram a população aterrorizada vários dias, cabeças retiradas no dia 13 de novembro. Os heróis da Revolta dos Búzios, ou Revolução dos Alfaiates hoje estão no livro dos Heróis da Pátria. Ninguém se lembra dos juízes que os condenaram. Escolhidos a dedo pelo partido da justiça - pobres, negros entre os mais de 40 réus. A Colônia não queria mudanças. Imaginava contê-las assim, cabeça nos postes.
Lembrei disso, no sábado, dia 19, para insistir numa ideia: não há meio de entender o presente senão nos voltamos para o passado, sempre inscrito na alma do povo, em nossa história, sempre a marcar os dias que correm. Digo de há muito que nenhum país passa por quase 400 anos de escravidão impune. O escravismo colonial não deixou cicatrizes, apenas. Deixa muitas feridas abertas no corpo e no espírito das classes trabalhadoras. E nossas classes dominantes estão solidamente instaladas na Casa Grande, nunca abandaram aquela ideologia, pela qual matam e morrem, muito mais matam do que morrem. Lembrei em mesa do Congresso dos Petroleiros em Salvador, dia seguinte à palestra do querido amigo Paulo Henrique Amorim, operários em luta contra a privatização da Petrobras.
Lembrei, também, porque pouco antes Paulo Henrique e alguns dirigentes sindicais foram vítimas, no refeitório do hotel, durante o café da manhã, de racismo por parte de integrantes da Casa Grande. Eu não estava lá no momento, mas companheiros do Sindipetro me contaram das provocações, e depois da agressão verbal de uma senhora branca, loira, não se sabe se loira de nascença, a tentar mostrar a um dos trabalhadores que “ali não era o lugar dele”, por negro, deslocado de seu habitat, já que um hotel destinado apenas a pessoas de bem como ela e os que a acompanhavam. Sei que os sindicalistas chamaram polícia, exigiram providências, foram à delegacia. Não sei ainda as consequências. A Casa Grande não descansa, estamos vendo.
E lembrei por conta da impressionante perseguição movida contra Lula, contra José Dirceu, contra Vacari, contra Delúbio – esses quatro – a evocar os quatro da Revolta dos Búzios, e contra Gleisi, contra Haddad, tantos outros, contra o PT. Não há, como não havia na Colônia, nenhum constrangimento, nenhuma vergonha para as classes dominantes, de modo especial para o partido da justiça, em demonstrar que há um inimigo contra o qual lutar, e esse inimigo é o PT, é Lula. Querem dar o exemplo, mostrar que não se deve mais tentar qualquer projeto político destinado a melhorar a vida dos pobres, atender à classe trabalhadora em seus direitos, mínimos que sejam.
Pudessem, e as cabeças estariam nos postes. Não podendo, estabelecem penas eternas, condenam esses novos presos políticos a morrerem na prisão, sem que sejam observados os mínimos preceitos legais, sem apresentar provas, sem nada. O que a Casa Grande não entende, difícil entender, é a insistência desse povo – Lula preso, e ele continua presente no coração das pessoas, a desafiar seus carrascos, a apresentar-se como franco favorito para as eleições presidenciais desse ano. A Revolta dos Búzios, final do século XVIII. Início do século XIX, e viria a Independência, que não obstante mantivesse a escravidão, fora um tapa na cara da Colônia. Prenderam Lula, imaginando terminar a história, aprisionar suas ideias, paralisar a luta. A Casa Grande tem como resposta a continuidade da esperança encarnada em Lula, e a disposição de luta do povo brasileiro em resgatar a democracia, derrotando o golpe nas eleições deste ano.