Senador Buarque: vai ser coadjuvante do Frota?
Espero que o senhor vote "não" ao impeachment
publicado
25/05/2016
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De João Araújo, no twitter
No Tijolaço, de Fernando Brito:
Carta a Cristovam Buarque: o senhor vai ser coadjuvante de Alexandre Frota no MEC?
Senador Cristovam Buarque,
Sempre tive carinho e amizade pelo senhor e sei que a recíproca sempre foi verdadeira nos muitos anos em que convivemos no PDT.
Sei também das mágoas que guarda em relação ao PT e a Lula. Todos sempre temos algumas e benditos aqueles que conseguem praticar os versos da Violeta Parra e deixam que o amor – e as causas são amores, não são? – nos “aleje tão dulcemente de rencores y violencias”
Sempre tivemos intimidade para brincar e me recordo de um dia, naqueles tempos em que o senhor defendia a permanência provisória de Pedro Malan e Armínio Fraga no comando da economia, como forma de dar ao “mercado” a tranquilidade com a mudança de governo da sua cara de espanto quando, imitando a voz do velho Brizola, perguntei se o senhor conhecia a “Síndrome de Estocôlmo”, assim mesmo, com o O fechado como ele falava, que era aquela onde o sequestrado se apaixonava pelo sequestrador.
Era sério, mas demos boas risadas, que a alma leve é privilégio dos homens de bem.
Hoje, porém, não dá para dar risada.
Não vou tratar como piada a ida de Alexandre Frota ao Ministério da Educação entregar, segundo ele disse “uma pauta para a educação” no Brasil, na qual destaca-se uma baboseira chamada “escola sem partido”, que diz que é para impedir a doutrinação e é para estabelecer a discriminação ideológica nos colégios e universidades.
Aquela que eu, como aluno de escolas públicas e o senhor, como aluno e depois professor, também viu. Aquela que jogou pelos caminhos do mundo, no exílio, o nosso querido Darcy Ribeiro, que sabia conviver com os índios, mas não com os selvagens de paletó e gravata.
É este o Governo que, infelizmente, o seu voto no Senado ajudou a instalar, o que não ouve as ideias generosas, mas está aberto a ouvir e acumpliciar-se às mesquinhas, encarnadas num sujeito que se notabilizou, na horizontal e na vertical, por transformar em brutalidade o que deveria ser o gesto mais delicado a unir pessoas.
Não vou condená-lo ainda ao desprezo, que é a morte em vida, Senador, porque me lembro do que dizia Brizola ser um direito humano: o de mudar.
Mas vou esperar que, diante desta bofetada em sua causa – na nossa causa – a da Educação, o senhor anuncie que seu voto será não ao impeachment e não a este destino inglório do MEC. Que já foi ocupado por gente conservadora, como Gustavo Capanema, mas decente.
E e espero para já, senador, porque a cabeça pode se confundir, mas o estômago sente na hora o que está estragado e podre.
Talvez aquele senhor musculoso e brucutu não saiba, mas não fez até hoje nenhuma cena mais pornográfica que a de hoje, “entregando propostas” ao Ministro da Educação.
Espero, de coração, que o senhor, a esta altura da vida, não se preste a ser ator coadjuvante de Alexandre Frota.
Sempre tive carinho e amizade pelo senhor e sei que a recíproca sempre foi verdadeira nos muitos anos em que convivemos no PDT.
Sei também das mágoas que guarda em relação ao PT e a Lula. Todos sempre temos algumas e benditos aqueles que conseguem praticar os versos da Violeta Parra e deixam que o amor – e as causas são amores, não são? – nos “aleje tão dulcemente de rencores y violencias”
Sempre tivemos intimidade para brincar e me recordo de um dia, naqueles tempos em que o senhor defendia a permanência provisória de Pedro Malan e Armínio Fraga no comando da economia, como forma de dar ao “mercado” a tranquilidade com a mudança de governo da sua cara de espanto quando, imitando a voz do velho Brizola, perguntei se o senhor conhecia a “Síndrome de Estocôlmo”, assim mesmo, com o O fechado como ele falava, que era aquela onde o sequestrado se apaixonava pelo sequestrador.
Era sério, mas demos boas risadas, que a alma leve é privilégio dos homens de bem.
Hoje, porém, não dá para dar risada.
Não vou tratar como piada a ida de Alexandre Frota ao Ministério da Educação entregar, segundo ele disse “uma pauta para a educação” no Brasil, na qual destaca-se uma baboseira chamada “escola sem partido”, que diz que é para impedir a doutrinação e é para estabelecer a discriminação ideológica nos colégios e universidades.
Aquela que eu, como aluno de escolas públicas e o senhor, como aluno e depois professor, também viu. Aquela que jogou pelos caminhos do mundo, no exílio, o nosso querido Darcy Ribeiro, que sabia conviver com os índios, mas não com os selvagens de paletó e gravata.
É este o Governo que, infelizmente, o seu voto no Senado ajudou a instalar, o que não ouve as ideias generosas, mas está aberto a ouvir e acumpliciar-se às mesquinhas, encarnadas num sujeito que se notabilizou, na horizontal e na vertical, por transformar em brutalidade o que deveria ser o gesto mais delicado a unir pessoas.
Não vou condená-lo ainda ao desprezo, que é a morte em vida, Senador, porque me lembro do que dizia Brizola ser um direito humano: o de mudar.
Mas vou esperar que, diante desta bofetada em sua causa – na nossa causa – a da Educação, o senhor anuncie que seu voto será não ao impeachment e não a este destino inglório do MEC. Que já foi ocupado por gente conservadora, como Gustavo Capanema, mas decente.
E e espero para já, senador, porque a cabeça pode se confundir, mas o estômago sente na hora o que está estragado e podre.
Talvez aquele senhor musculoso e brucutu não saiba, mas não fez até hoje nenhuma cena mais pornográfica que a de hoje, “entregando propostas” ao Ministro da Educação.
Espero, de coração, que o senhor, a esta altura da vida, não se preste a ser ator coadjuvante de Alexandre Frota.