Agnelli da Vale se tornou um dogma teológico
O Valor informa na primeira página que Lázaro Brandão, do Bradesco, e o ministro Guido Mantega combinaram que Roger Agnelli será substituído por um funcionário da Vale que não professe a mesma religião do Agnelli.
A teologia do Estado pequeno.
Agnelli é um executivo profissional.
Fez carreira no Bradesco e pode fazer na VIVO, na VISA, na VIACOM e na Votorantim – para ficar na letra “V”.
É uma categoria de curso internacional.
Maximiza lucros para o patrão – os acionistas controladores – e os bônus (próprios).
No caso do Brasil há uma singularidade.
No imaginário político e na História Econômica, a Vale se opôs à Petrobrás.
As duas nasceram do cérebro do estadista Getulio Vargas.
Representaram o melhor instrumento que a Nação brasileira encontrou para explorar suas reservas minerais: o ferro e o petróleo.
Aí veio o Governo neoliberal do Farol de Alexandria.
Onde se professou a teologia que os Chicago Boys do Pinochet transformaram num Evangelho.
Por insistência do Padim Pade Cerra – clique aqui para assistir a vídeo histórico, em que FHC confessa que não resistiu à pressão do Cerra -, o Farol de Alexandria vendeu a Vale por um preço obscenamente baixo.
Compraram – por esse preço de casca de banana - o Bradesco, uma trading japonesa, a Mitsui (que quer que o Brasil se afunde, desde que ela venda minério de ferro à China), o BNDES e fundos de pensão dos funcionários de empresas estatais.
A Vale foi semi-privatizada, na verdade.
Porque os interesses do Estado ainda estão lá dentro.
Aí, o executivo Agnelli passou a fazer – como fazem eles todos, os executivos bem sucedidos – um trabalho impecável de relações públicas.
Não para a Vale, que não precisa gastar um tusta em anuncio ou em relações públicas.
Mas, em beneficio dele e da carreira dele.
E se transformou, como dizem os colonistas (*) do PiG (**) num “ícone” da boa gestão, da transparência, da visão não-estatal dos negócios.
Um evangelista do neoliberalismo.
(Como se sabe, um dos gurus do Ronald Reagan dizia: precisamos reduzir o Estado a tal ponto que seja possível afogá-lo numa banheira.)
O Conversa Afiada prefere dizer que Agnelli se tornou o “quindim de Iaiá” do PiG (**).
Ganhou todos os prêmios.
Saiu nas primeiras páginas mais do que a turma que o Bial dirige num certo período da programação da Globo.
É um pop star.
Como foi Jack Welch, presidente da General Electric, que se tornou um símbolo da boa gestão de uma empresa privada americana.
Welch foi, sim, o que o capitalismo americano produziu de melhor: empreendedor, carismático: primeiro o lucro, segundo o bônus.
Welch demitiu 128 mil funcionários da GE.
Era o administrador implacável.
Os funcionários morriam de medo dele.
Só pensava em eficiência, resultado, lucros, bônus.
Ai a empresa descobriu que ela tinha incluído entre seus “benefícios” pessoais o uso de 5 jatos particulares, uma mesada para comprar flores do apartamento que a empresa alugou para ele em Nova York, tickts para assistir a jogos de beisebol e boca livre num restaurante do prédio em que morava.
Welch criou o lema: “peça demissão e vá trabalhar”.
A GE sugeriu que ele pedisse demissão.
Ele levou para casa, de indenização, US$ 90 milhões de dólares.
No auge da crise americana de 2008, Agnelli também decidiu mandar pedir demissão e fazer trabalhar mais de mil funcionários da Vale.
Para maximizar lucros do Bradesco e da Mitsui, ele comprou navios na Ásia.
E cometeu o pecado que a revista Economist identificou: tornou a Vale uma empresa de um produto só (ferro) e de um cliente só (a China).
O Farol de Alexandria quase consegue tornar a Petrobrás numa Petrobrax para vender o pré-sal à Chevron do Cerra.
Clique aqui para ver que FHC não desiste: ele ainda quer vender o pré-sal.
E aqui para ver o que WikiLeaks mostrou: como o Cerra ia rasgar o regime de partilha do pré-sal para entregar à Chevron, por um preço ainda mais apetitoso que o da Vale.
Por causa desta polarização – Vargas x Fernando Henrique -, o PiG opôs a Vale à Petrobrás, sistematicamente.
A Vale é a GE do Jack Welch – um “ícone” da boa gestão capitalista, inspirada nos princípios do “mercado”.
E a Petrobrás, a única empresa de petróleo ineficiente do mundo.
Se Agnelli é o quindim de Iaiá, o Gabrielli é o Satanás da Bahia.
A propósito, leia aqui quanto a Petrobrás vai investir este ano e quanto comprará de empresas brasileiras.
Ou seja, a política da Petrobrás é outra: estimular a indústria da construção naval do Brasil, como faz no Rio Grande do Sul, em Pelotas, no Rio e em Suape.
E não comprar navios na Ásia.
É uma diferença substancial.
O Agnelli estimulou a criação de empregos na Ásia e reforçou o seu, na Vale.
Agnelli vai embora.
Como diz aquele amigo meu, português:
“Oh, pá. Então tens uma empresa que faz até hoje o que nós faziamos quando aqui chegamos: tira minério do sub-solo e vende lá fora ?
E ainda dizem que o gajo é um portento ?”
Mas, não tem problema.
Welch saiu às pressas da GE, como rei da boquinha e abriu uma consultoria.
E vive numa boa, com uma pensão anual de US$ 9 milhões – paga pelos acionistas da GE.
Esses executivos não perdem tempo.
Agnelli, peça demissão e vá trabalhar, diria o Agnelli americano.
Em tempo: este ansioso blogueiro é acionista da Vale e torce há muito tempo para que o Agnelli vá embora.
Em tempo2: não foi o Johnbim que disse, ao tomar posse, “lidere ou saia da frente” ? Esse é outro que podia pedir demissão e ir trabalhar.
Paulo Henrique Amorim
(*) Não tem nada a ver com cólon. São os colonistas do PiG (**) que combateram na milícia para derrubar o presidente Lula e, depois, a presidenta Dilma. E assim se comportarão sempre que um presidente no Brasil, no mundo e na Galáxia tiver origem no trabalho e, não, no capital. O Mino Carta costuma dizer que o Brasil é o único lugar do mundo em que jornalista chama patrão de colega. É esse pessoal aí.
(**) Em nenhuma democracia séria do mundo, jornais conservadores, de baixa qualidade técnica e até sensacionalistas, e uma única rede de televisão têm a importância que têm no Brasil. Eles se transformaram num partido político – o PiG, Partido da Imprensa Golpista.