Games são "bodes expiatórios" para evitar discussão de problemas sociais
Jogo "Call of Duty: Modern Warfare - Remastered", é uma série de videojogos de tiro na primeira pessoa para computadores e outros consoles.
Por Renato Grandelle, no Globo Overseas (empresa que tem sede na Holanda para lavar dinheiro e subornar agentes da FIFA com objetivo de ter a exclusividade para transmitir os jogos da seleção):
'Não há estudos que corroborem a ligação entre os games e o aumento da violência', afirma especialista
Guilherme Taucci Monteiro e Luiz Henrique de Castro, autores do massacre de Suzano (SP), eram conhecidos por sua paixão por videogames violentos, em que assumiam papel de atiradores, como “Call of Duty”. O hobby não passou despercebido por críticos como o vice-presidente Hamilton Mourão.
— Hoje, a gente vê essa garotada viciada em videogames violentos. É só isso que fazem, eu tenho netos, e muitas vezes os vejo mergulhados nisso aí — disse Mourão. — Quando eu era criança e adolescente, a gente jogava bola, soltava pipa. A gente não vê mais essas coisas. É com isso que a gente tem de estar preocupado.
Autor do livro “Videogame e violência” (Civilização Brasileira) e coautor de “Explorando a Criminologia Cultural” (Letramento) — juntamente com Jeff Ferrell, Keith Hayward e Alvaro Oxley da Rocha —, Salah H. Khaled Jr. afirma que os games são usados como “bodes expiatórios” para evitar a discussão de problemas sociais complexos. Khaled Jr. é professor de Criminologia e Direito Penal da Universidade Federal do Rio Grande.
(...) Há, então, um incentivo para a violência por meio destes jogos?
Como muitos já teorizaram, a violência do game pode ser uma válvula de escape para a violência real. O jogador, ao atirar em um adversário virtual, não experimenta a sensação de que mata outra pessoa. Esta ação é experimentada como algo lúdico, uma vitória sobre o antagonista. É extremamente satisfatória, libera dopamina, a área do cérebro ligada ao prazer, como ocorre quando comemos chocolate, tiramos uma boa nota em uma prova ou fazemos sexo.
De fato, existe uma mercantilização da questão criminal: o capitalismo transformou o crime em um produto que é consumido por todos nós. Mas isso não quer dizer que produtos culturais provocam crimes. Entraríamos em um debate sobre censura e liberdade de expressão artística e os estudos mais qualificados dizem que a fantasia, da literatura ao game, é uma espécie de catalisador estético, e não de motivação. A violência decorre das situações e frustrações da vida real.
(...) O vice-presidente Hamilton Mourão culpou os games pelo massacre, afirmando que os jovens estão viciados em jogos violentos. O que o senhor acha?
Ele reproduz um discurso que surgiu nos anos 1970 nos Estados Unidos e permanece forte até hoje. Não há estudos que corroborem a ligação entre os games e o aumento da violência de forma satisfatória. Precisamos enfrentar a questão de modo responsável, o que não é fácil em um contexto no qual o pensamento científico está em descrédito e a pós-verdade se tornou aceitável. Temos uma responsabilidade de investigar as possíveis causas desses eventos e, assim, traçar políticas públicas adequadas para combatê-las, tarefa para a qual eu estou disposto a contribuir. Em alguma medida, este debate toca no controle do uso de armas de fogo, mas não se restringe a ele.
(...)
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