Artistas apresentam Manifesto pela Democracia
"Em nossa democracia corrompida, reina a barbárie!"
publicado
24/04/2018
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O Conversa Afiada compartilha com seus leitores o Manifesto "A Democracia Corrompida" contra a judicialização da política, o desrespeito à Constituição e o autoritarismo.
O documento já foi assinado por mais de 700 diretores, atores e técnicos do cinema e televisão, como Ruy Guerra, Luiz Carlos Barreto, Marieta Severo, Andrea Beltrão, Walter Lima Junior, Letícia Sabatella, Matheus Nachtergale, Laís Bodansky , Caco Ciocler, Sergio Machado, Maria de Medeiros, Daniel Oliveira, Chico Diaz, Fernando Alves Pinto.
A Democracia Corrompida
Este Manifesto surgiu da preocupação de diretores, atores, técnicos com os graves riscos que a Democracia Brasileira está enfrentando frente à judicialização da política, o desrespeito à Constituição de 1988 e o crescimento de movimentos e manifestações autoritárias, violentas e intolerantes. Ele é um chamamento aos democratas para que se manifestem contra qualquer declaração ou ato que ameace a democracia e reafirma as conquistas da Constituição Cidadã de 1988.
Sim, vivemos no país da corrupção. Pois, corrompidas estão a nossa sociedade e o seu sentimento de solidariedade, nossa tolerância com as diferenças e a esperança de nos tornarmos uma nação mais justa e de oportunidades iguais para todos.
Corrompido está o Estado Brasileiro, quando as instituições e as leis republicanas são relegadas, dando lugar a decisões arbitrárias na luta selvagem pelo poder e manutenção de privilégios.
Corrupção é a usurpação não somente de bens materiais, mas também do patrimônio imaterial e dos direitos consagrados na Constituição Cidadã de 1988.
Em nossa democracia corrompida, reina a barbárie por meio da violência física e simbólica contra negros, índios, mulheres, LGBTs, idosos e crianças, notadamente, os mais pobres.
Em nossa democracia corrompida, políticos e empresários corruptos parecem desejar a volta do trabalho escravo e latifundiários expulsam camponeses, chacinam índios e lideranças dos movimentos sociais.
Em nossa democracia corrompida, as mineradoras impunes arruínam rios e cidades enquanto setores do agronegócio avançam sobre as nossas florestas, envenenando a terra e a água com agrotóxicos condenados e causadores de doenças fatais.
Em nossa democracia corrompida, o combate contra a corrupção empreendido pela Lava-Jato se transformou em instrumento de ação política para penalizar alguns em detrimento de outros. Hoje é patente que o julgamento e a prisão açodada do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva se tornou o objetivo primeiro dessa operação que visa retirar do pleito presidencial o candidato preferido nas pesquisas de opinião.
O processo que o condenou é tido por muitos juristas nacionais e internacionais como uma farsa e representa um grave perigo de ruptura da legalidade. O Poder Judiciário hoje julga, prende e liberta de forma seletiva e partidária, dramatiza as suas ações na mídia e ignora a Constituição, ao judicializar a política fazendo desta um caso de polícia.
Hoje reina a confusão entre os poderes da República, fragilizando a democracia brasileira que se submete a pressões de todos os tipos, inclusive de militares e setores autoritários que ameaçam as eleições presidenciais.
Como trabalhadores da cultura não podemos enxergar o cinema desligado da vida e da consciência, nem nos interessa uma estética sem ética. Para nós, o cinema deve ser, sobretudo, uma celebração da liberdade e da vida, sem preconceitos e sem ódios. O cinema é a linguagem de transformação das pessoas através do exercício do lúdico, da criatividade, da emoção e do pensamento.
Como cidadãos e profissionais da área artística e cultural, queremos liberdade, justiça e cidadania plenas e nos colocamos contra a barbárie que no Brasil se instalou, como em um filme de horror.
POR ISSO, CONCLAMAMOS A TODOS QUE SE UNAM EM DEFESA DAS LIBERDADES DEMOCRÁTICAS E DA CARTA MAGNA DE 1988.