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Governador de Brasília cassa Jango pela segunda vez

“É uma perseguição política”, diz João Vicente Goulart
publicado 24/08/2015
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Memorial Jango, por Oscar Niemeyer

O que essa elite quer é apagar a memória do Brasil!

 


Na última quarta-feira (19), o governador do Distrito Federal, Rodrigo Rollemberg (PSB-DF), declarou nula a cessão de um terreno em Brasília, onde seria construído o Memorial da Liberdade e Democracia, homenagem póstuma ao presidente da República João Goulart (1919-1976), deposto pelo golpe militar em 1964.

Segundo as autoridades de Brasília, as razões para a decisão são técnicas. O Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) teria analisado o projeto e apontou diversos problemas em sua execução.

Não é o que diz João Vicente Goulart, filho do presidente, que nesta segunda-feira (24) conversou com Paulo Henrique Amorim para o Conversa Afiada.

De acordo com João Vicente, as razões são políticas e ideológicas e não técnicas.

“O governador atira a pedra e esconde as mãos. Não é a primeira vez que ele faz isso. Essa elite de Brasília que não quer a História, pois o Memorial João Goulart não cultiva personalidade, é um espaço de memória. Eles não querem, de jeito nenhum, que, neste momento, se reconte a história das lutas pelas reformas de base, urbana, agrária, educacional...”, critica João Vicente.

Que prossegue: “é uma perseguição política. Estamos com 48 assinaturas de senadores a favor do Memorial. Vários deputados assinaram manifesto. Essa atitude do governador é covarde. É uma bofetada em todos aqueles que lutaram pela redemocratização”, conclui.

Leia a entrevista ou a ouça na integra:

 


PHA: João Vicente, o que o governador de Brasília fez em relação à construção do Memorial?

João Vicente: Essa luta [da construção do Memorial Jango] vem de muitos anos. Iniciamos um processo administrativo no governo Roriz. Passamos por quatro mandatos. Cumprimos todas as etapas necessárias. Até que conseguimos, no governo Agnelo [Queiroz] (PT-DF), assinar o convênio de uso do terremo no dia 13 de abril de 2013. Após todo esse tempo, começamos a fazer a campanha de captação de recursos para iniciar a obra.

PHA: Esse terreno onde fica exatamente em Brasília?

João Vicente: Fica no Eixo Monumental, no canteiro central, na frente da Praça do Cruzeiro. Esse terreno não foi nós que escolhemos. O governo Roriz designou esse terreno em um espaço que já era destinado à construção de Memoriais. Cumprimos todas as etapas e, quando começamos a colocar os tapumes para cumprir o cronograma estabelecido, fomos surpreendidos com uma autuação do governo Rollemberg, de que não poderíamos cercar o terreno. Só tem que eles nos notificaram com uma norma de gabarito de obra pronta. E se tratava de um canteiro de obras.

PHA: Isso significa a interdição da obra?

João Vicente: Sem dúvida, pois a própria deputada Liliane Roriz, por pressão das elites conservadoras de Brasilia, que se levantaram por meio do Correio Braziliense contra a construção, chamou o Ministério Público. Num processo administrado, em que não houve parcelamento e o terreno já estava parcelado. Isso confirma que é uma perseguição política.

PHA: É uma ação conjunta do governador Rollemberg e o MP do DF?

João Vicente: Sem dúvida. O governador atira a pedra e esconde as mãos. Não é a primeira vez que ele faz isso. Essa elite de Brasília que não quer a História, pois o Memorial João Goulart não cultiva personalidade, é um espaço de memória. Eles não querem, de jeito nenhum, que neste momento se reconte a história das lutas pelas reformas de base, urbana, agrária, educacional...

PHA: O que vocês vão fazer para recorrer dessas decisões?

João Vicente: Estamos tentando fazer uma medida avocatória ao governador para que ele assuma essa responsabilidade. Estamos com 48 assinaturas de senadores a favor do Memorial. Vários deputados assinaram manifesto. Essa atitude do governador é covarde. É uma bofetada dada em todos aqueles que lutaram pela redemocratização.

PHA: O próprio ato da Presidenta Dilma Rousseff, que mandou trazer os restos mortais do Presidente João Goulart e lhe deu o tratamento de Chefe de Estado. Quer dizer, é o repúdio a uma decisão presidencial.

João Vicente: Nós estamos tratando a questão como a segunda cassação de Jango. Mesmo depois que o povo brasileiro, por meio do Congresso Nacional, devolve o mandato e concede honras de Chefe de Estado. O próprio Congresso que anula aquela fatídica sessão de 2 de abril de 1964, em que o senador Auro Moura de Andrade declara vaga a Presidência. Depois de tudo isso, esse socialista entre aspas dá essa bofetada. É um escândalo.