Brasil

Você está aqui: Página Inicial / Brasil / Rocinha: quando o BOPE sobe, ninguém sai na rua!

Rocinha: quando o BOPE sobe, ninguém sai na rua!

Historiador à ONU: cadê os direitos humanos?
publicado 24/03/2018
Comments
Sem Título-23.jpg

"Polícia trata todos como uma coisa só!" (Crédito: Paula Bianchi/UOL)

De Paula Bianchi, no UOL:

Com cerca de 100 mil habitantes, vista para o mar da zona sul do Rio de Janeiro e um sem fim de becos e vielas espalhados entre os bairros da Gávea e de São Conrado, a favela da Rocinha passou nos últimos quatro meses por alguns dos momentos mais violentos da sua história.

Nascido e criado na comunidade, o professor de história Fernando Ermiro, 46, diz ter se acostumado ao que descreve como uma "rotina de guerra". "Acordo, não sei se vou ter água, se vou ter luz --frequentemente não tenho--, se conseguirei sair de casa". (...)

"UPP foi só um espetáculo"

A UPP [Unidade de Polícia Pacificadora] entrou [na Rocinha] em 2011, mas foi só um espetáculo, aquela cena [dos blindados da Marinha subindo]. Funcionou apenas na estrada da Gávea [via que passa por dentro da favela e liga o bairro de São Conrado à Gávea, na zona sul da cidade]. A nossa vida, como moradores, não mudou em nada. Continuamos indo ao trabalho, com frequência ficando sem luz, sem água, não conseguindo sair de casa por conta de tiroteios. (...)

"Quando o Bope entra, eu não saio na rua"

A relação com o Bope [Batalhão de Operações Especiais] e o Choque nunca foi boa. Quando o Bope entra, eu não saio na rua, eles não são de diálogo, são truculentos. Antes, eles vinham uma vez ou outra, mas agora entram todos os dias.

"Não tenho nada com o tráfico, mas a polícia enxerga todo mundo que está aqui como uma coisa só, não vem disposta a conversar. Na quarta-feira [24 de janeiro], que foi o pior dia, fiquei até 18h em casa com a minha esposa e meu filho de quatro anos ouvindo os tiros." (...)

Tráfico e polícia se escondem atrás do trabalhador

Não há mais nenhum espaço público seguro. Tem várias forças na favela ao mesmo tempo. O resultado dessas operações é praticamente zero. E o morador está no meio. O tráfico e a polícia, quando estão sozinhos, são enormes, agora, quando sabem que estão enfrentando, são pequenininhos. Os dois se escondem atrás do trabalhador. (...)

'Por que não declaram uma guerra logo?

'A polícia tem entrado com armamento cada vez mais pesado. Parece que estão gastando munição para não voltar com peso. Falam em ações de inteligência, mas só se for inteligência com o dedo. Entram com armamento pesado, atirando de longe, dentro de uma área densa e altamente populosa.

"Cadê a ONU [Organização das Nações Unidas], cadê os direitos humanos? Por que não declaram uma guerra logo? Daí ao menos eu me posiciono, posso chamar a interferência internacional para fazer alguma coisa."

(...)