A maior virtude de Tombini: não é banqueiro
Saiu no Estadão:
‘É o momento adequado para encerrar a missão’, diz Meirelles
Ele confirmou que deixará a presidência do BC; fontes do governo dão como certa a nomeação de Tombini para o cargo, mas o atual dirigente alegou que ainda não há indicação oficial
24 de novembro de 2010 |
Adriana Fernandes, Célia Froufe e Fernando Nakagawa, da Agência Estado
BRASÍLIA - O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, afirmou nesta quarta-feira, 24, que deixará o cargo. "Acredito que um profissional deve iniciar e concluir sua missão na hora certa", disse ele, durante entrevista coletiva na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado. Meirelles lembrou que regras prudenciais aconselham que um presidente do BC não fique mais do que dois mandatos à frente da autoridade monetária, o que, no Brasil, coincide com o mandato do presidente da República. "É o momento adequado para encerrar a missão."
Sobre Alexandre Tombini:
Gaúcho de Porto Alegre hoje com 46 anos, Tombini tomou posse como concursado no Banco Central em 1995, mas tem cargos de chefia no governo desde setembro de 1991, primeiro no Ministério da Fazenda, depois na Casa Civil e finalmente no BC.
Ao longo desse período, participou de ao menos três episódios que ajudaram a definir a atual linha de atuação do Banco Central: a implantação do Plano Real, a elaboração do sistema de metas de inflação e a regulação do sistema financeiro -este último um assunto muito em voga depois da crise internacional.
Na área acadêmica, tem graduação em economia pela Universidade de Brasília e é PhD pela de Illinois, nos Estados Unidos. Lecionou por dois anos letivos na mesma instituição em que colou grau, de 1994 a 1995.
Ele também tem passagem pela representação brasileira no Fundo Monetário Internacional (FMI), de 2001 a 2005, em Washington, EUA.
De Itamar a Lula
O papel de Tombini na implantação do Plano Real veio na forma de negociador externo. Em 1994, na Secretaria de Política Econômica do Ministério da Fazenda, ele reduziu restrições às importações (processo que ele herdou do governo Collor) e ajudou a costurar a Tarifa Externa Comum (TEC) dos países do Mercosul - Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai.
"Ele fez a ligação entre a TEC e o Plano Real", diz um colega de ministério à época, lembrando que a abertura comercial foi "uma das pernas" do projeto de estabilização da economia.
Quatro anos mais tarde, em 1999, Tombini, no BC, desenhou o sistema de metas de inflação junto com o economista Sérgio Werlang, então diretor de Assuntos Econômicos da instituição. Foi nessa época que ele participou da formulação da estrutura regulatória do sistema financeiro que o País tem hoje.
Em boa hora, a presidente Dilma Rousseff restabeleceu uma tradição: presidente do Banco Central é técnico.
Não deve ser banqueiro.
Os governos do regime militar fundaram e deram, na prática, autonomia – como têm hoje – ao Banco Central.
E mandavam para lá técnicos: nunca, um banqueiro.
Denio Nogueira, Rui Leme, Ernâne Galvêas, Paulo Lira, Carlos Langoni e Affonso Pastore.
Se, depois, foram servir a banqueiros, são outros quinhentos.
Não sentaram lá na condição de banqueiros.
Como Armínio Fraga, operador do George Soros.
Como Henrique Meirelles, que chegou lá como presidente mundial do BankBoston.
E como tal se portou, em boa parte de seu governo.
Lula quase mandou Meirelles embora.
E deveria ter mandado.
Foi logo após a crise do Lehmann Brothers, quando, contra todas as indicações técnicas, Meirelles aumentou os juros.
Luiz Gonzaga Belluzzo e Alexandre Tombini quase tomaram o lugar dele.
E é uma pena que isso não tenha acontecido.
Agora, recentemente, Meirelles deu uma de Alan Greenspan, clique para ler.
Justificou que o PanAmericano tenha quebrado sob os bigodes dele, com a mesma explicação que o Greenspan deu para explicar por que não impediu a quebra dos bancos americanos: porque confiou na capacidade de auto-regulação dos acionistas controladores (rsrsrsrs).
Por alguns dias, quando deu um ultimato à Dilma (“só fico para ser independente”), Meirelles pousou – ao lado do PiG (*) – de salvador da Pátria.
O Estadão e o “mercado” chegaram a “peitar a Dilma” – clique aqui para ler.
É outro salvador da Pátria que a Dilma manda para casa (o outro o Padim Pade Cerra).
Outra revolução silenciosa da presidente Dilma Rousseff seria mandar para o Ministério das Comunicações o primeiro ministro que não fosse “assim” com Globo. Alguém que não chamasse o Senador Evandro Guimarães de “Evandro”.
Paulo Henrique Amorim
(*) Em nenhuma democracia séria do mundo, jornais conservadores, de baixa qualidade técnica e até sensacionalistas, e uma única rede de televisão têm a importância que têm no Brasil. Eles se transformaram num partido político – o PiG, Partido da Imprensa Golpista.