Para a integrante da ala de baianas da Vila, Ivonete da Silveira, de 63 anos, foi “excelente” poder ver o reconhecimento de Martinho, que segundo ela, é uma figura importante da escola. A baiana lembrou que é sempre uma emoção desfilar com um samba de autoria dele. “É uma emoção. O coração começa a bater mais forte. A mente fica sem saber o que pensar”, contou, acrescentando, que melhora se vier acompanhado de um campeonato da escola. “Aí fica tudo melhor, fica tudo bem”, disse sorrindo.
Entre os parentes, uma pessoa em especial: dona Elza, a irmã mais velha, que aos 90 anos fez questão de comparecer à cerimônia de entrega do título. E Martinho ficou feliz com a presença dela. “Foi uma surpresa para mim que a substituta da minha mãe, a número 1, como a gente chama, saiu lá de Curicica [bairro da zona oeste] e veio aqui, a Elza, representando toda a minha família”, revelou apontando para a irmã, que estava sentada na primeira fila.
Depois da cerimônia, emocionada, dona Elza falou de Martinho, que para ela é mais que um irmão. “Eu criei ele. Foi criado aqui na minha mão. Trabalhamos muito para criar ele. Ele estudou. Tenho ele como um filho. É uma alegria. Nunca pensei em chegar aos 90 anos”.
Martinho destacou ainda, entre os presentes, o babalaô Ivanir dos Santos e a professora Helena Teodoro, que lançaram a indicação para que ele recebesse o título aprovado por unanimidade pelos colegiados da UFRJ. “Hoje, para mim, é um dia de graça”, apontou o artista.
Na saudação ao homenageado, a professora Carmen Tindó, que apresentou a proposta de concessão do título a Martinho no Conselho Universitário, destacou que a cultura negra está sempre representada nas músicas do artista. Ela lembrou ainda que o artista sempre se posicionou politicamente, inclusive no período da ditadura, como no samba enredo Sonho de um sonho. “E eu cito: ‘Sonhei que estava sonhando um sonho sonhado. Um sonho de um sonho magnetizado. As mentes abertas, sem bicos calados. Juventude alerta e seres alados’. É clara neste fragmento citado, a mensagem poética que sonha um país sem censura”, apontou.
O reitor Roberto Leher afirmou que ter um intelectual do porte de Martinho da Vila nos quadros da UFRJ é muito importante para a afirmação da juventude negra, que tem conseguido cada vez mais espaço na universidade por meio de políticas públicas como as cotas. “É muito importante que esta instituição possa acolher esta juventude, e acolher naquilo que podemos dar de melhor, que é o conhecimento”, disse.
O homenageado está bem consciente dessa referência, não só para a juventude negra, mas para a sociedade brasileira. “É um título que tem muita representatividade e muito significado. Então, aumenta muito a responsabilidade. Não posso abandonar a luta e dizer agora vou descansar. Não posso. E também honrar essa universidade. Eu tenho uma certa presença por aqui e eles sentem que sou parte da turma, mas é uma emoção só”, afirmou, depois da cerimônia cercado de amigos.
“São tantos amigos e de várias áreas. Foi uma sessão solene acadêmica que era bem mista. Velha guarda da Vila Isabel, gente da Portela, músicos, artistas, intelectuais. Tudo misturado”. A cerimônia, que tinha começado com o Hino Nacional cantado por Martinho da Vila e, em alguns trechos, com acompanhamento próximo do samba, terminou com um show do grupo de se apresenta com o cantor pelo mundo afora.