"Remédio com partido" é a nova proeza de Bolsonaro
(Redes Sociais)
Por Fernando Brito, do Tijolaço - Das memórias da juventude, rebrota-me um conto de Edgar Allan Poe, Nunca aposte sua cabeça contra o Diabo, onde um jovem ousado, Toby Dammit (dammit, em inglês, é algo como “dane-se”) e incentivado por um velho coxo a cruzar uma ponte coberta, dentro da qual só há escuridão e um cavalete, o qual se deve saltar para atravessá-la.
Dammit, querendo provar sua coragem e agilidade, corre e salta o obstáculo, mas como há um fio de arame sobre ele, termina degolado pela temeridade ousada.
O conto, quem sabe, descreva a situação de nosso Dammit presidencial ao aventurar-se naquilo que, como a ponte de Poe, está imerso na escuridão e cheio de obstáculos e armadilhas desconhecidas.
Apanhou, dentre as bobagens ditas por Donald Trump, duas com especial interesse: a da “gripezinha”, que falhou pela própria gravidade que recusavam à pandemia, apesar de todas as evidências, e a da cloroquina, com a qual, em doses generosas, iam logo acabar com o vírus e sua abominável consequência não de matar, mas de manter as pessoas afastadas do trabalho.
Trump, mais esperto, já moderou e silenciou sobre a droga mágica, que as autoridades sanitárias, visto o descalabro com que formam feitos os ensaios que a validariam, chegaram a retirar do protocolo médico de enfrentamento do coronavírus.
O principal cientista do governo, o Dr. Anthony Fauci, referiu-se ao caso como tendo “evidências anedóticas”.
Também nos EUA, o que está funcionando é o isolamento, que reduz o número de casos, e não a “cura”, porque o numero de mortes passou à casa das duas mil (hoje será o terceiro dia assim), o que significa que não há sucessos terapêuticos diferentes do que em toda a parte.
Aqui, porém, estimulado – quem sabe por algum velhinho mentalmente coxo pelo ódio – Bolsodammitt transformou o remédio em ideologia e usou-o para derrotar seu próprio ministro da Saúde, fazendo-o, a contragosto, aceitar a capitulação da ciência e da prudência ao fanatismo messiânico.
O único “milagre” que Jair Bolsonaro logrará criar é um inédito “remédio com partido” que, muito provavelmente, ficará na conta das inúmeras bobagens que diz e das quais fugirá se as evidências começarem a mostrar que medicina não se funda nem em fé nem em esperteza.
Como Jair Bolsonaro não gosta de livros com “muita coisa escrita”, não lhe recomendo o filme, e não ó por isso.
É que Dammit, além de perder a cabeça em sua aposta imprudente, acaba tendo os ossos vendidos para que cachorros os roam.