Economia

Você está aqui: Página Inicial / Economia / 2011 / 12 / 30 / Nakano na Carta dá uma aula à Urubóloga

Nakano na Carta dá uma aula à Urubóloga

Em entrevistal, o respeitado economista Yoshiaki Nakano desmonta a lógica colonial do pensamento Neolibelês.
publicado 30/12/2011
Comments

Em entrevista à Carta Capital, o respeitado economista Yoshiaki Nakano desmonta a lógica colonial do pensamento Neolibelês (*) da Urubóloga e explica por que o Brasil vai dar certo.

Não perca !

É uma aula !

(Nakano, aqui,  trata das "metas de inflação" e desmonta pauzinho por pauzinho a "lógica" neolibeles (*) da Urubóloga, que reproduz com fidelidade os neolibelês que entrevista.)

Yoshiaki Nakano: Precisa olhar para a inflação do ano que vem, olhar lá para frente. Se você pegar a inflação mais contemporânea, vai ver que está dentro da meta, mas todo mundo continua gritando. Esse é um grande erro conceitual. Você vai perguntar por que se manteve esse sistema. Por uma razão muito simples. Se você olha para 12 meses, a inércia da taxa acumulada é muito maior do que a de cada mês. E o que acontece? Se a inércia é grande, precisa manter os juros altos por um período maior. E há ainda outra razão. Para os juros altos terem uma inércia muito grande no Brasil é que existe esse sistema de metas, que eu espero que o BC tenha realmente resolvido mudar. Particularmente porque o Tombini não é banqueiro, ele é economista. Se é economista, tem de minimamente entender o que é meta de inflação. Se você está olhando para frente, a sua reação não é atrasada. No Brasil, sistematicamente, quando a inflação de 12 meses sobe, a reação já está muito atrasada, porque você tinha de estar olhando lá para frente. E se você tem uma reação atrasada lá para trás, na hora de abaixar você também se atrasa. Acho que o BC, em 31 de agosto, rompeu com esse paradigma errado, incorreto, absurdo que tinhamos. E está se tornando mais prospectivo e mais ágil. E a inflação nos próximos meses acumulada vai cair porque está saindo (do índice acumulado de inflação) um outubro (de 2010) de 0,77% e entrando um outubro de 0,40%. Então vai cair nos 12 meses (acumulados). E isso, por razões erradas, acalmou o mercado também. O BC para mim agora está ganhando independência e autonomia. Porque a autonomia do BC não é só em relação à classe política, é em relação também ao mercado. Por isso é que o mercado chiou, um monte de artigos e gente dando entrevista dizendo que o BC tinha quebrado um protocolo. O que é o protocolo? Os economistas de banco projetam "tá, tá, tá", o tesoureiro de banco toma uma decisão e aí o jornal publica uma pesquisa das instituições financeiras mais importantes. Um aposta que (o corte dos juros) vai ser de 0,25%, outro de 0,50%. Qual a maioria? (Digamos) 0,50%. O BC ia e abaixava 0,50%. Só depois de agosto, pela primeira vez, pegou quase todo mundo de surpresa. Porque aquele sistema em que o mercado impunha uma sistemática ao BC foi rompido.


CC: Acabou a moleza?

YN: Não, não, o mercado se adapta rapidamente. Começa a olhar para frente também.


CC: O senhor está otimista com 2012?

YN: Estou, mas lógico que para ficar otimista é preciso fazer aquelas mudanças que eu disse (desindexar a economia, melhorar a gestão pública, reduzir o Custo Brasil). Se fizermos essas mudanças, o Brasil poderia entrar em uma situação parecida com todas as crises internacionais anteriores. É muito interessante observar o seguinte na história do Brasil. O Brasil de certa forma deslanchou nas últimas décadas do século XIX. Criou-se então um projeto para construir uma sociedade moderna, urbana. Foi a crise dos anos 1880 que gerou migração, resolvendo os problemas que permitiram o início da industrialização. Durante a Primeira Guerra, expandimos; durante a Segunda Guerra, expandimos. Com a crise de 1930, finalmente mudamos o polo de crescimento, do dinamismo de fora de uma economia exportadora, e nos industrializamos. Então o Brasil foi bem nos momentos de crise. A lógica disso é complexa, mas muito evidente e clara.


CC: Qual é essa lógica?

