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Nassif: a maior ameaça à democracia se chama Sergio Moro

"É a maior vocação autoritária desde Filinto Müller e Armando Falcão"
publicado 29/02/2020
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(Crédito: Carolina Antunes/PR)

Por Luis Nassif, no GGN - Cena 1 – a defesa dos valores democráticos

Nos últimos meses, houve um aumento da defesa da democracia, uma atoarda impulsionada pelos arroubos de Jair Bolsonaro, e pela convicção de que ele, efetivamente, aposta em um golpe, em um ponto qualquer do futuro.

Na parcela mais informada da população, da mídia, do Congresso e dos Tribunais superiores, não há mais dúvidas sobre as ameaças que pairam sobre a democracia.

As manifestações de apreço pela democracia são comoventes, sendo engrossadas por figuras que, até algum tempo atrás, eram os maiores arautos do discurso de ódio.

Até que ponto essas manifestações são sinceras, ou apenas expressam o desagrado com o candidato a ditador de plantão.

Para saber, é só fazer a prova do pudim: Sérgio Moro.

Cena 2 – Sérgio Moro é uma vocação autoritária

Cinco pontos para comprovar que Moro é uma ameaça à democracia muito mais grave do que Bolsonaro. É a maior vocação autoritária que chegou ao Ministério da Justiça, desde Filinto Müller e Armando Falcão.

1. Lei de Segurança Nacional contra o porteiro do Condomínio de Bolsonaro.

Invocou a LSN para colocar a Polícia Federal no encalço do porteiro e obriga-lo a retificar o depoimento anterior, de que o motorista do carro que conduziu o assassino de Marielle Franco, tinha entrado no condomínio pedindo autorização para a casa 58, de Bolsonaro. Seria inconcebível esse tipo de atitude com o Ministro da Justiça de qualquer outro presidente do período democrático, de José Sarney a Dilma Rousseff.

2. Usou a LSN contra Lula, por críticas a Bolsonaro.

Valeu-se do mesmo expediente, de invocar a LSN, para obrigar Lula a depor na PF, por críticas endereçadas a Bolsonaro. Foi tão vexaminoso, que obrigou a própria PF a assumir o papel de juiz, em um comunicado em que dizia não ter identificado atentado à segurança nacional na declaração.

3. Lista dos bandidos mais procurados sem Adriano da Nóbrega

Mais uma vez colocou o Estado na defesa do presidente. O miliciano Adriano da Nóbrega já era procurador pelas polícias de vários estados, mas não entrou na lista de Moro, sob o argumento que não era crime da alçada federal.

4. Inação com milícias digitais

Não tomou nenhuma medida contra as agressões sofridas por jornalistas, incluindo ataques à reputação, ameaças de morte, exposição dos filhos menores. As milícias continuam agindo incólumes, apesar dos notórios atentados contra o Estado de Direito.

5. Lei de Segurança Nacional contra festa punk

Endossou a decisão de utilizar a LSN contra festa punk em Belém do Pará, por cartazes considerados ofensivos contra Bolsonaro. Em nenhum momento tomou qualquer medida contra cartazes insinuando morte de Lula e de outras lideranças da oposição.

6.  Não condenação do motim dos policiais do Ceará
Foi ao Ceará, acompanhando a tropa convocado pela Garantia de Lei e Ordem, e minimizou o motim dos policiais, alegando que a GLO não foi feita para enfrentar motins, mas apenas para garantir a tranquilidade das ruas. Ora, o primeiro ponto de justificativa de uma GLO é justamente a possibilidade de motim das políticas estaduais.

Depois, não reagiu contra a ordem de Bolsonaro, de interromper a intervenção antes do final da greve. Só voltou atrás quando os governadores ameaçaram enviar suas tropas para conter os amotinados.

7. Ameaças a Glenn Greenwald
Mais um episódio em que invocou a LSN contra adversários, no caso um jornalista no exercício do seu trabalho profissional.

Cena 3 – por que é poupado pela Globo?

A condescendência com que é tratado pela Rede Globo é a comprovação maior de que a defesa da democracia é apenas um instrumento de luta política, quando o déspota de plantão não satisfaz.

Alguns poderiam interpretar que é uma prova de má consciência, pelo apoio dado a Moro, quando se tornou peça central da campanha do impeachment.

Mas, se houvesse intenção, haveria um episódio de corte, para justificar a mudança de posição: a própria indicação de Moro para Ministro da Justiça do governo que ele ajudou a eleger.

É evidente que Moro é tratado como exército de reserva político, em função do seu atual nível de popularidade, amplamente turbinado pelo Jornal Nacional.

Essa é a grande desgraça nacional. Não existe convicção democrática, mas uso oportunista do discurso, dependendo das circunstâncias. A mesma voz que estuprava a democracia passa a ser sua defensora. E, dependendo das circunstâncias, amanhã voltará de novo a namorar o estado de exceção. E a hipocrisia nacional fingirá que há sinceridade nos dois momentos.