A classe “C” não quer ser “A”. Quer ser ela mesma, o vizinho
O Conversa Afiada tem o prazer de reproduzir (com uma certa liberdade ...) a entrevista que Renato Meirelles, sócio-diretor do Instituto Data Popular, deu à RecordNews e será exibida nesta terça-feira, às 21h15.
São três as razões que explicam por que as classes “C”, “D” e “E” vieram para ficar – explicou o Meirelles.
Primeiro, o “bônus demográfico”: mais gente que produz do que gente que gasta sem produzir. Ou seja, quando há mais pessoas em idade de trabalhar do que idosos e crianças.
As classes “C”, “D” e “E” se beneficiam deste “bônus”.
As classes “A” e “B” têm mais idosos e crianças do que gente em idade de trabalhar e produzir.
Segundo, é a lei do “vamos em frente que atrás vem gente”.
Quem passou a dar iogurte ao filho não quer voltar a dar leite C.
As classes “C”, “ D” e “E” não querem voltar pra trás.
E querem consumir.
Eles seguiram a sugestão do Lula, quando houve a crise de 2008, aquela crise da urubóloga Miriam Leitão, e o Lula mandou o povo “gastar !”.
O povão foi lá e gastou.
E tem mais: se aparecer um governante que queira mudar as regras do jogo e obrigar a classe “C” a reduzir o padrão de consumo, o eleitor vai lá e troca de governante.
Terceiro, as chamadas condições “macro-econômicas”, ou como dizia este ordinário blogueiro, como “o Lula vai pendurar o FHC no pescoço o Serra”.
O aumento real do salário mínimo.
A distribuição de renda.
O Bolsa Família, que joga todo ano R$ 12 bilhões na economia e beneficia 45 milhões de pessoas.
O programa “Minha Casa Minha Vida”, por exemplo, observou o Meirelles.
É importante não só porque dá acesso à casa própria, mas porque emprega mão de obra das classes “C”, “D” e “E”.
Resultado: sete de cada dez cartões de crédito são de pessoas das classes “C”, “D” e “E”.
E a inadimplência no cartão está em queda.
Em resumo, diz o Meirelles, o voto obrigatório ajuda a classe “C”.
Clique aqui para ler sobre a entrevista que este ordinário blogueiro também fez para a RecordNews com o professor Durval Albuquerque: “o PiG engrossa o preconceito contra o nordestino”.
Classe “D” é aquela que tem renda mensal entre um e três salários mínimos.
A classe “D” tem um poder de consumo maior do que o da classe “A” e o da “B” – só perde para a “C”.
As classes “C”, “D” e “E” são mais jovens que as classes “A” e “B”.
Para cada adulto da classe “A” há 4 das classes “C”, “D”, e “E”.
Para cada criança da classe “A”, há 10 – veja bem, amigo navegante, 10 para as classes mais pobres.
Na classe “C”, 50% são não-brancos.
Na classe “D”, não-brancos são mais de 50%.
Pergunto ao Meirelles se a indústria da publicidade do Brasil sabe dessas coisas.
Não, ele diz.
A maioria dos publicitários vem da elite e tende a fazer publicidade com o público de classe “A” e “B” na cabeça.
Eles não gostam de rap, não frequentam Orkut.
Meirelles vai mais longe: a publicidade brasileira acha brega a alegria, o colorido, o barulho, a extravagância, o São João, o exagero, Carnaval, o frevo, o artesanato popular das classes “C”, “D” e “E”.
Mas, as grandes empresas começaram a se mexer em direção à base da pirâmide de renda.
A Nestlé passou a vender porta-a-porta.
Qual a vantagem disso ?
No supermercado, ninguém explica as características do produto.
O vendedor na porta de casa, não: ele conhece o que vende.
A TAM passou a vender passagens nas Casas Bahia.
Até julho de 2011, em doze meses 8,7 milhões de passageiros das classes “C”, “D” e “E” vão viajar de avião.
Que horror, diria o Jabor (a observação foi do entrevistador e, não, do entrevistado).
E quem vai viajar ?
O migrante que vai do Sul, Sudeste para visitar a família no Nordeste.
Sabe quantos migrantes nordestinos moram na Grande São Paulo, Paulo Henrique ?, perguntou o Meirelles.
Sabe ?, amigo navegante ?
São migrantes: não são filhos de migrantes.
Sabe quantos ?
5,5 milhões !
É a maior cidade nordestina do Brasil.
São Paulo é a maior cidade nordestina do Brasil e não sabe (ou não quer saber – diz este ordinário blogueiro).
E os publicitários pensam que os Jardins ficam perto da Avenida Paulista.
E se esquecem do Jardim Ângela, diz o Meirelles
E do Jardim Romano, lembrou este ordinário blogueiro.
(Jardim Romano é aquele que a inépcia do Serra deixou alagado uns seis meses – PHA).
E quem é o “tipo ideal” da classe “C” e “D” ?
Quem eles querem imitar ?, perguntei.
A classe “A” ?
Negativo !, respondeu o Meirelles.
Eles não querem ser ninguém.
Querem ser eles mesmos.
Eles não querem imitar a classe “A”.
Eles querem ser o vizinho que deu certo !
Resumo da história, segundo o Meirelles: empresa que não for líder nas classes “C” e “D” dança.
Em tempo: este ordinário blogueiro lembrou que, durante a campanha, dizia que o Serra e o FHC pensam que “classe “C” fica entre a Executiva e a Primeira.
Paulo Henrique Amorim