Temer: si tacuisses, philosophus mansisses
Reprodução: Joaquim de Paula
Por Epaminondas Demócrito d'Ávila, jurista, filósofo e professor emérito:
"Com latim, florim e rocim,
Andarás mandarim"
(Provérbio português de tempos imemoriais:
da Idade Média, que no Brasil não acaba)
Bacharéis adoram latim.
Vai aqui um pouco de latim para o Bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais (sociais?) Michel Temer, que hoje erigiu um monumento à sua insensibilidade social, um "monumentum aere perennius" (mais perene do que o bronze": Horácio: Odes III 30, 1). O "Jornal do Brasil" informa: "Nesta quinta-feira (5), depois de classificar a tragédia como “acidente pavoroso”, Temer mudou a mensagem em sua conta no Twitter para “terrível episódio".
A emenda ficou pior do que o soneto.
De início, o mutismo presidencial: eloquente. Confirmou o aforismo do grande escritor polonês Stanisław Jerzy Lec: "Até o seu silêncio continha erros de linguagem."
Depois, a desclassificação da chacina como "acidente": um acinte aos mortos e seus familiares, uma bofetada na cara do cidadão que, apesar de Temer "et caterva" (= e o bando, a de Padilha (segundo ACM), la pandilla, como dizem os espanhóis) ainda não abriu mão do raciocínio. Temer agora muda a semântica de "acidente". Um jênio, diria PHA.
Por fim, a tradução para a banalidade: "terrível episódio". O Conselheiro Acácio não diria melhor.
Boécio, filósofo romano do início do séc. VI, já deu o conselho em "A consolação da filosofia" (II 17):
"Si tacuisses, philosophus mansisses": "Se tivesses ficado calado, terias continuado filósofo."
Tivesse Michel Temer continuado no seu silêncio, teria, no máximo, sido confundido com um filósofo.
O problema é que esse bacharel tabaréu é Presidente da República.
Adaptemos, pois, a 1ª Catilinária de Cícero:
"Quo usque tandem abutere, Temer, patientia nostra?" - "Até quando, Temer, abusarás da nossa paciência?"