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Bradesco analisa Censo-2010. Esse Nunca Dantes …

O Conversa Afiada reproduz análise da newsletter do Bradesco sobre os resultados do Censo 2010.
publicado 19/03/2012
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O Conversa Afiada reproduz análise da newsletter do Bradesco sobre os resultados do Censo 2010.

É um tributo ao trabalho do Nunca Dantes !

Chora, Fernando Henrique, chora !

Ontem, hoje e amanhã: o Censo Demográfico de 2010, as transformações estruturais e as perspectivas para o futuro


Sumário Executivo


Este trabalho busca avaliar os impactos das transformações da sociedade brasileira apontadas pelo Censo Demográfico nas perspectivas para o consumo de diferentes itens e para a composição da renda, combinando tais informações com dados de outras pesquisas do IBGE (PME, POF, PNAD)


O Censo Demográfico de 2010 aponta que a população brasileira está em uma trajetória de envelhecimento, em função da rápida redução da taxa de fecundidade (pp. 2-3).


Diferenças regionais persistem: no Norte/Nordeste ainda é elevada a taxa de fecundidade, e é maior a taxa de dependência de crianças, enquanto que no Centro-Sul os níveis da taxa de fecundidade são bem mais baixos e a taxa de dependência de idosos se destaca em níveis mais elevados do que a média (p. 3)


A composição das famílias também tem se alterado significativamente, em direção a domicílios com menor número de moradores e ao aumento das estruturas familiares baseadas em pessoas sós e em casais sem filhos, em detrimento da redução de casais com filhos (p. 4).


Os ganhos do crescimento na última década foram apropriados por maior parcela da população, engendrando um processo de significativa mobilidade social (as Classes A, B e C aumentaram em cerca de 45 milhões de pessoas entre 2004 e 2011) (pp. 4-5).


Esse processo se baseou ao menos em parte no aumento da escolaridade, na maior formalização do mercado de trabalho e na forte expansão de programas de transferência de renda (pp. 5-7)


Conforme aumentar mais o nível de escolaridade da população, mais difícil será verificar uma reversão do processo de mobilidade social, já que conforme as pessoas possuem mais anos de estudo, diminui a probabilidade que descendam para classes sociais mais baixas (pp. 7-8).


Ainda existe significativo potencial a ser explorado para determinados bens duráveis (em especial computadores, automóveis e máquinas de lavar), mas a taxa de troca mais rápida em função do avanço tecnológico favorece também as vendas de televisões (pp. 8-10).


O mercado potencial de automóveis poderá se ampliar significativamente no Brasil e o País ainda está muito longe de atingir um nível de saturação do tamanho da frota em relação à sua população (p.10).


A continuidade do processo de mobilidade social também beneficiará largamente o setor de serviços (p. 11).


O Censo Demográfico e os avanços do Brasil entre 2000 e 2010


O Censo Demográfico de 2010 teve mais uma rodada de divulgação de resultados em Novembro de 2011, se restringindo de maneira geral a indicadores agregados, mas para algumas variáveis disponibilizando uma abertura para municípios e seus distritos e bairros. Informações socioeconômicas, que até então eram analisadas por pesquisas amostrais ou referentes a apenas partes do País, agora foram consolidadas por esta pesquisa censitária, o que garante que estejamos de fato analisando a realidade do País como um todo.


Entretanto, mais do que apenas apresentar as informações, é importante identificar o que elas apontam para a próxima década em relação à estrutura da economia, ao novo perfil da população e às suas implicações para a estrutura do consumo. Por consequência, é possível inferir quais são os principais setores que se beneficiarão dessa nova composição demográfica.


Movimentos demográficos na década: em direção a uma população mais velha, que crescerá cada vez menos


O Brasil tem passado por um processo significativamente acentuado de envelhecimento de sua população quando comparado a outros países que se encontram em um momento demográfico semelhante. Tal fato se deve à queda extremamente forte da taxa de fecundidade brasileira nos últimos anos, principalmente se analisada em relação às taxas de países em estágio de desenvolvimento semelhante (Gráfico 1). Este é um dos elementos mais relevantes para explicar a rápida mudança na composição etária da população.


É importante destacar que o processo de redução da taxa de fecundidade, apesar de ter ocorrido em todas as regiões do País, não foi suficiente para diminuir a heterogeneidade regional do seu nível (Gráfico 2). Desse modo, a região Norte permanece com a taxa mais elevada (2,42 filhos por mulher em idade fértil), e as áreas com maior urbanização e acesso a serviços de saúde e educação (Sul e Sudeste) persistem com os níveis mais baixos (1,66 e 1,75, respectivamente).


