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Uma estilista negra no lugar de Donata Guanaes!

Marido publicitário deve ter escrito a carta de "demissão"...
publicado 14/02/2019
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Carol Barreto é designer de moda e doutora pela Universidade Federal da Bahia (Reprodução: Avaaz)

Como a TV Afiada anunciou, a Vogue americana mandou a Donata Guanaes embora da função (sic) de editora de estilo da revista Vogue.

Na carta de despedida, Iaiá Donata disse:

- Aos 50 anos, a hora é de ação (sic). Ouvi muito, preciso ouvir ainda mais. Quero agir em conjunto com as mulheres que têm a me ensinar e com quem estiver disposto a ser elo em uma transformação que se faz necessária. Meu compromisso é me colocar em (re)reconstrução (sic).

É possível que ela quisesse pedir desculpas.

O estilo oblíquo e dissimulado deve ser do marido, o Nizan.

Ao mesmo tempo, nasceu um movimento para indicar a estilista Carol Barreto para o lugar de Iaiá:

Estilista negra Carol Barreto para diretora da Vogue Brasil!


Tomar as riquezas da Casa Grande é uma ação de reparação, principalmente quando se tem todas as condições de gerir essas riquezas de modo a proporcionar igualdade. A Vogue Brasil, ao obrigar a saída de Donata Meirelles da cadeira de diretora de estilo, pode agora fazer com que aquelas que são herdeiras da ancestralidade negra do Brasil retomem seus assentos.

O racismo enquanto elemento que estrutura as sociedades afasta negras e negros dos espaços de prestígio e dos cargos de alto escalão. Para um(a) racista, nada mais exemplar que ser 'desentronada'. Para estes, além de ser flagrada em posturas impróprias, é educador gerar um prejuízo, ferir, em alguma dimensão, os privilégios e os(as) privilegiados(as).

Donata feriu a imagem dos privilegiados quando posou de sinhá e ostentou as negras que lhes serviam. Ultrapassou o limite do “aceitável”, fazendo com que a sua postura racista desnudada não possibilitasse a manutenção dos privilegiados em seus lugares de conforto com o “suave” discurso da democracia racial, de que somos todos(as) iguais.

Não que a branquitude tivesse notado a expressão do racismo naqueles gestos e fotos tão naturalizados ao longo da história do Brasil. Mas as negras e negros que “incendiaram aquele pedaço da Casa Grande” o fizeram com a convicção de que a tomariam de assalto.

E assim faremos! Para a Vogue começar a reparar os danos causados pela saudosista do Brasil Colônia (e apenas começar!) sugerimos que seja colocada uma mulher negra para ocupar a cadeira, que não é e jamais será de “painho”, como quiseram brincar alguns convidados da festa da socialite.

Mais que isso, sugerimos, nesta oportunidade, o nome da nova Diretora da Vogue no Brasil!

Caroline Barreto de Lima - Carol Barreto - é Designer de Moda, Membro de Colegiado do Bacharelado em Estudos de Gênero e Diversidade da Universidade Federal da Bahia, atrelada ao do Núcleo de Estudos Interdisciplinares sobre a Mulher, órgão suplementar da UFBA.

Doutora pelo Programa Multidisciplinar de Pós-Graduação em Cultura e Sociedade - PosCultura - IHAC - UFBA (2015), Mestre em Desenho, Cultura e Interatividade UEFS (bolsista CAPES - 2008) e Especialista em Desenho UEFS (2007), possui graduação em Licenciatura em Letras com Inglês pela UEFS (2004). Integrante da linha de pesquisa Gênero, Cultura e Arte do Núcleo de Estudos Interdisciplinares sobre a Mulher (NEIM/UFBA), tem experiência na área dos estudos de Gênero, Sexualidade, Relações étnico/raciais e Moda, atuando principalmente nos seguintes temas: aparência, cultura, gênero e suas interseccionalidades.

Desenvolve trabalhos relacionados aos processos de redesenho na moda, averiguando as relações entre a linguagem, moda, o vestuário e a construção dos caracteres do gênero e das identidades sexuais. É colaboradora no programa de pós-graduação em Desenho, Cultura e Interatividade da Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS) e graduada em Design de Moda da Unime.

Essa cadeira pertence às negras e negros que construíram e constroem as riquezas do Brasil e que, em virtude do racismo, não participam dos dividendos. Essa cadeira pertence a Carol Barreto, mulher preta que representa a maioria da população brasileira e que nos honra a cada dia que defende a cultura negra no mundo da moda.

Assume, Carol Barreto! A cadeira é sua e você é nossa!

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