Marianna da UNE quer derrubar Temer
55º Congresso da UNE indica o caminho: só as ruas podem barrar as reformas (sic) do MT! (Crédito: Vitor Vogel/CUCA da UNE)
PHA: Eu converso com Marianna Dias, que, no fim de semana, num Congresso em Belo Horizonte, se elegeu presidenta da UNE, pela Frente Brasil Popular, com 79% dos votos. Marianna Dias, parabéns! Primeira coisa: qual é a sua prioridade?
Marianna Dias: A nossa prioridade é fazer uma grande campanha em defesa dos trabalhadores, manter a linha da União Nacional dos Estudantes de ser oposição ao governo ilegítimo, que nós não reconhecemos. Mas, para tudo isso, nós apresentamos a necessidade de se convocar novas eleições para a Presidência da República. Então, a campanha pelas Diretas Já pode, na nossa opinião, dar ao povo o direito de escolher qual Presidente quer para o Brasil - mas, sobretudo, qual projeto político quer para o Brasil. Porque apareceu de forma muito forte no Congresso a indignação dos estudantes em relação à Reforma da Previdência, à Reforma Trabalhista, à lei da terceirização... porque esse não foi o projeto que o povo brasileiro escolheu em 2014. Então, sem dúvida nenhuma, fazer um grande processo de oposição e a linha que a gente acredita que seja o caminho para conseguir tudo isso é convencer os estudantes a fazer grandes mobilizações no próximo período, para que a gente consiga pressionar esse Congresso Nacional para que convoque novas eleições.
PHA: Você sabe, certamente, que para aprovar a convocação de eleições diretas é preciso que isso seja feito através do Congresso. E como conseguir isso com este Congresso?
M.D.: Na nossa opinião, só é possível por meio da grande pressão popular. Por mais que a gente compreenda que há uma base consolidada no poder no Congresso Nacional (até porque foi o Congresso Nacional que destituiu a Presidenta legitimamente eleita), a gente não pode perder a esperança na mobilização popular, porque o povo tem a capacidade de construir uma grande Greve Geral que paralise toda a produção no Brasil, o setor educacional, o setor de transportes... que a gente consiga parar o Brasil, criar greves gerais, criar grandes manifestações de rua para pressionar. O Congresso Nacional não é imune à pressão popular, por mais que ele se comporte dessa forma e se negue a ouvir as ruas.
PHA: Você sucede Carina Vitral. Você, aparentemente, faz parte do mesmo grupo político... Carina é ligada ao PCdoB. Você também?
M.D.: Também.
PHA: E em que você acha que a sua batalha pode vir a ter mais sucesso que a de Carina, que também tentou isso?
M.D.: Na última gestão da UNE, passamos uma grande parte do tempo lutando contra o Golpe de Estado. E a gente assume essa nova gestão com um gigantesco acúmulo de forças no movimento social. As nossas passeatas crescem cada dia mais, as nossas mobilizações conseguem atingir mais setores da sociedade... tendo em vista que nós conseguimos construir o maior Congresso da história da UNE, com o nosso poder de mobilização. Esse legado, essa base fortalecida da UNE, essa autoridade que a UNE representa hoje no movimento social e na política brasileira, nos dão a condição de ter esperança. Porque sem o acúmulo de forças da última gestão seria muito mais difícil.
PHA: Por que você diz que esse foi o maior Congresso da história da UNE?
M.D.: Porque a gente conseguiu reunir mais de 15 mil estudantes do Brasil inteiro. Foi o maior não só numericamente, mas também por conta do estrato político, da unidade que a gente conseguiu estabelecer nesse Congresso da UNE em torno da luta política. Por mais que tenhamos uma quantidade grande de chapas que concorreram no Congresso - porque é muito comum que as organizações que compõem a UNE queiram disputar a direção da entidade - a gente conseguiu aprovar um documento, que é a Carta de Belo Horizonte, que aponta para mobilizações unitárias no setor democrático e popular no Brasil. Então, aprovamos que vamos construir a Greve Geral do dia 30 ao lado dos trabalhadores, comemoraremos o aniversário da UNE no mês de agosto com uma grande jornada de luta nas ruas. No dia 11 de agosto, quando completaremos 80 anos, estaremos nas ruas.
PHA: Eu gostaria de publicar essa Carta de Belo Horizonte no Conversa Afiada. Você nos envia?
M.D.: Envio, sim.
PHA: Os estudantes e os trabalhadores jovens têm sido especialmente punidos por essa política econômica em vigor?
M.D.: Sem dúvida nenhuma! Temos debatido muito com os estudantes como o que está em curso no Brasil, a retirada de direitos é prejudicial para a juventude. Já é inadiável a nossa preocupação com o alto nível de desemprego no Brasil - a gente sabe da dificuldade que os estudantes e os jovens têm de encontrar empregos mais dignos e mais reconhecidos. Mas, sobretudo, o futuro da juventude está sendo assaltado pelo que está acontecendo no Brasil. Os jovens que estão na universidade hoje têm pouca perspectiva de se aposentar, de ser mão de obra reconhecida, fruto do seu esforço e da sua dedicação. Lutar contra esses retrocessos é uma pauta da juventude também, que não pertence só às centrais sindicais e aos trabalhadores. Porque os jovens também estão sendo muito afetados.
PHA: Vocês têm alguma pauta específica para a defesa da escola pública?
M.D.: No Congresso, falamos muito sobre a necessidade de defender o caráter da Universidade pública e gratuita, porque, com a aprovação da PEC 55, que coloca um teto nos gastos públicos, comprometerá de forma significativa o orçamento da Educação. E quando o orçamento da Educação é comprometido, quando existe uma crise orçamentária nas universidades... a gente já teve momentos no Brasil em que as universidades públicas cobravam mensalidades. Em todas as vezes em que há essa dificuldade financeira, apresenta-se essa pauta de cobrança de mensalidade como uma saída para salvar a Educação pública no Brasil. E, na nossa opinião, defender o caráter público e gratuito da Universidade, por conta dessa PEC, é essencial.