A consequência direta desse processo pode ser verificada pela comparação das pirâmides etárias de 2000 e 2010 (Gráfico 3). De fato, em apenas 10 anos houve um deslocamento significativo do grupo mais representativo da população das faixas de 0 a 24 anos para 10 a 29 anos. Como a taxa de fecundidade nacional já está abaixo do nível de reposição, que é de 2,10 filhos por mulher em idade fértil, a base da pirâmide tende a se tornar cada vez mais estreita, o que implica que nas próximas décadas a população em idade ativa deixará de apresentar incrementos tão significativos como os observados nos últimos anos.


Com essa tendência de redução do ingresso de pessoas na população em idade ativa projetada para os próximos anos, alguns fenômenos adicionais devem surgir. Por um lado, a taxa de dependência de crianças deve diminuir, já que esta é a faixa etária cujo tamanho relativo cai primeiro quando comparada às demais faixas etárias, em função da queda da taxa de fecundidade. Por outro, combinando os efeitos da diminuição desta taxa com o aumento da expectativa de vida (devido aos avanços da medicina, entre outras razões), a população idosa deve ganhar cada vez maior importância relativa na população, fazendo crescer a taxa de dependência de idosos.


Entretanto, existem diferenças bastante expressivas entre as regiões do Brasil no que concerne à queda da taxa de fecundidade, como já mencionado, resultando em taxas de dependência bastante distintas entre as diferentes Unidades da Federação (Gráfico 4). Dentre aquelas com elevada taxa de dependência, destacam-se as localizadas nas Regiões Norte e Nordeste, sendo que seu principal componente para esta taxa é o elevado percentual de crianças na PIA (população em idade ativa). No Centro-Sul, a situação é oposta: as taxas de dependência são mais baixas e, em comparação com o restante do País, o componente de idosos tem um peso maior. Como apontado anteriormente, as distinções das estruturas econômicas e dos acessos à informação nos dois polos do País está correlacionada com este padrão antagônico.


Uma implicação adicional da mudança de planejamento familiar e da consequente redução do número de filhos é que cada vez mais os domicílios comportam famílias com menor número de membros. No Gráfico 5, pode-se verificar que os domicílios com até 3 moradores ganharam participação relativa no total, enquanto que os domicílios com maior número de moradores perderam participação. Algumas consequências diretas disto podem ser sintetizadas pelo fato de que a qualidade de vida das famílias passa a ser maior ao ter que repartir determinada renda entre menos membros e ter gastos fixos menores. Além disso, o fato do número de filhos ser menor (e, portanto, o custo de mantê-los na escola ou realizando atividades extracurriculares é mais baixo) permite que as mães retornem ao mercado de trabalho mais rapidamente, contribuindo para ampliar a renda familiar de maneira significativa.


Mobilidade social e as perspectivas para o consumo


Os movimentos demográficos de um país estão associados aos elementos propulsores do crescimento de longo prazo e permitem discriminar perspectivas para as próximas décadas. Entretanto, a década de 2000 também assistiu a outras mudanças bastante relevantes para a economia brasileira. Se estes movimentos de fato se solidificarem e ganharem cada vez mais força, poderão gerar uma estrutura social propiciadora de redução da desigualdade. Ao mesmo tempo, o maior crescimento relativo da renda das faixas menos abastadas da população possibilita que mais pessoas integrem o mercado consumidor. Adicionalmente, a melhoria das condições de crédito (prazo e juros), que ocorreu principalmente a partir de meados da década de 2000, permitiu que, para um mesmo nível de renda, fosse possível acessar bens de maior valor agregado.


No Gráfico 6, verificamos que a distribuição da massa de renda entre os decis da população entre 2000 e 2010 se deslocou na direção da redução da desigualdade, ou seja, a massa de renda dos dois decis superiores perdeu participação no total, enquanto que os decis inferiores ganharam participação. É patente o fato de que ainda existe um caminho significativo a ser percorrido na direção de reduzir a desigualdade no País, mas em relação às décadas anteriores, os anos 2000 representaram um avanço importante, pois o País cresceu e mais pessoas se beneficiaram disso.


De fato, considerando a evolução da distribuição de classes no Brasil, entre 2004 e o início de 2012 o incremento de população nas Classes A, B e C1 foi de cerca de 45 milhões de pessoas, enquanto que a Classe E se reduziu em 25 milhões de pessoas (Gráfico 7). Alguns fatores que serão discutidos a seguir podem explicar ao menos parcialmente tal processo: aumento da escolaridade da população, maior formalização do mercado de trabalho, expansão de programas de transferência de renda, entre outros.


