Wanderley: a rainha tem grave problema auditivo
Estamos no intervalo dos ex: ex-presidentes, ex-candidatos, ex-jornalistas, ex-economistas, ex-professores, ex-ministros, com discursos mofados e receitas econômicas de macumba
publicado
21/09/2015
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O Conversa Afiada reproduz do blog Segunda Opinião magnífico artigo do professor Wanderley Guilherme dos Santos:
Os tambores (ou surdos?) das mudanças
Enquanto o governo gagueja e a oposição vitupera, o Legislativo se desarranja, o Supremo Tribunal Federal se vulgariza com a loquacidade intempestiva e atitudes desabridas do ministro Gilmar Mendes e a investigação Lava-Jato mantem a política sitiada. Névoa perigosa à frente. As instituições perderam capacidade preditiva, não garantem mais a rotina que as definiam, substituídas por iniciativas individuais de juízes, políticos, policiais, jornalistas, aposentados da fama de outrora, veteranos ou novos provocadores. O tradicional e respeitável espaço público se transforma a olhos vistos na casa da sogra, em que a ignorância faz striptease, a grosseria inventa sapateados e a mediocridade recebe bônus de audiência. Inútil esperar sensatez daqueles que, por sensatez, ou não vão longe ou passaram do tempo. Estamos no intervalo dos ex: ex-presidentes, ex-candidatos, ex-jornalistas, ex-economistas, ex-professores, ex-ministros, com discursos mofados e receitas econômicas de macumba.
A cada dia faz sentido afirmar que, individualmente, não voltaremos a ser os mesmos. É natural. Mas toda cautela ainda não basta quando se trata de instituições políticas, econômicas e sociais. O atual interregno de interrogações não conduzirá à normalidade pretérita. As instituições estão puídas por dentro, mesmo que a casca permaneça viçosa. O tempo de mutação é imprevisível, entregue, em parte, ao milenarismo torquemada de jovens procuradores, em parte a grupelhos desorientados e, não obstante, dogmáticos, e a multidão de siglas que supostamente representa parcelas da opinião pública, mas não passa de um monte de sacos rotos, como diria minha avó, incapazes de ativar apoio efetivo a coisa alguma. Parece um desses momentos em que são todos a favor e todos contra, só que, sempre, a bandeiras diferentes. Em outros tempos, chamava-se a esses momentos de “desinstitucionalização”, mas pode chamar de “luta pela hegemonia” que também serve.
Os peões se tomam por castelos, os bispos por puros-sangue, o rei desapareceu e os castelos são de papel. A rainha tem grave problema auditivo, mas ainda não percebeu.
A cada dia faz sentido afirmar que, individualmente, não voltaremos a ser os mesmos. É natural. Mas toda cautela ainda não basta quando se trata de instituições políticas, econômicas e sociais. O atual interregno de interrogações não conduzirá à normalidade pretérita. As instituições estão puídas por dentro, mesmo que a casca permaneça viçosa. O tempo de mutação é imprevisível, entregue, em parte, ao milenarismo torquemada de jovens procuradores, em parte a grupelhos desorientados e, não obstante, dogmáticos, e a multidão de siglas que supostamente representa parcelas da opinião pública, mas não passa de um monte de sacos rotos, como diria minha avó, incapazes de ativar apoio efetivo a coisa alguma. Parece um desses momentos em que são todos a favor e todos contra, só que, sempre, a bandeiras diferentes. Em outros tempos, chamava-se a esses momentos de “desinstitucionalização”, mas pode chamar de “luta pela hegemonia” que também serve.
Os peões se tomam por castelos, os bispos por puros-sangue, o rei desapareceu e os castelos são de papel. A rainha tem grave problema auditivo, mas ainda não percebeu.