O Capitalismo de Estado venceu. E melhorou a vida do pobre
Um artigo de Delfim Netto na Carta Capital que está nas bancas trata de importante estudo da revista inglesa Economist, um dos bastiões do Neolibelismo (*), sobre o Capitalismo de Estado.
Nada que se compare à obra da Urubóloga, a única, de fato, herdeira do pensamento de Milton Friedman no Hemisfério Sul.
A própria Economist é obrigada a reconhecer que as multinacionais dos países emergentes, como a Petrobras e a Vale, são a prova da ascensão vertiginosa do Capitalismo de Estado, em prejuízo do sistema Neolibelês que nasceu com Ronald Reagan e Margaret Thatcher.
(Aqui no Brasil, o mensageiro da boa nova foi o Farol de Alexandria, que, com seu Planejador Maximo, Padim Pade Cerra, naufragou na Privataria Tucana.)
O neolibelismo levou um tiro no peito com a quebra do banco americano Lehman, em 2008, e "agora sufoca boa parte do mundo rico", diz a revista.
Ela se concentra, sobretudo, na associação indistinguível entre Estado, Partido Comunista e Empresas na China.
O Capitalismo de Estado tenta reunir o poder do Capitalismo com o poder do Estado.
A China de Deng se inspirou em Cingapura, que praticava o Capitalismo de Estado, em oposição ao liberalismo da vizinha Hong Kong, ainda inglesa.
A China engoliu o mestre.
Nos últimos 30 anos, o PIB chinês cresceu a 9,5 ao ano e nos últimos dez anos o PNB mais do que triplicou para chegar a US$ 11 trilhões (o do Brasil é de $3 trilhões).
Das 13 maiores empresas de petróleo, com mais de 3/4 das reservas mundiais, todas são de alguma forma estatais - inclusive as do Oriente Médio.
As empresas estatais são 80% dos negócios da Bolsa chinesa e 62% da russa.
No Brasil, representam 38%.
A maior empresa de gás do mundo , a Gazprom, é russa e estatal.
A China Mobile tem 600 milhões de clientes.
O Estado é o maior acionista das 150 maiores empresas da China.
A Saudi Basic Industries é uma das mais rentáveis empresas químicas do mundo.
A Dubai Ports é a maior operadora de portos do mundo.
Capitalismo de Estado já houve antes.
No berço da hegemonia (liberal) inglesa está a Companhia das Índias.
A Alemanha da reunificação no século XIX foi Capitalista de Estado.
Como o Japão do pós Segunda Guerra.
Como Alexandre Hamilton, o primeiro Ministro da Fazenda dos Estados Unidos, que montou uma furiosa e impenetrável rede de proteção à nascente manufatura americana.
(Os neolibeles fazem de conta que Hamilton morreu num duelo antes de tomar posse. Foi muito depois ...)
Só que, agora, diz a Economist, o desenvolvimento do Capitalismo de Estado se dá numa amplitude muito maior - e mais rápido !
Além disso, o Capitalismo de Estado hoje usa mecanismos muito mais sofisticados.
Por exemplo, a nova engenharia financeira das empresas do Capitalismo de Estado.
O Estado não é dono, mas um acionista do bloco de controle.
O que profissionaliza a gestão e dá mais flexibilidade.
As economias do Capitalismo de Estado criaram bancos de fomento - como o BNDES e a BNDESpar - que estabelecem as políticas industriais.
E criaram fundos soberanos para garantir recursos para a inovação e financiar os riscos das empresas estatais.
Progressivamente, as economias do Capitalismo de Estado - observa a Economist - fazem operações diretamente entre si e dispensam as casas de intermediação em Wall Street e na City de Londres.
A coisa pode ficar feia para os bancos das economias ricas, acredita a Economist.
O estudo dispensa a Índia - onde as empresas beneficiadas parecem ser, apenas e ainda, capitanias escolhidas pelo Raj.
E se concentra na ligação entre Capitalismo de Estado e autoritarismo na Rússia e na China.
Mas, ressalva, sempre, que o Brasil é uma democracia.
Talvez seja um exagero dizer que o "livre mercado chegou ao fim" - pondera a Economist.
Mas, é verdade que um número surpreendente de países, sobretudo entre os emergentes, aprendeu a usar o mercado para atingir objetivos políticos.
A mão invisível do mercado é substituída pela mão visível e muitas vezes autoritária do Estado, diz a Economist.
Não é o caso do Brasil - onde o Estado não rompe contratos nem confisca empresas, uma marca registrada de Putin.
E, no Brasil, a Presidenta foi vítima, sob tortura, da mão autoritária.
Autoritários e torturadores são os que se beneficiam de uma Lei de Anistia - e, não, ela.
A Economist diz que o Capitalismo de Estado é bom para a infra-estrutura (o PAC), mas fraco em bens de consumo.
(No Brasil, o problema são as empresas da privataria: o amigo navegante já ligou para reclamar de uma conta de telefone ?)
A Economist acredita que o Capitalismo de Estado encoraja a corrupção.
(O repórter inglês não teve o prazer de conhecer Mr Big, o Dr Escuta e o Itagiba ...)
Acha também que a empresa do C de E é lenta para inovar.
A Petrobras e as pesquisas no pré- sal parecem não concordar ...
Delfim Netto, que tem especial apreço pelos neolibelês brasileiros, se preocupa com a fome da China por energia e comida - e a disponibilidade de um e outro no mercado.
A Economist lembra que a China não tem nenhum compromisso com as regras de um jogo - o mercado de petróleo e comida - que, por muito tempo, a marginalizou.
E isso pode ser um perigo.
Como se chama Economist, a revista inglesa pouco se dá sobre a relação entre pobreza e desigualdade e neolibelismo e Capitalismo de Estado.
Enquanto a pobreza e a desigualdade crescem nos Estados Unidos, o Marcelo Neri, ao analisar o Ano I da Dilma, observou que a pobreza e a desigualdade continuam a cair.
Que horror !
Paulo Henrique Amorim
(*) “Neolibelê” é uma singela homenagem deste ansioso blogueiro aos neoliberais brasileiros. Ao mesmo tempo, um reconhecimento sincero ao papel que a “Libelu” trotskista desempenhou na formação de quadros conservadores (e golpistas) de inigualável tenacidade. A Urubóloga Miriam Leitão é o maior expoente brasileiro da Teologia Neolibelê.