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Não existe "distanciamento social" nas favelas. E agora?

Estado não vai pensar no que sempre ignorou...
publicado 24/03/2020
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(Crédito: Jorge Maruta/ USP Imagens)

Por Mariluce Moura, do Ciência na Rua - Era angustiante, na segunda-feira, 23, uma visão mais de perto de Paraisópolis (pela tela da televisão, no SP1, da Globo), uma das maiores favelas de São Paulo, com seus 100 mil habitantes. Nas ruas, movimento normal, muita gente, como se a vida seguisse igual, nenhuma mudança em cena, rotina de sempre ressaltada por um morador entrevistado. Em uma delas, a feira livre, muitas bancas, belos legumes e frutas, e feirantes, mulheres e homens, respondendo, às vezes, que se protegiam com álcool em gel, outra parte, que não faziam nada para se prevenir.

Numa pequena casa precária de dois andares, tijolo aparente, colada a outras, e tantas, numa viela cuja largura não alcança dois metros, Marcos (não foi dito o sobrenome), máscara cirúrgica simples deslocada para, da laje mesmo, poder falar melhor ao repórter na rua, responde que naquela aparente construção única, que na verdade envolve três casas, moram 20 pessoas. Está com a máscara porque tem sintomas de gripe ou covid-19, não sabe. Atende ao pedido do repórter para fazer com seu celular um vídeo do interior da morada densamente povoada, como, de resto, a favela inteira.

Os apertados cômodos sem janela vão se sucedendo nas imagens verticais capturadas pelo jovem, do alto até o piso mais baixo, passando pela escada estreita, sufocante, pela modestíssima cozinha até onde ele sempre desce para comer, por uma pia, cuja torneira, ele mostra, não faz jorrar gota d’água, pela sala do térreo onde estão no momento o avô e a avó, idosos que ele chama de pai e mãe, com quatro crianças assistindo à televisão. São todos parentes, primos e irmãos.

Práticas de distanciamento social para fazer contenção do coronavírus nesses ambientes asfixiantes das periferias das grandes cidades brasileiras, com precariedades de toda ordem? “Não existem, o distanciamento nesse caso é impossível”, disse o epidemiologista Eduardo Massad em entrevista ao Ciência na rua na sexta-feira, 20 de março. “As medidas de contenção da epidemia nessas chamadas aglomerações subnormais têm que ser de outra ordem”, observou o biólogo Marcos Buckeridge, coordenador do programa USP-Cidades Globais, que na quinta-feira, 12 de março coordenava uma reunião de pesquisadores de várias áreas do conhecimento, ainda presencial, no Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo (IEA-USP), para debater dados científicos e contribuições possíveis e urgentes das instituições científicas ao controle da pandemia no Brasil.

“Não tem essa possibilidade de distanciamento nem de isolamento numa realidade em que é normal, é usual, 10 pessoas morando em uma casa de dois cômodos”, disse também na sexta-feira, 20, Vagner de Alencar, 32 anos, diretor de jornalismo da Agência Mural. 

Leia a íntegra no site Ciência na Rua