Os brucutus de Rondônia são a emanação de Bolsonaro
Por Fernando Brito, do Tijolaço - Sai o “kit gay”, entra Machado de Assis; no lugar da “mamadeira de piroca”, ponha-se Aurélio Buarque de Holanda; em vez de “golden shower”, proíba-se Euclides da Cunha e, liberado o “imbrochável” capitão, vete-se o indigitado Franz Kafka, ou Kafta, como prefere o Ministro da Educação…
O index librorum prohibitorum da Secretaria de Educação (!!??) de Rondônia, governado pelo coronel Marcos Rocha, do PSL e a caminho da aliança bolsonarista, é uma tragicomédia dos tempos em que vivemos.
A obscura Irany de Morais, que assina eletronicamente a lista, como a Dona Solange rondoniense, é só a mão desta história, como a censora da ditadura era a extensão do regime.
Todo este horror, infelizmente, infelizmente, é a consequência prática do que disse, há um mês, Jair Bolsonaro, quando disse que ia “suavizar” os livros escolares, cujo defeito era ter “muita coisa escrita”.
— Tem livros que vamos ser obrigados a distribuir esse ano ainda levando-se em conta a sua feitura em anos anteriores. Tem que seguir a lei. Em 21, todos os livros serão nossos. Feitos por nós. Os pais vão vibrar. Vai estar lá a bandeira do Brasil na capa, vai ter lá o hino nacional. Os livros hoje em dia, como regra, é um amontoado… Muita coisa escrita, tem que suavizar aquilo
Pois é: “Em 21, todos os livros serão nossos”…
E como Machado, Euclides, Rubem Fonseca (que no Ipês conspirou por 64), Mário de Andrade e até minha amiga e contemporânea de faculdade, Rosa Amanda Strausz não são “deles”, fogueira para seus livros com aqueles “amontoado” de muita coisa escrita.
Um detalhe, porém, deve ter escapado a muitos.
A proibição a Rubem Alves, citado no rodapé da lista com um recolha-se para todo e qualquer livro seu, vai além da estupidez literária.
É que Rubem, um educador, psicanalista e pastor presbiteriano morto em 2014, foi parceiro de Paulo Freire e, como se já não bastasse este “pecado”, também um adepto da teologia da libertação no campo evangélico.
Quem fez a lista não era um tolo que a formulou por ignorância. Sabia muito bem o que estava fazendo.
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