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Trajano: Temer é a craca do Jaburu

"Se agarra ao casco de forma patética, mas seu destino é mesmo a lata de lixo da História"
publicado 01/06/2017
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Craca.jpg

Reprodução

Do jornalista José Trajano, em seu blog:

Cracas são pequenos crustáceos que vivem fixados a rochas, conchas, corais, madeiras e outros objetos flutuantes. Até esses tempos medíocres de Michel Temer, as mais famosas cracas do país eram as que vivem agarradas aos pilares da Ponte Rio-Niterói. Houve até mesmo quem acreditasse que elas seriam capazes de corroer as bases de concreto erguidas nos anos 70. Mas, agora, as manobras obscuras e desesperadas de Temer para permanecer no cargo fazem surgir um novo tipo de crustáceo: o presidente da República que, mesmo sabendo que seus dias estão contados, agarra-se ao poder a qualquer preço, na tentativa de ganhar uma sobrevida. Diante dos acontecimentos recentes, como a nomeação de um ministro da Justiça de ocasião, não há qualquer dúvida. Michel Temer é a craca do Palácio Jaburu.

Chega a ser espantosa a ousadia de Temer, em seus movimentos para continuar na Presidência. No julgamento do TSE, depois de nomear dois dos sete ministros, ele alardeia que vai escapar por quatro votos a três. Ou seja, mesmo com todas as provas de irregularidade no financiamento da chapa Dilma-Temer, a maioria do Tribunal votaria contra a impugnação, preservando o mandato de Temer. É bem possível que este seja o resultado do julgamento marcado para o dia 6 de junho. Afinal, quem presidirá a sessão será o ministro Gilmar Mendes, que, além de amigo pessoal de Temer, não costuma dar muita atenção à opinião pública. Gilmar já avisou que não se deve contar com o TSE para resolver a crise política.

Outra frente que ameaça Temer é a dos vários pedidos de impeachment encaminhados à presidência da Câmara. Mas aí sua situação é confortável. Ele tem razão para acreditar que Rodrigo Maia não levará qualquer iniciativa adiante, o que vale, inclusive, para o pedido da Ordem dos Advogados do Brasil que se fundamenta nos fatos, e não nas fitas. Com sua cara de quem tem medo da própria sombra, Maia afirmou que não tem pressa para examinar as petições. Alega preocupação com a governabilidade, quando, na verdade, faz parte do esquema Temer. Vale lembrar que Rodrigo Maia é genro do ministro Moreira Franco, um dos que convenceu Temer a não renunciar. Acima de tudo, Moreira teme perder o foro privilegiado.

Temos então a terceira frente de batalha: o inquérito no STF que investiga se Temer cometeu os crimes de obstrução de Justiça, corrupção ativa e participação em organização criminosa. Neste caso, se tivesse um pouquinho de simancol, ele deveria jogar a toalha e pedir a renúncia antes de passar o vexame da condenação. Pelas decisões do ministro-relator Edson Fachin, fica claro que a batata de Temer está assando. Além de autorizar a PF a interrogar o presidente, Fachin pediu pressa na conclusão do inquérito. Tudo indica que, ao fim do prazo, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, vai apresentar denúncia contra o presidente. Caberá à Câmara examiná-la. Se for aprovada por dois terços dos deputados, a denúncia vai ser apreciada pelo plenário do STF. Se acatada pelo STF, Temer será afastado do cargo por 180 dias. Condenado, perderá o mandato em definitivo.

Não importa qual será o mecanismo, o certo é que Michel Temer vai acabar no lixo da história. Resta saber se a craca do Palácio Jaburu vai se agarrar ao cargo até a última hora.

Em tempo: no fim de setembro, Trajano foi demitido da ESPN Brasil após 21 anos no canal. Em depoimento ao Diário do Centro do Mundo, Trajano afirmou que sua saída se deu por perseguição política, após diversos vídeos em que denunciou o Golpe contra a presidenta Dilma.