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Mino: Moro e Toffoli assustam mais que os militares

Judiciário arrancou a venda e prepara o Golpe
publicado 06/10/2018
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Sem querer, Goya também retratou a Inquisição à brasileira (Tribunal da Inquisição – Francisco José De Goya)

O Conversa Afiada reproduz o editorial de Mino Carta na Carta Capital desta semana:

A ameaça do Judiciário


O país de Dias Toffoli e de Sergio Moro dispensa apresentações: trata-se de um dos recantos mais assustadores do mundo. Os acima mencionados não estão sozinhos a representar a malignidade congênita, a hipocrisia, a vileza, a ferocidade, a ignorância e creio ter sido comedido no elenco das características do Brazil-zil-zil.

Muito pelo contrário, aquele gênero de vilões exorbita. Ocorre que ao longo da semana Toffoli e Moro foram impetuosamente para a ribalta.

Na Faculdade de Direito da USP, o novo presidente do STF, a alta corte que cuidou de legalizar a ilegalidade, pronunciou um bestialógico de dimensões pantagruélicas. Ao se referir ao golpe de 1964, disse textualmente:

“Os militares foram um instrumento de intervenção e, se algum erro cometeram, foi que resolveram ficar. Por isso hoje, depois de aprender com o atual ministro da Justiça, Torquato Jardim, eu não me refiro nem a golpe, nem a revolução de 64, eu me refiro a movimento de 1964”.

E dizer que a própria Globo reconhece que golpe foi... Mas o orador, didático, explica: “Os dois lados (esquerda e direita) tiveram a conveniência de se retirar e de não assumir os erros dos dois lados e dizer que tudo isso era problema de militar”.

Toffoli disse ainda a respeito da democracia: “Eu gosto sempre também de lembrar o seguinte: que a democracia é uma opção de uma sociedade que tem muita coragem, porque é um processo difícil, seria muito mais fácil ter uma pessoa que vai lá e decide tudo por todos”.

Entrego-me à dúvida atroz: o supremo togado nativo, depois de negar o golpe de 64, faz o elogio de um “movimento” destinado a levar ao poder um ditador? Não me detenho na patética pobreza do linguajar de Toffoli, pergunto-me apenas qual seria a razão de um pronunciamento tão rombudo.

Os meus intrigados botões murmuram sinistramente: talvez vislumbre no horizonte o enésimo “movimento”. Ou um “movimento” dentro do “movimento”. E seria esse Toffoli o herdeiro de grandes juristas que dignificaram o Supremo, do porte de Evandro Lins e Silva, Hermes Lima e Vitor Nunes Leal, cassados pelo GOLPE de 1964?

Em compensação, às vésperas desta fraude chamada eleição, Moro abre a delação de Antonio Palocci. Como de hábito, conta com as manchetes que já elevaram o torquemadazinho de Curitiba aos altares da glória pátria, e por enquanto são o bastante, pois não pretende aproveitar-se das afirmações do ex-ministro no processo em curso.

O raciocínio do inquisidor é claro: a reação midiática há de ser suficiente para turvar o clima eleitoral e, obviamente, prejudicar o candidato de Lula. Soletram os botões: falar em politização do Judiciário não exprime, nos defrontamos de fato, nós sonhadores da democracia, com um poder que arrancou a venda e continua a ser determinante de um golpe em andamento.

Impossível negar: o país de Toffoli e Moro, e tantos outros, é digno apenas da primeira Idade Média, aquela da cerração mais espessa. Há, sim, sinais de resistência, e a esperança da derrota do bolsonarismo no pleito iminente, embora submetido às ameaças de um Judiciário que sobrevive aos fracassos dos outros dois Poderes golpistas, Executivo e Legislativo.

Com Temer à testa, aquele vive uma situação de naufrágio total, enquanto no Congresso medram os transformistas prontos a se realinhar.

Menos opressiva é uma das incógnitas a cercarem o momento de grande tensão: que fará a mídia diante de um embate final entre Bolsonaro e Haddad? Outra é muito mais inquietante: que será capaz de excogitar a casa-grande se a vitória consagrar Haddad?

Hoje, confesso, temo mais o Judiciário do que as Forças Armadas, como possível “instrumento”, a parafrasear Toffoli, de um novo “movimento”.