Em primeiro lugar, é interessante observar que tanto a escolaridade (níveis de ensino completados) como a escolarização (frequência escolar) da população se expandiram significativamente na última década. O Brasil ainda está bastante defasado em relação a outros países latino-americanos ou mesmo à Rússia e à China quanto à média de anos de educação de sua população. Entretanto, os esforços recentes do governo com o intuito de universalizar o ensino levaram ao movimento verificado no Gráfico 82, que representa a abrangência do ensino no nível fundamental e a ampliação do acesso aos ensinos médio e superior e à educação infantil. Vale destacar que ao menos parte do movimento de redução da razão relativa ao ensino fundamental e do aumento da do ensino médio é explicada pelo fato de que mais pessoas passaram a cursar o nível escolar correto para a sua idade3.


Já o esforço da ampliação da escolaridade da população tem como consequência um crescimento significativo do número de pessoas com níveis mais elevados, como mostra o Gráfico 9. Destacam-se o número de pessoas com nível médio completo e superior incompleto, que se expandiu em 18 milhões, e com superior completo, que mais do que dobrou, crescendo em 6,5 milhões de pessoas. É essencial para as perspectivas de crescimento econômico que este movimento continue e até se acentue. Outro ponto a ser lembrado é que não só a quantidade, como também a qualidade do ensino deve ser promovida. Isso porque um dos fatores mais importantes que explicam o aumento da escolaridade até o final do ensino fundamental é o sistema de progressão continuada, o que não tem necessariamente contribuído para que os alunos ampliem seu aprendizado efetivo4. Avaliações internacionais, tais como o PISA (realizado pela OCDE), mostram que o Brasil está muito atrás dos demais países em termos de habilidades como compreensão de leitura, matemática e ciências de seus alunos (em 2009, o País estava abaixo da média da OCDE em todas essas disciplinas, encontrando-se na 53ª posição de 65 países avaliados, à frente apenas de países em desenvolvimento).


O segundo fator elencado como propulsor da mobilidade social recente foi o processo de formalização da força de trabalho. Ao longo da década de 2000, houve significativo aumento absoluto dos empregados com carteira de trabalho assinada e ligeira redução do número de empregados sem carteira assinada, como mostra o Gráfico 10. Além disso, os militares e funcionários públicos estatutários passaram de 3,7 para 4,9 milhões entre 2000 e 2010. Vale destacar também o crescimento do grupo de conta própria, que é bastante heterogêneo, e inclui desde profissionais liberais a vendedores ambulantes (e, portanto, não é possível discernir se essa expansão se deu no grupo mais estável de ocupação ou naquele cuja possibilidade de ser afetado por uma instabilidade da economia é maior).


Adicionalmente, a década aqui analisada apresentou uma evolução bastante significativa de programas de transferência de renda, com especial destaque para o Programa Bolsa Família. Entre 2005 e 2011, o volume médio despendido mensalmente nesse programa saltou de patamares próximos a R$ 340 milhões para R$ 1,4 bilhão, sendo que o número de famílias beneficiadas cresceu de 5 milhões para 13 milhões no mesmo período (Gráfico 11). Além de propiciar aumento da renda das famílias mais pobres, o Programa Bolsa Família tem condicionalidades5 que possibilitarão que as novas gerações dessas famílias tenham uma base melhor para obterem maior renda no futuro. Souza (2011) destaca que, por mais que não seja possível avaliar o estado atual dos primeiros beneficiados por programas sociais que foram introduzidos desde 1995 (Bolsa Escola e Renda Mínima), considerando informações contemporâneas, o impacto do Programa Bolsa Família parece ser pequeno, mas não desprezível, em especial sobre a escolaridade dos indivíduos. Entretanto, devido à boa focalização do Programa, seus impactos de curto prazo reduzindo a pobreza das famílias são significativos e relevantes para explicar a queda da desigualdade observada na última década.


Condições para a sustentabilidade do processo de mobilidade social


Portanto, os incentivos à expansão da renda foram abundantes nos últimos anos. Há um elemento adicional a ser considerado: o deslocamento da população em direção ao grupo de pessoas com maior renda, com maior formalização, mais velhas e mais escolarizadas por si só torna o emprego mais estável. Isso porque as informações da Tabela 1 indicam que a probabilidade de perder emprego 1 ano à frente decresce conforme ocorrem estes movimentos (excetuando-se o caso da escolaridade, no qual pessoas sem instrução e com ensino fundamental incompleto têm menor probabilidade de perder emprego, 2,2%, do que as pessoas com os dois níveis seguintes de escolaridade; isso pode se dever ao fato de que a mão de obra pouco qualificada tem tido uma demanda bastante elevada, por exemplo pelo setor de construção civil). Assim, não só os fatores destacados anteriormente contribuem para a mobilidade social, como engendram uma situação de maior estabilidade no emprego, e, portanto, diminuem a possibilidade de que esse processo de aumento da renda com distribuição de renda se reverta.


