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Trabalhador brasileiro ganha menos que chinês

"Reforma" trabalhista o devolverá à Escravidão - PHA
publicado 03/07/2017
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O Conversa Afiada reproduz trechos de entrevista concedida por Márcio Pochmann, professor da Unicamp e presidente da Fundação Perseu Abramo, a Sergio Lirio, na CartaCapital:

CC: A promessa dos apoiadores do impeachment é que a derrubada de Dilma Rousseff imediatamente estimularia a confiança dos empresários e reacenderia o “espírito animal” dos investidores. O que aconteceu?

MP: Como ter confiança? As reformas em tramitação no Congresso prolongam a insegurança jurídica. Vamos partir do pressuposto de que teremos eleições no próximo ano. As reformas estarão na pauta do debate eleitoral. Quem garante que o vencedor em 2018 não irá reformar as reformas? Tenho conversado com muitos empresários e eles expressam preocupação com, por exemplo, a lei de terceirização. Muitos acham que ela é ruim, mal elaborada. E se perguntam se não irão gerar um contencioso para o futuro se um próximo presidente revisar a legislação. Não vejo como as reformas garantirão a previsibilidade necessária para estimular os investimentos privados.

(...) 

 CC: O trabalhador brasileiro é caro como se diz?

MP: O custo do trabalho no Brasil até 2014 era 20% maior do que na China. Repetia-se o mantra de que era impossível competir com os chineses por causa disso. A partir de 2016, a mão-de-obra na China passou a custar 16% mais do que aqui. Igualmente até 2014, um trabalhador brasileiro custava um terço do equivalente nos Estados Unidos, atualmente vale 17%. Não há, portanto, como validar o argumento do custo alto da nossa mão-de-obra. O problema da economia é falta de demanda no mercado interno. O Brasil está sem rumo, os empresários não sabem o que fazer. Na última década, com as mesmas regras trabalhistas em vigor, geramos milhões de empregos.

(...) 

CC: O senhor enxerga algum horizonte de recuperação da economia?

MP: Só vamos ter uma recuperação de fato se mudarmos o eixo da política econômica. O Banco Central acaba de divulgar o relatório trimestral de inflação. Caminhamos rumo a uma depressão, pois deflação é sinal de que a economia não reage. Com o teto de gastos, enxergo um País estagnado, em situação pior do que aquela dos anos 1980. Os problemas sociais tendem a se agravar. O federalismo praticamente desapareceu com a crise nos estados. A maior parte da sociedade é contra o atual governo, contra o modelo econômico, do receituário das reformas. Mas falta articulação, lideranças e um projeto que unifique o campo progressista. Se tivermos capacidade de construir esse projeto, ele será vencedor, em um horizonte muito melhor do que o atual.