Números que iludem são aliados da estupidez
Por Fernando Brito, do Tijolaço - O secretário de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, Wanderson de Oliveira, deu a O Globo um número que confirma o que se disse aqui, ontem, sobre a imensa subestimação dos casos de infecção e morte por coronavírus.
Há “2.176 mortes por síndrome respiratória aguda grave (SRAG) ocorridas num período de sete semanas, entre fevereiro e abril, ainda estão sendo investigadas”.
Trata-se, portanto, de um número que é, praticamente, o dobro do número de mortes atribuída, nos números oficiais, ao novo coronavírus.
Como são casos fatais e não se deram no período mais agudos de vírus Influenza A e B, não é demais estimar que ao menos a metade (e provavelmente mais) devam-se ao Covid-19.
O que faz dobrar o número de mortos.
Ninguém se iluda com o fato de, por já serem de pessoas mortas, estes números não têm importância para a Saúde Pública.
São eles – e o número de infectados – do qual a falta de testes (se nem para os mortos há) nos tira qualquer ideia – que fazem decidir por atitudes preventivas práticas, quanto ao isolamento social e as restrições de mobilidade.
Não saber é o mesmo que ignorância e a ignorância é cúmplice da burrice desumana de nosso Governo, que quer que se ignore o alcance e a gravidade da epidemia aqui..
Ajuda a subestimar, tal como os números, os cuidados sociais e o que paradoxalmente seria a “autodefesa coletiva” de uma quarentena o mais rígida possível, que evitasse o estrangulamento do sistema médico-hospitalar que está chegando em marcha batida.
Quando os números macabros, afinal, tenderem a refletir a situação real, talvez seja tarde demais para evitar o colapso.