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Bradesco desafina no coral. Compre, Brasil !

Saiu na newsletter do Bradesco alentado artigo do Economista-Chefe do Bradesco, Octavio de Barros.
publicado 03/01/2012
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Saiu na newsletter do Bradesco alentado artigo do Economista-Chefe do Bradesco, Octavio de Barros.

Barros é um dos mais respeitados economistas brasileiros.

O Bradesco, uma minúscula casa bancária com sede numa ignota Cidade de Deus, em Osasco, São Paulo.

Um e outro - Barros e Bradesco - não podem brincar em serviço.

Não podem dizer qualquer coisa.

Não são impunes, como os colonistas (*) do PiG (**).

Leia os trechos que concluem o trabalho do Economista- Chefe do tal banquinho:

"  ...temos como hipótese de trabalho que a economia brasileira se recuperará antes do esperado pelo mercado. O pano de fundo desse cenário se baseia na confiança do consumidor e do empresário não-industrial se situando em patamares praticamente idênticos ao exuberante ambiente pré-crise, e portanto quase insensíveis ao cenário global. A confiança do empresário industrial já dá alguns sinais de recuperação, mesmo sabendo que a sobre-oferta global de manufaturados se manterá um par de anos à frente como a sua principal restrição. Vislumbramos um mercado de trabalho ainda apertado (população ocupada crescendo sistematicamente mais do que a população economicamente ativa), gerando uma taxa de desemprego média em 2012 ligeiramente inferior à de 2011. A taxa de desconforto social (inflação somada ao desemprego) voltará no ano novo ao nível mais baixo, que havia atingido em 2010. Ainda como hipótese, vemos o investimento público crescendo bem em 2012 e, subjacentemente, os investimentos privados retomando um razoável dinamismo, pelo que capturamos de pesquisas próprias junto a milhares de empresas. Além disso, estimamos que o crédito bancário crescerá a taxas não muito menores do que as do ano que terminou. Assim, podemos antever um desempenho das importações ainda considerável, um saldo comercial mais baixo (em torno de US$ 18 bilhões) e um déficit em conta corrente crescente (2,7% do PIB), que, pela primeira vez em 10 anos, poderá ficar um pouco maior do que os exuberantes fluxos de investimento direto que tradicionalmente o financiam com folga.


Do ponto de vista dos fluxos prioritariamente financeiros, cabe aqui uma pequena digressão. Sempre que ocorre uma crise, os agentes econômicos racionalmente se colocam na defensiva, em posição conservadora. Se a crise se revela mais grave, a prioridade absoluta de quem dispõe de recursos líquidos é simplesmente a de não perder dinheiro. Isso se mantém durante um bom tempo até que se ingresse em uma fase de exaustão. As soluções definitivas para as crises, ainda que por vezes pareçam distantes, de uma forma ou de outra acabam sendo endereçadas com o parcelamento de iniciativas positivas, geralmente tratadas como insuficientes diante da ansiedade dos mercados. Há sempre um descompasso entre o tempo dos mercados e o tempo do processo decisório dos governos. Já vimos esse filme aqui no Brasil e agora assistimos a ele no caso da crise de governança da Zona do Euro.


Tendo como hipótese que essa crise está permitindo que a Europa implemente ajustes e algumas reformas que jamais faria em condições de normalidade, trabalhamos com o cenário no qual os mercados reconhecerão isso e tenderão a ficar menos tensionados ao longo dos próximos meses. É uma aposta percebida por alguns como ousada, mas nos parece a mais plausível e lógica. O pragmatismo dos governos em sociedades maduras já está falando mais alto, e o “dinheiro voltará a trabalhar” porque as crises cansam. Cabe a nós identificar o momento em que isso deverá ocorrer, mesmo no contexto de indefinições na Europa. Suspeitamos que esse momento, que também pode ser tratado como o de “buy opportunity”, não demore demasiadamente. Nesse aspecto, desafinamos em relação ao coral de vaticínios mais escabrosos sobre o futuro do Euro. Reputamos a União Monetária Europeia como uma das maiores experiências civilizatórias da humanidade, e sequer trabalhamos com a hipótese de que venha a ser destruída precocemente. Essa crise nos parece uma “benção disfarçada” (blessing in disguise) para a Europa do Euro, como diria Albert Hirschman.


Consideramos que vai chegar o momento, ainda em 2012, em que os investidores líquidos globais colocarão a sacola no braço e sairão às compras. É assim que as coisas funcionam. Embrionariamente, esse processo talvez já tenha até começado. Esse cenário se reforçaria com a hipótese de uma recuperação norte-americana mais veloz do que a do resto do mundo, reagindo a incentivos surgidos a despeito dos seus imensos desafios fiscais recheados de tensões eleitorais. Nada brilhante, mas possivelmente um crescimento suficiente dos Estados Unidos para reativar em alguma medida a confiança dos agentes econômicos globais.


Cabe avaliar as implicações disso para o nosso balanço de pagamentos. Mesmo ressaltando que o cenário descrito é de volatilidade e crescimento modesto nas economias maduras, consideramos que ele venha a ser suficiente para que os fluxos de capitais para o Brasil permitam a manutenção de uma taxa elevada de rolagem do serviço da dívida externa, a preservação de um alto grau de renovação das linhas externas de comércio exterior e alguma retomada de investimentos em ações e do mercado de capitais em geral. A ver quem terá razão. Mas como dizia Noel Rosa em 1933: “a verdade, meu amor, mora num poço”



(*) Não tem nada a ver com cólon. São os colonistas do PiG (**) que combateram na milícia para derrubar o presidente Lula e, depois, a presidenta Dilma. E assim se comportarão sempre que um presidente no Brasil, no mundo e na Galáxia tiver origem no trabalho e, não, no capital. O Mino Carta  costuma dizer que o Brasil é o único lugar do mundo em que jornalista chama patrão de colega. É esse  pessoal aí.

(**) Em nenhuma democracia séria do mundo, jornais conservadores, de baixa qualidade técnica e até sensacionalistas, e uma única rede de televisão têm a importância que têm no Brasil. Eles se transformaram num partido político – o PiG, Partido da Imprensa Golpista.