Google esconde o Intercept Brasil!
De André Souza, do Intercept Brasil:
Como leitor de notícias pelo celular, sempre tive a noção de que os agregadores como o Google News usam algum tipo de algoritmo para selecionar as recomendações de leitura. Mas foi só quando me juntei ao Intercept que vi, de perto, como essas escolhas são feitas.
Hoje, vou convidar você a observar mais ativamente como funcionam esses agregadores e o impacto que eles podem ter nas informações que você consome. Vamos falar, mais especificamente do Google News, usado por 41% dos leitores na América Latina.
Segundo o Google, "a equipe de curadoria ajuda os usuários a seguir uma matéria ou encontrar uma fonte em qualquer lugar do Google Notícias". A missão do serviço parece nobre: "ser confiável, transparente e agradável".
É de se esperar, então, que a equipe de 'curadoria 'do Google Notícias se preocupasse com os resultados exibidos em sua plataforma, concorda?
Não é o que tem acontecido.
Os nossos leitores têm frequentemente alertado que recebem notificações do Google News com links para conhecidos espalhadores de notícias falsas – como esse, criado só para tentar manchar a reputação da nossa equipe. Para a 'curadoria' do Google, aparentemente, um site que espalha fake news de forma descarada é tão ou mais importante que fontes reconhecidas de informação. Mas, se existe uma equipe de curadoria, por que isso acontece?
Aqui na redação, eu fui o responsável por incluir o TIB como editor, nome dado às fontes de notícias registradas no Google Notícias. O processo é complicado e requer uma série de procedimentos para adequar o conteúdo do site às diretrizes do Google. Providenciamos um feed RSS específico, o registramos, incluímos até uma linha de código no nosso site para comprovar que somos realmente seus donos.
Instruções seguidas à risca, achei que estávamos prontos para aparecer nos resultados do serviço. Com o tempo, porém, comecei a notar que nossos furos de reportagem não eram considerados pela equipe de 'curadoria'. O que ganhava destaque eram as notícias secundárias, que apenas os repercutiam. Escrevi, então, à empresa para questionar como era feita a seleção do conteúdo:
Insatisfeito com a resposta robótica, resolvi providenciar um link direto que comprovasse a minha teoria de que, embora a notícia tivesse sido um furo nosso, ela não havia sido selecionada pela "equipe de curadoria" do Google Notícias. A resposta veio novamente padronizada e sem muitas informações:
Foi só nesse segundo e-mail que me dei conta que, na verdade, a "equipe de curadoria" é um algoritmo, e que o Google Notícias não usa editores humanos para decidir como selecionar e classificar as notícias que apresenta a você diariamente. Ou seja: não importa a qualidade e nem quem é a fonte primária. Qualquer bom SEO – sigla em inglês para otimização para mecanismos de busca – é suficiente para promover conteúdos duvidosos e ocultar as fontes primárias de um determinado assunto.
Você pode comprovar isso na prática agora. Acesse o Google Notícias e procure por "Vaza Jato". Provavelmente o TIB não estará nos primeiros resultados. Você pode argumentar, então, que os resultados que vê são as notícias mais recentes. Te desafio então a clicar em "ver cobertura completa" e procurar novamente por alguma notícia nossa. Aos cinco primeiros que encontrarem uma ocorrência do TIB nesta seção prometemos um brinde.
A Vaza Jato, você sabe, foi um furo de reportagem espetacular do TIB. Nós não apenas publicamos os primeiros vazamentos, como também inventamos o termo "Vaza Jato". Ainda assim, nenhum dos resultados aponta para nós. Os robôs da 'equipe de curadoria' do Google preferem recomendar outras coisas – e não ligam se o conteúdo é falso.
Isso acontece porque, assim como os outros serviços do Google – e de outras empresas, como o Facebook –, o agregador de notícias é alimentado por um algoritmo baseado nas supostas preferências da pessoa. Para aumentar a audiência e o engajamento, o algoritmo "aprende" o que supostamente você quer, e passa a te bombardear com aquela informação. "Vaza Jato" ou Glenn Greenwald, por exemplo, e não importa se a fonte é um site que espalha mentiras. O que importa é a sua atenção.
Já falamos dessa lógica. É assim que o YouTube alimenta a extrema-direita, que as redes sociais radicalizam as pessoas e contribuem para espalhar notícias falsas.
No final das contas, se consumirmos informação por meio desse tipo de serviço acreditando na ladainha de que o conteúdo é verificado por uma "equipe de curadoria", não somos assim tão diferentes das tias de WhatsApp encaminhando notícias sem checar as fontes. Duvide do que o Google recomenda para você, porque a conveniência ainda não é tão segura quanto parece.
(...)
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