PF do Rio investiga cinco casos que podem enterrar a família Bolsonaro
O interesse do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) na Polícia Federal do Rio de Janeiro começa a ser esclarecido pelo jornal O Globo.
As tentativas de interferência do presidente culminaram no pedido de demissão de Sergio Moro do Ministério da Justiça e Segurança Pública Sergio Moro.
Em depoimento à Polícia Federal, Moro confirmou a pressão feita por Bolsonaro para mudar o superintendente da corporação no Estado.
De acordo com o Globo, ao menos cinco casos podem interessar ao presidente. Quatro deles são investigações que se relacionam com filhos ou pessoas próximas a Bolsonaro, como Fabrício Queiroz, ex-assessor de Flávio Bolsonaro. Um quinto caso envolveu o desejo do presidente de mudar o delegado da Receita Federal no Porto de Itaguaí.
Casos que envolvem aliados ou podem interessar a Bolsonaro:
Queiroz em depoimento
Dias depois de Bolsonaro mencionar a intenção de trocar a superintendência da PF no Rio, a defesa de Fabrício Queiroz entrou com um pedido de acesso aos autos de uma investigação na PF na qual ele seria um dos alvos. O inquérito tramita desde 2018 na Delegacia de Repressão a Corrupção e Crimes Financeiros da PF no Rio. Entre janeiro e março de 2019 uma pessoa, cuja identidade é mantida em sigilo, foi convocada para depor e foi questionada sobre Queiroz e suas atividades na Alerj. O Judiciário e a PF negaram acesso à defesa dizendo que Queiroz não era formalmente um dos alvos do inquérito.
Troca no Porto de Itaguaí
Também em agosto de 2019, o presidente Bolsonaro tentou trocar o delegado da Receita Federal no Porto de Itaguaí, José Alex Nóbrega de Oliveira. Dias depois, em publicações nas redes sociais, Oliveira denunciou que o porto é local de entrada de mercadorias ilegais de grupos criminosos, incluindo milícias. A PF investiga a acusação. Em 2017, um scanner da Receita registrou imagens suspeitas em um contêiner. A carga seria vistoriada no dia seguinte, mas o contêiner foi violado de madrugada, longe do circuito interno de TV, e o conteúdo suspeito, que seriam armas, sumiu. Outra investigação na PF foi aberta, até hoje sem conclusão.
Despacho sobre Hélio Lopes
Em agosto do ano passado, também irritou o presidente quando um delegado do Rio fez um despacho citando de modo equivocado o deputado Hélio Lopes, em uma investigação sobre supostos crimes previdenciários de outro réu. Também teria chegado ao Planalto a informação de que o delegado estaria sendo pressionado a incriminar o deputado aliado de Bolsonaro. Integrantes da PF do Rio creditam o erro ocorrido no inquérito a uma tentativa de desgastar o então superintendente no estado, Ricardo Saadi. Uma investigação para apurar o erro ainda está em andamento.
O porteiro do condomínio
No fim de outubro, veio a público depoimento do porteiro do condomínio onde Bolsonaro mora no Rio. Ele afirmou à Polícia Civil que um dos assassinos da vereadora Marielle Franco pediu para ir à casa de Bolsonaro no mesmo dia do crime — versão contraditada por uma perícia do Ministério Público em áudios da portaria. O presidente viu no episódio uma perseguição do governo Witzel e pediu a Moro uma investigação. A PF abriu inquérito e ouviu o porteiro, que voltou atrás. Bolsonaro avalia que não houve empenho para isentá-lo. O GLOBO apurou que o inquérito está sendo relatado e o porteiro não será indiciado.
Inquérito eleitoral de Flávio
Desde 2018, a PF tinha um inquérito eleitoral que apurava se o senador Flávio Bolsonaro cometeu lavagem de dinheiro e falsidade ideológica eleitoral ao declarar seus bens nas eleições de 2014, 2016 e 2018. Esse procedimento foi instaurado a partir da denúncia de um cidadão sobre as declarações do senador à Justiça Eleitoral. Flávio atribuiu valores diferentes para um mesmo apartamento. O GLOBO apurou que a PF concluiu o caso sem fazer quebras de sigilo fiscal e bancário. O inquérito tramitou até março, quando foi enviado ao Judiciário com pedido de arquivamento por não ter encontrado indícios dos crimes apontados.