O Conversa Afiada reproduz e-mail que recebeu do magnífico historiador João Reis:
Caro Paulo Amorim,
pela admiração que tenho a seu trabalho de jornalismo crítico, fiquei muito honrado com a publicação no seu blog de meu discurso na Academia Brasileira de Letras por ocasião da outorga do Prêmio Machado de Assis de 2017.
Dito isso, gostaria de esclarecer que descobri há algum tempo que existem muitas academias na ABL.
Um exemplo disso é que recebi de numerosos de seus membros elogios pessoais, alguns entusiasmados, ao meu discurso. E o historiador José Murilo de Carvalho, querido colega de profissão não obstante nossas visões divergentes do mundo, foi o acadêmico que muito generosa e elogiosamente me saudou na ocasião, ao fazer um balanço de minha obra.
Então, eu não diria que enfiei a escravidão goela abaixo da ABL, até porque foram minhas pesquisas sobre escravidão a justificativa para a concessão do prêmio, conforme aponto naquele discurso.
Gostaria, por favor, de ver esta mensagem publicada como esclarecimento no seu blog.
Saudações,
João Reis
Prezadíssimo historiador, dar o título é uma prerrogativa dos editores, no caso de blogs (sujos) como o meu.
Sem consultar as vítimas...
Portanto, quem enfiou a Escravidão pela goela de uma Academia majoritariamente reacionária e, em muitos casos, monarquista, fui eu!
Espero não ter criado nenhum constrangimento ao amigo.
É possível que, ano que vem, a Academia compense esse prêmio "fora da curva" de 2017 com a concessão ao notável Sociólogo e Antropólogo Ali Kamel, que poderia - é uma inútil sugestão - ser saudado pelo acadêmico Zuenir Ventura, um sol que ilumina as Letras Pátrias.
Lamentavelmente, a Academia de Nabuco e Machado se tornou uma sub-seção do Globo, tal o número de acadêmicos que buscam a imortalidade não nas Letras, na História, no Romance ou na Poesia - mas nas páginas daquele decrépito periódico.
E essa promiscuidade não se deu inocentemente.
Como cidadão (honorário) da Bahia, quero dizer que fiquei muito feliz com a oportunidade de ler seu discurso.
E devorar sua obra como os Caetés devoraram o Bispo Sardinha - na versão de Oswald de Andrade, é claro!
Um forte abraço do admirador,
Em tempo: em 2003, essa mesma Academia entregou o prêmio de "melhor ensaio" à obra do historialista Elio Gaspari por tentar provar que Geisel, o "Sacerdote", e Golbery, o "Feiticeiro" são os Pais Fundadores da Democracia Brasileira! Precisa desenhar, professor Reis?
Paulo Henrique Amorim