Para aprofundar um pouco mais este tema, uma informação adicional que permite analisar em que medida a expansão da classe C é sustentável é a evolução da escolaridade de seus componentes. Ou seja, busca-se um indicador de se as pessoas que ascenderam socialmente apresentam ou não tendência de retornar ao grupo anterior. Nesse sentido, avaliar a evolução da escolaridade deste grupo parece ser um início, já que se tiver ocorrido um aumento da participação dos níveis mais elevados de escolaridade, serão obtidos indícios de menor probabilidade de que estas pessoas voltem para uma classe mais baixa.


Para complementar esta avaliação, a Tabela 2 apresenta a probabilidade das pessoas de cada classe  ascenderem, descenderem ou se manterem na mesma classe um ano à frente por escolaridade. Conforme aumentam os anos de estudo das pessoas, cresce a probabilidade de ascensão social em todos os níveis de renda e cai a probabilidade de descender socialmente. Outro elemento relevante é que as Classes E e D apresentam as maiores probabilidades de ascenderem, e a Classe C mostra maior probabilidade de manutenção (em função do corte de renda ser mais amplo).


Perspectivas para o mercado de bens duráveis


Por fim, com relação à posse de bens duráveis, e concomitantemente avaliando o mercado potencial para tais produtos, existe uma significativa heterogeneidade entre as classes sociais e os produtos considerados (Gráfico 13). O primeiro fato que se destaca é que quase todas as famílias possuem televisão, fogão e geladeira. Por outro lado, a posse quase universalizada de automóvel se restringe majoritariamente às Classes A e B, enquanto que cerca de 40% das famílias de Classe C, menos de 15% da Classe D e cerca de 7% da Classe E tinham pelo menos 1 automóvel em 2009. Um padrão bastante semelhante é observado para computadores e máquinas de lavar.


De fato, o primeiro grupo de bens (televisão, fogão e geladeira), de maneira geral, parece mais essencial, sem itens que possam substituí-los diretamente, enquanto que os demais itens podem ser considerados mais "supérfluos". Muitas famílias substituem a máquina de lavar por uma opção mais barata, como o tanquinho, ou então pelo trabalho manual de maneira direta. Automóveis podem ser substituídos por transporte público e a utilização de computadores ainda está se disseminando na população (e o avanço tecnológico tem reduzido seu custo de maneira significativa nos últimos anos). É importante destacar também que o valor de um automóvel pode ser extremamente elevado para uma família de Classe D ou de Classe E, inclusive porque sua renda impossibilita o acesso a um financiamento para adquiri-lo.


Mais do que avaliar quais famílias já possuem cada bem durável, é importante entender qual a taxa de troca dessas famílias, ou seja, com qual frequência elas adquirem tais bens. Uma aproximação desse indicador é encontrada no Gráfico 14, no qual estão representados os percentuais de famílias por classe social e por época de aquisição. De fato, a Classe A apresenta a maior participação dos que compraram computador (35%), televisão (38%) e automóvel novo (pouco mais de 30%) nos últimos dois anos. Considerando fogão, geladeira e máquina de lavar, a taxa de troca de todas as classes é mais lenta, já que são bens mais duráveis e que não têm sofrido transformações significativas em suas características apesar dos avanços tecnológicos.


Combinando o movimento de mobilidade social acima identificado e o perfil de acesso e de aquisição de bens duráveis, é possível avaliar que ainda existe um potencial de mercado bastante significativo a ser explorado, principalmente no que concerne aos automóveis, computadores e máquinas de lavar. Para esse grupo de bens, o aumento da renda familiar está diretamente associado à maior probabilidade de possui-lo e de tê-lo comprado em um período mais recente. Vale ressaltar que mesmo para os bens que já estão mais disseminados entre as famílias, o crescimento da renda proporciona taxa de troca mais rápida (principalmente para televisão à cores). É importante ainda destacar que uma parte das vendas de bens duráveis pode se basear na decisão das famílias de trocá-los por modelos mais novos, ou seja, não são apenas as famílias que não possuem tais bens que constituem o mercado potencial dos mesmos, mas sim toda a população, em maior ou menor medida, compõe este mercado.


