Jornalista relata as torturas comandadas pelo sanguinário Brilhante Ustra, ídolo de Bolsonaro
O jornalista Antônio Pinheiro Salles, de 82 anos, relatou à Folha de S.Paulo desta quarta-feira 1º/I detalhes das torturas a que foi submetido durante a ditadura militar no Brasil.
Foram nove anos de cárcere, os últimos deles em São Paulo, onde sofreu tortura comandada por Carlos Alberto Brilhante Ustra, sanguinário torturador idolatrado por Jair Bolsonaro. “A impunidade dos torturadores facilita que o herói dele seja o que me torturou da pior maneira possível”, disse.
"Sou jornalista e fui preso em 12 de dezembro de 1970, em Porto Alegre. Voltei à capital gaúcha 49 anos depois, em 12 de dezembro de 2019. Quase suspendi a visita na última hora, mas compreendi que era importante. Fiquei nove anos preso, sendo torturado. Depois do Rio Grande do Sul, fui mandado a São Paulo, de onde saí em 1979", conta Salles à Folha.
"O governo que está aí defende que sequer aconteceu a ditadura. A situação é desesperadora. Se tivesse acontecido punição aos torturadores, como ocorreu na Argentina e no Uruguai, permitindo que se fizesse justiça, o governo seria outro. A impunidade dos torturadores facilita que o herói dele [Bolsonaro] seja o que me torturou da pior maneira possível [Brilhante Ustra]", relata.
Os relatos sobre os tempos de cárcere são assustadores. "Introduziram uma bucha de bombril no meu ânus enquanto estava pendurado no pau de arara. Junto da bucha, colocaram uma das pontas de um fio usado para dar choque. A outra extremidade do fio enrolaram no meu pênis", fala o jornalista.
Em São Paulo, última cidade onde esteve preso, a tortura comandada por Brilhante Ustra foi brutal. "Perdi os dentes. Fiquei com as mandíbulas destruídas, que agora são próteses de platina. Fiquei surdo do ouvido direito e escuto parcialmente do esquerdo. Perdi parte do movimento do braço direito, meu pulso ficou completamente rasgado, passei por cirurgia de reconstrução", diz Salles.
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