YN: O Brasil ainda tem uma mentalidade colonial, valorizamos aquilo que é do exterior, do Primeiro Mundo. Nós não pensamos com a nossa cabeça, importamos as coisas etc. e particularmente as ideias. Quando o mundo entra em crise, entra em crise todo um modelo, todo um pensamento, todo um conjunto de ideias. A teoria econômica, ortodoxa, convencional, prevalecente entrou em declínio. Então, o que é preciso fazer nos momentos de crise? O Brasil precisa pensar com a própria cabeça e olhar para dentro. Aí você vai descobrir que tem potencial de crescimento, problemas que precisam ser resolvidos, e deixa de olhar para uma miragem. Aquilo em que eles acreditam e desenvolvem vale para eles, não para nós. Então você tem nesses momentos de crise internacional um momento de crise também do pensamento econômico, de um modelo econômico, da estratégia de crescimento daqueles países... Hoje ninguém está querendo copiar alguma coisa da Europa ou dos EUA, que estão em crise em termos de pensamento. Então você vai ter de pensar com a própria cabeça. Essa é a grande mudança que permitiu ao Brasil avançar. Você deixa de priorizar a globalização e passa a priorizar os problemas de interesse doméstico. E enfrentar os problemas domésticos mais para valer. Porque o dinamismo não vai mais vir de fora, tem de ser aqui de dentro. E aquelas coisas de Consenso de Washington... isso já foi lá pra baixo. Então, na verdade, essa crise está derrubando um tipo de hegemonia política e ideológica de um pensamento que existiu. Isso abre espaço para você pensar o País.


CC: E como o senhor avalia o pré-sal?

YN: Neste contexto atual de crise, talvez seja muito importante. Agora tem outro fator, que é também muito importante e foi importante na transição de que falamos, do fim do século XIX e início do XX, para finalmente mudar o modelo em 1930. É que os países emergentes estão crescendo. Os países desenvolvidos é que vão declinar. E a estagnação, a crise dos países desenvolvidos, já está gerando imigração. A imigração não vai vir dos desempregados do mundo emergente, mas de gente qualificada do mundo desenvolvido, e isso já está acontecendo. Sei de empresas que estão trazendo engenheiros de Portugal, da Espanha. Então o nosso problema de qualificação vai ser resolvido pela vinda eventualmente de imigrantes, de gente qualificada. E isso vai obrigar os brasileiros a reagir. Se você demanda aprendizagem, as instituições que conseguem fazer o aluno aprender vão ser valorizadas. As que não fazem isso vão lá pra baixo. Esse pode ser um fator que dê impulso à produtividade e eficiência no Brasil. Essas coisas acontecem nesses momentos de crise, como aconteceu na década de 1870, em geral na Europa, a vinda maciça de imigrantes. E lógico que aí você precisa reduzir a burocracia de imigrantes no Ministério do Trabalho, que é um absurdo.


CC: o senhor acredita que a inclusão das classes emergentes tem fôlego para se manter nos próximos anos?

YN: Acho que tem. Na verdade, acho que o fundamental não foram os programas sociais. O que os programas fizeram foi importante, não estou desmerecendo. Mas o fundamental foi a mudança demográfica. Lá na década de 1970, a taxa de natalidade começou a cair. No inicio da década de 1980, já caiu. E a partir de 2004, a população jovem, de 18 a 24 anos, em termos absolutos começou a cair. Tinha 35 milhões, hoje deve ser de 33 milhões ou 32 milhões. A populacão está envelhecendo. Então é na base da pirâmide que o salário, está subindo. Acho que a imigração vai vir, mas não vai reduzir o salário porque vai vir gente de nível mais elevado e que tem salários melhores. Os emergentes também estão crescendo e têm essa imigração para disputar. Essa mudança demográfica mudou a dinâmica do mercado de trabalho. Em um conjunto enorme de setores, corno o custo de mão de obra era tão baixo, contratava-se gente muitas vezes de maneira informal. Agora teve não só de formalizar como pagar mais, então passa a ter a preocupação com produtividade. Basta ver o que acontece no mercado da construção. Se olhássemos uma obra, a ineficiência saltava aos olhos, viam-se trabalhadores tropeçando uns nos outros. As empresas agora têm de pagar mais, tem de ter menos gente, e vai ser necessário incorporar tecnologias com maior produtividade. E isso já está acontecendo. Prédios que levavam quatro anos para ser construídos agora são erguidos em 20 meses. Lá fora, constrói-se em seis meses. Esse tipo de avanço tecnológico está vindo e virá para todos os setores. Empresário que é empresário vai olhar e ver que existe um monte de oportunidades que ele pode fazer. O cara que estava despreocupado com inovação, que reclamava que o trabalhador custa caro, vai ver que não adianta, se ele não pagar mais não consegue.


(*) “Neolibelê” é uma singela homenagem deste ansioso blogueiro aos neoliberais brasileiros. Ao mesmo tempo, um reconhecimento sincero ao papel que a “Libelu” trotskista desempenhou na formação de quadros conservadores (e golpistas) de inigualável tenacidade. A Urubóloga Miriam Leitão é o maior expoente brasileiro da Teologia Neolibelê.