O que esperar do vídeo da reunião que tira o sono de Bolsonaro
O ministro Celso de Mello, do STF (Supremo Tribunal Federal), anunciou que tomará a decisão nesta sexta-feira (22/V) sobre a divulgação ou não do vídeo da reunião ministerial do dia 22 de abril.
O decano do STF pode optar em dar publicidade à integra da gravação ou apenas trechos.
No vídeo, constariam provas de acusações feitas pelo ex-ministro da Justiça e Segurança Públida Sergio Moro de que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) tentou interferir no comando da Polícia Federal e na Superintendência do órgão no Rio de Janeiro.
Na última quinta-feira (21/V), em sua tradicional live, Bolsonaro defendeu que se divulgue apenas trechos.
"Vão perder amanhã, estou adiantando a decisão do ministro Celso de Mello. Não tem nada, nenhum indício, de que porventura eu interferi na Polícia Federal naquelas duas horas de fita. Mas eu só peço, não divulguem a fita toda", disse.
"Tudo que eu falei pode ser divulgado, exceto duas pequenas passagens, de 15 segundos cada uma, que a gente fala de política internacional e uma coisa, no meu entender, de segurança nacional e, obviamente, o que os ministros falaram, como não tem nada a ver com o inquérito, que não tornasse público, porque é um constrangimento... ficamos na informalidade, você brinca um com o outro, sai um palavrão... não é o caso de tornar público isso", continuou.
Moro já se manifestou favoravelmente à divulgação do vídeo inteiro. A AGU (Advocacia-Geral da União) e a PGR (Procuradoria-Geral da República), pelo contrário, sugerem apenas trechos específicos.
O que se sabe do vídeo
Além de muitos palavrões, já se sabe que o presidente falou sobre a Polícia Federal na reunião ao menos uma vez, referindo-se ao órgão por suas iniciais (PF).
Isso foi revelado em manifestação da AGU. O órgão transcreveu duas breves declarações de Bolsonaro na reunião de cerca de duas horas.
Na primeira, Bolsonaro reclama da falta de informações recebidas de três órgãos — Polícia Federal, Forças Armadas e Abin (Agência Brasileira de Inteligência) — e diz que por isso iria "interferir", sem especificar em qual. No segundo trecho, o presidente reclama de não estar conseguindo trocar "segurança nossa no Rio de Janeiro".
No primeiro trecho, o presidente afirma: "Eu não posso ser surpreendido com notícias. Pô, eu tenho a PF que não me dá informações; eu tenho as inteligências das Forças Armadas que não têm informações: a Abin tem os seus problemas, tem algumas informações, só não tem mais porque tá faltando realmente... temos problemas... aparelhamento, etc. A gente não pode viver sem informação".
E complementa: "E não estamos tendo. E me desculpe o serviço de informação nosso — todos — é uma vergonha, uma vergonha, que eu não sou informado, e não dá para trabalhar assim, fica difícil. Por isso, vou interferir. Ponto final. Não é ameaça, não é extrapolação da minha parte. É uma verdade".
Cinquenta minutos depois, segundo a AGU, Bolsonaro fez uma segunda declaração.
"Já tentei trocar gente da segurança nossa no Rio de Janeiro oficialmente e não consegui. Isso acabou. Eu não vou esperar f... minha família toda de sacanagem, ou amigo meu, porque eu não posso trocar alguém da segurança na ponta da linha que pertence à estrutura. Vai trocar; se não puder trocar, troca o chefe dele; não pode trocar o chefe, troca o ministro. E ponto final. Não estamos aqui para brincadeira", afirmou o presidente.
Ataques à China e ao STF
Além da superintendência da PF, outros assuntos também foram tratados na reunião do dia 22 de abril. A reunião envolveu críticas a ministros do STF, a governadores e prefeitos, e até uma discussão sobre os resultados dos exames de Bolsonaro para o novo coronavírus.
Segundo a colunista de O Globo Bela Megale, fontes que participaram da reunião relataram que Bolsonaro estava de "péssimo humor" no encontro. O presidente teria usado o encontro para dar uma "bronca" em todos os seus ministros, dizendo que todos estavam passíveis de demissão.
Em vários momentos, Bolsonaro usou palavrões. Ainda segundo a colunista, o encontro registrou uma discussão acalorada entre os ministros Paulo Guedes (Economia) e Rogério Marinho (Desenvolvimento Regional).
No encontro, Bolsonaro também teria dito que não iria divulgar a "porcaria" do teste para o novo coronavírus, feito por ele. Segundo o Estado de S. Paulo, Bolsonaro teria dito que o exame poderia levar a um processo de impeachment.
O site "O Antagonista" também cita o termo "porcaria de exame" para ccovid-19. Segundo o site, Bolsonaro teria ressaltado que é ele quem "comanda as Forças Armadas" e teria dito que as usaria se preciso, "para evitar um golpe".
Ainda durante o encontro, o ministro da Educação, Abraham Weintraub, teria dito que os ministros do Supremo Tribunal Federal "tinham que ir para a cadeia", segundo O Estado de S. Paulo.
Já a ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, Damares Alves, teria sido registrada durante o evento defendendo a prisão de governadores e prefeitos. Durante o encontro, Bolsonaro teria se referido ao governador de São Paulo, João Doria, como "bosta". Pessoas do governo do Rio de Janeiro seriam "estrume", no dizer do presidente, segundo O Estado de S. Paulo.
Com informações da BBC