Existe significativo potencial de expansão para o mercado de automóveis


Avançando um pouco mais na análise do mercado de automóveis, a OCDE9 desenvolveu um trabalho comparando a frota de países e seus PIBs per capita, encontrando uma relação positiva não linear que demonstra que conforme cresce a renda de um país (tomando por proxy seu PIB per capita), aumenta a frota de automóveis relativa à sua população (Gráfico 15). Além disso, o trabalho aponta para a existência de uma possível saturação desse mercado, ou seja, a partir de determinado ponto o crescimento da frota de automóveis vai ser meramente vegetativo de acordo com a expansão da população e a reposição do estoque que se deprecia. Dentre os países analisados, os Estados Unidos possuíam o número mais próximo do limite superior de carros por 1.000 habitantes, cerca de 800. Já o Brasil ao longo da década de 2000 apresentou uma evolução relevante de sua renda média e de sua frota, mas ainda possui um significativo potencial de expansão do consumo de automóveis conforme aumente sua renda.


Entretanto, existe uma importante heterogeneidade na população brasileira, com elevada desigualdade de renda, de modo que ao separá-la em quintis de renda média familiar per capita, encontram-se níveis médios de renda bastante distintos entre cada grupo10. Além disso, o tamanho da frota de automóveis em relação à população de cada quintil atinge níveis significativamente diferentes. Ao plotar tais pontos no Gráfico 15, percebe-se que o 5º quintil, de renda mais elevada, possui uma frota relativa à sua população que se aproxima à da Coréia do Sul. Já os demais quintis ainda apresentam níveis bastante baixos tanto da renda média como da frota. Esta análise permite observar que o potencial de mercado de veículos pode ser explorado amplamente na medida em que a renda média evolua. Adicionalmente, o quintil superior (5º quintil) também não está saturado, e um aumento de sua renda também permitirá que a sua frota de automóveis se amplie significativamente.


Como conclusão, o crescimento da renda tenderá a ampliar o desejo das famílias por bens duráveis novos.  Outro elemento essencial para fortalecer este mercado é a melhoria das condições de crédito, incluindo a redução das taxas de juros e a extensão de prazos. Isso porque bens duráveis de maneira geral requerem um dispêndio mais elevado, e o maior acesso a financiamentos permite que a renda mínima para adquiri-los caia significativamente. Portanto, considerando que os movimentos observados ao longo desta década continuem a ocorrer nos próximos anos, será possível ampliar as vendas de bens da linha branca, de eletroeletrônicos e de automóveis.


Potencial de expansão dos gastos com serviços


O último item a ser analisado neste trabalho se refere à distribuição do gasto médio mensal familiar com serviços de acordo com a renda. No Gráfico 16 verifica-se que existe uma relação positiva entre estes dois elementos. Assim, o crescimento da renda faz com que a massa de gastos com serviço se amplie de maneira significativa. Portanto, as perspectivas futuras de continuidade do processo de mobilidade social fazem com que este setor se destaque em relação ao seu potencial de crescimento.


Conclusão


Em suma, este trabalho buscou identificar os principais movimentos demográficos e socioeconômicos apontados pelo Censo Demográfico de 2010 e por um conjunto de pesquisas adicionais. Hoje o Brasil é um país mais maduro em termos da estrutura etária de sua população, com menor perspectiva de crescimento populacional e com famílias menores. Por outro lado, os avanços na área social resultaram em uma configuração de classes  sociais muito mais favorável que a do início da década, e, considerando a possibilidade de continuidade deste processo, as perspectivas para o consumo de bens duráveis e de serviços são bastante positivas.


Referências


Haugh, D.; Mourougane, A.; Chatal, O. (2010) The automobile industry in and beyond the crisis. OECD Working Paper 745.


Menezes-Filho, N.A.;Vasconcellos, L.; Werlang, S.R.C.; Biondi, R.L. (2009). Avaliando o impacto da progressão continuada nas taxas de rendimento e desempenho escolar no Brasil.

6º Seminário de Economia de Belo Horizonte. Disponível em http://www.sebh.ecn.br/seminario_6/sebh_artigo_Roberta.pdf


Ribas, R.P.; Soares, S.S.D. (2008) Sobre o painel da Pesquisa Mensal de Emprego (PME) do IBGE. Texto para Discussão 1348, Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada.


Souza, A.P. (2011) Políticas de distribuição de renda no Brasil e o Bolsa-Família. Centre for Applied Microeconomics, São Paulo School of Economics, Working paper 1/2011.


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