Há 5 meses cel. Lima ia receber R$ 20 milhões em dinheiro
Quadrilha agia sem parar e sem pudor
publicado
22/03/2019
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Do Globo Overseas:
Coaf detectou tentativa de depósito de R$ 20 milhões em espécie para operador de Temer, diz Lava-Jato
A procuradora Fabiana Schneider, da força-tarefa da Lava-Jato no Rio, informou que foi identificado pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) que houve uma tentativa de depósito de R$ 20 milhões em espécie, em outubro do ano passado, na conta da Argeplan, do coronel João Baptista Lima, amigo do ex-presidente Michel Temer também preso nesta quinta-feira.
— Foi identificado pelo Coaf que houve uma tentativa de depósito de R$ 20 milhões em espécie na conta da Argeplan. Esse fato ainda precisa ser investigado e apurado. É apenas uma comunicação do Coaf, mas esse fato, de acordo com o que foi registrado pelo Coaf, aconteceu em outubro de 2018. Ou seja, um fato extremamente recente, ocorrido depois da prisão temporária do coronel Lima, que aconteceu em abril de 2018. É um indicativo que a organização criminosa continua atuando. — informou a procuradora.
O procurador José Augusto Vagos explicou que o banco não realizou o depósito. Por isso, ele não foi concretizado e esse fato ainda precisa ser apurado pelo MPF.
— Esse depósito não foi feito porque o sistema de compliance do banco não aceitou e ele (o dinheiro) está circulando por aí - afirmou Vagos.
Além disso, a procuradora Fabiana Schneider informou que as investigações descobriram que até um telefone utilizado pelo ex-presidente Michel Temer tinha como endereço de cobrança a empresa Argeplan, administrada pelo coronel Lima.
— Essas empresas foram criadas para atender aos interesses da organização criminosa e quem está por trás dessas empresas é o líder dessa organização Michel Temer. Mais um elemento que mostra tudo isso. Um terminal telefônico, utilizado por Michel Temer, e que está cadastrado com endereço de cobrança da empresa Argeplan. O telefone que Michel Temer utilizava estava cadastrado para cobrança em outra empresa que era administrada pelo coronel Lima - explicou Schneider.
Coronel João Baptista Lima foi preso em seu apartamento na Vila Andrade , zona sul de São Paulo. Três enfermeiros foram chamados porque a mulher dele, Maria Rita Fratezi, teria passado mal. Ela também foi presa, acusada de atuar na lavagem de dinheiro por meio da reforma de um imóvel da filha de Temer, Maristela.
Propina de R$ 1,8 bilhão
No pedido de prisão feito pelo Ministério Público Feral (MPF) no Rio, os procuradores da Lava-Jato afirmam que Temer é o chefe de uma organização criminosa que atua há 40 anos no Rio. De acordo com o MPF, a quadrilha teria recebido ou cobrado propina no valor total de R$ 1,8 bilhão.
O coordenador da força-tarefa da Lava-Jato no Rio, Eduardo El-Hage, informou que o valor é o equivalente às cifras que constam nas três denúncias que já existem contra Temer. São valores somados de desvios de verba pública citados nas denúncias conhecidas como "Quadrilhão do MDB" e as dos casos da delação da J&F e ainda a dos Portos.
— Esse valor foi afirmado e colocado na peça (do MPF apresentado para pedir a prisão) para confirmar o quão perigosa é essa organização criminosa — afirmou El-Hage.
Os investigadores ressaltaram a relação de longa data entre Temer e o coronel Lima. Eles informaram que mesmo antes de Lima ser formalmente sócio da Argeplan ele já atuava junto a empresa para a organização criminosa.
— É visível um crescimento expressivo da Argeplan quando Michel Temer ocupava cargos públicos — explicou a procuradora Fabiana Schneider. — Um ponto importante é uma planilha que foi identificada. Existe uma planilha que demonstra que pagamentos, promessas de pagamentos foram feitas ao longo de 20 anos para o codinome MT, ou seja, Michel Temer. Isso demonstra a longevidade - completou ela.
O coronel Lima também foi apontado como a pessoa que intermediava as entregas de dinheiro. Segundo o MPF, ligações entre Lima e entregadores foram gravadas na corretora Hoya, responsável por esses repasses.
Investigadores monitorados
A organização do ex-presidente chegou a monitorar investigadores da Polícia Federal .
— Havia, inclusive, dados pessoais (desses investigadores) — afirmou o procurador José Augusto Vagos.
O procurador contou que a organização forjava documentos e destruía as provas. A prática foi um dos fundamentos citados pelos procuradores para justificar as prisões. Segundo o MPF, a Argeplan destruía documentos diariamente justamente por ser uma empresa moldada para a organização criminosa.
Vagos afirmou ainda que Othon Silva, ex-presidente da Eletronuclear, foi colocado no cargo por Temer para ter como retorno propina:
— O Othon foi ali colocado de forma já combinada com a organização criminosa para reverter proveito em forma de propina para a organização, e a escolha foi do ex-presidente Michel Temer. Essa é a tônica da organização: é a escolha de pessoas preparadas ou não para assumir postos chaves em empresas públicas para retornar em propinas para a organização.
Além do ex-presidente e o coronel João Baptista Lima, também foram presos nesta quinta-feira Carlos Alberto Costa, Carlos Alberto Costa Filho, Othon Luiz Pinheiro da Silva, Ana Cristina da Silva Toniolo, Wellington Moreira Franco, Maria Rita Fratezi, Vanderlei de Natale e Carlos Alberto Montenegro Gallo.
O diretor da Polícia Federal no Rio, Ricardo Saadi, afirmou que o ex-presidente Michel Temer e o ex-ministro Moreira Franco não vão prestar depoimentos nesta quinta-feira e que serão ouvidos em outra oportunidade.