Lula aponta caminho: criação de empregos e tributação dos ricos
"São os ricos que são caros e não a luta contra pobreza"
Em passagem pela França, onde recebeu o título de Cidadão Honorário de Paris - para desespero de FHC e congêneres -, o presidente Lula mostrou que o discurso da oposição para as próximas eleições começa a ser moldado.
Contra um governo que discrimina o Nordeste no Bolsa Família, que não concede benefícios a mães de crianças vítimas do zika vírus, dos 11,9 milhões de desempregos e do aumento da extrema pobreza, Lula revela a receita: criação de empregos e tributação de ricos.
"O PT apresentou recentemente um programa de emergência voltado para o investimento público e a criação de empregos. Também estamos considerando uma reforma tributária para aumentar a contribuição dos ricos: tributar pessoas ricas, heranças, alterar o cálculo do imposto de renda para aliviar os trabalhadores mais pobres. As eleições municipais estão chegando. Esperamos, com os partidos da oposição e o movimento sindical, mobilizar uma vasta mobilização em torno deste programa, para defender a democracia no Brasil", afirmou o presidente em entrevista ao jornal francês L'Humanité.
Na conversa, Lula evita falar em candidatura em 2022, mas diz que vai participar do processo. "Quero indignar-me com as desigualdades econômicas e de gênero. Devemos garantir a igualdade entre homens e mulheres, mesmo no acesso a responsabilidades políticas, combater o racismo e o preconceito. Nós devemos cuidar da juventude. Não podemos prever, desde o berço, que uma criança será médica e outra favelada. Há também a questão da igualdade de renda. Que ser humano eu seria se dormisse em paz sabendo que meus filhos e netos têm o suficiente para comer, quando milhões de crianças em todo o mundo nem sequer tomam um copo de leite? Em que mundo é que os bilionários se consideram humanistas porque criaram uma fundação para ajudar meia dúzia de pessoas na África? O que é esse mundo que permite que uma pessoa acumule bilhões, enquanto a maioria da população ganha menos de 2 dólares por dia? O custo não é a luta contra a pobreza, é cuidar dos ricos. Quando você empresta um bilhão, eles cospem nas suas costas porque querem dois. Estou aposentado, mas não posso me retirar do meu compromisso. Aos 74 anos, eu poderia descansar, mas estou procurando um espaço para lutar", disse.
Sobre o governo de Jair Bolsonaro, Lula apontou o que deve ser combatido.
"Bolsonaro nunca parou de atacar mulheres, índios, negros, defendendo o porte de armas. Em vez de ser presidente, ele poderia ter sido um xerife no oeste selvagem americano. Sua eleição foi resultado de uma campanha de ódio, desacreditando a política e os partidos. Ele conseguiu impor a idéia de que ele não era político, mesmo sendo membro do parlamento por 28 anos. Ele fingiu que não fazia parte do sistema, ou mesmo que ele era um inimigo dele. Houve uma violenta campanha da direita contra o PT, contra os avanços sociais de nossos governos. Resultado: a democracia deu à luz Bolsonaro. E agora a sociedade brasileira tem que cuidar desse filho indigesto. O presidente não fala com a mídia; ele resolve tudo através de notícias falsas, tweets, vídeos ... Ele pretende passar suas bobagens, suas palavras sujas, seu ódio à democracia como natural. É normal para ele que seu filho declare que um soldado pode fechar a Suprema Corte. Ele banaliza essas palavras a ponto de torná-las aceitáveis para alguns", reforçou.
Para concluir: "No Brasil, costumamos dizer que a sociedade tolera tudo no início de um mandato. O vencedor da eleição não precisa ser justo, para saber como funciona o mecanismo do governo. A oposição em si é paciente em primeiro lugar. Onde estamos Bolsonaro não fornece respostas econômicas. Não há crescimento, criação de empregos, aumento de salários. Ele prometeu um crescimento de 2,5% no PIB. Não será superior a 1,2% este ano. Seu ministro da Economia ainda está pedindo quinze semanas para obter resultados. Este é o tempo necessário para privatizar a empresa estatal de petróleo Petrobras, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDS) e o Banco do Brasil. Como Bolsonaro não conseguiu relançar o crescimento econômico, ele se divertiu com suas loucuras. É uma maneira de fugir. Por exemplo, ele nunca fala sobre o assassinato de Marielle Franco. Sempre que mencionamos os milicianos envolvidos nesse crime, ele evita o assunto: eles se conhecem, mas ele finge não se preocupar. Não há melhorias nas áreas de saúde, educação. Pelo contrário, destrói os avanços possibilitados pelas políticas sociais do governo do Partido dos Trabalhadores. É assim que ele guia seu barco. É lamentável. Nós poderíamos entender que a sociedade quer reagir. Mas leva tempo para ela acordar."
Leia a entrevista completa aqui.