Quanto vale presidir a Vale?
(Foto: Ricardo Stuckert)
Olá, tudo bem?
Primeiramente, vale esclarecer que, quando era estatal, a Vale do Rio Doce não matava ninguém.
Esse podcast é sobre a impunidade dos dirigentes da Vale.
Os dirigentes que levaram à morte os dezenove brasileiros de Mariana?
Sim!
Esses que foram indiciados como criminosos em Mariana e estão soltos, livres e impunes.
Mas também os criminosos da Vale de Brumadinho, em que cento e sessenta brasileiros morreram e cento e sessenta brasileiros estão desaparecidos.
Também esses dirigentes permanecem e permanecerão soltos, livres e impunes.
Fabio Schvartsman, presidente da Vale, escolhido por Aécio Neves (precisa desenhar?), prestou depoimento na Câmara dos Deputados nessa quinta-feira, 14 de fevereiro.
E disse joias, joias como as que se seguem:
- A Vale é joia brasileira que não pode ser condenada por um acidente que aconteceu numa de suas barragens, por maior que tenha sido a sua tragédia.
Disse também o presidente da Vale:
- Nós continuamos sem saber os motivos que causaram o acidente.
- Todas as informações que nós possuíamos e que foram enviadas aos técnicos da Vale demonstraram que não havia qualquer perigo iminente sobre aquela barragem.
Ele continua:
- O laudo de estabilidade que é concedido por especialistas nacionais e internacionais com grande qualificação no assunto representam a pedra fundamental de todo o sistema de mineração no Brasil, na Vale e no mundo.
- É óbvio que se algum desses especialistas achar que alguma barragem corre risco iminente, não dará um laudo de estabilidade, disse o presidente da Vale, que matou cento e sessenta brasileiros e desapareceu com outros cento e sessenta..
O Conversa Afiada entrevistou Cristina Serra, autora do imperdível "Tragédia em Mariana - A história do maior desastre ambiental do Brasil".
Mariana já não é o maior desastre ambiental do Brasil.
Brumadinho foi muitas vezes pior, o que deve levar Cristina a escrever outro livro magnífico.
Em Mariana, ela localizou algumas irregularidades espantosas.
As autorizações ambientais são praticamente cheques em branco para a Vale fazer o que quiser.
É um sistema de auto-vigilância.
Depois do desastre de Mariana, quando ainda não tinha sido encontrado nenhum morto, a Assembleia Legislativa de Minas, por 57 a 9, tornou a legislação sobre barragens ainda mais frouxa.
Do que certamente se serviu a Vale para construir a de Brumadinho.
Cristina revela também:
"Aquela legislatura que foi eleita em 2014, dos 77 deputados estaduais mineiros, 59, ou seja, 80% da Assembleia Legislativa de Minas Gerais receberam, naquela campanha de 2014, doações das empresas mineradoras. Então, esses parlamentares são completamente comprometidos com o poder econômico dessas empresas. E pagaram essa conta transformando o processo de licenciamento lá em Minas Gerais mais flexível, mais fácil para as empresas, inclusive restringindo a atuação do Ministério Público do Estado de Minas Gerais, que participava do processo de licenciamento, e que foi justamente quem apontou todas essas fragilidades no processo de licenciamento de Fundão, em Mariana", concluiu Cristina Serra.
O Ministério Público de Minas indiciou 22 pessoas, inclusive o diretor-presidente da Samarco, que pertencia e pertence à Vale, o Ricardo Vescovi.
Estão todos soltos.
E as indenizações às famílias?
Não foram pagas, três anos depois do crime.
Lá em Mariana, a Vale disse que a causa foram tremores de terra.
Os técnicos concluíram que os tremores não seriam capazes de abalar uma penteadeira.
Em Brumadinho a Vale diz que foi um acidente. Um acidente!
E não sabe ainda o que aconteceu.
Mas, garante que a barragem era estável.
Estável é a impunidade.
Essa, sim!
Não muda.
Em Mariana, nem mudará em Brumadinho.
O presidente da Vale foi recrutado numa operação de head hunter.
Breve ele estará à frente de outra empresa, com um salário anual de 50 milhões de reais.
Mas tem que ser uma empresa joia!
Estável!
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