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Santayana: bancos (americanos) sufocam a Europa

O Conversa Afiada reproduz excelente artigo de Mauro Santayana, extraído do JB online:
publicado 28/04/2012
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O Conversa Afiada reproduz excelente artigo de Mauro Santayana, extraído do JB online:

Coisas da Política

Os bancos, a desigualdade

e o ocaso da velha Europa

Mauro Santayana


Pode ser um bom sinal: chamado às falas pelo Parlamento Europeu e pela Comissão Européia, o fiel funcionário do Banco Goldman Sachs,     que preside ao Banco Central Europeu, Mário Draghi,  gaguejou. Não pôde explicar aonde foram parar o trilhão de euros que os países centrais da Europa emitiram e entregaram ao BCE, a fim de recuperar a economia do bloco. De acordo com Michel Barnier, Comissário da União Européia encarregado do mercado interno do grupo, que inclui os serviços financeiros, e de Durão Barroso, o presidente da Comissão Européia, os bancos beneficiados com os recursos, repassados pelo BCE a juros inferiores a 1%, não os usaram no estímulo à economia. Ao contrário, continuaram emprestando aos estados em dificuldades, a juros que vão de 6 a 10%. Quanto mais dificuldades enfrentam, mais altos são os juros, em uma espiral  de arrocho, desemprego e miséria de seus povos.

Mesmo com os imensos recursos de caixa, os bancos privados – encabeçados pelo famigerado Goldman Sachs – reduziram seus financiamentos às empresas em 30% e os empréstimos aos correntistas privados em 43%. As condições para a concessão de créditos à economia real se tornaram ainda mais  duras. E os empréstimos aos Estados se fazem sob exigências draconianas.

O Banco Central Europeu não pode emprestar      diretamente aos Estados. Como todos os bancos centrais, eles são servidores dos banqueiros, e, de modo geral, operam com autonomia. Temos que sujeitar o nosso Banco Central ao controle direto do poder executivo.

Os bancos, na confidência de um banqueiro europeu anônimo, usam os empréstimos do BCE para refinanciar seus balanços, e soltam o dinheiro a filete de água para o financiamento da produção, do comércio e dos serviços. Esse procedimento faz com que a Europa siga o desastre americano e inglês, que se iniciou em 1980, com Madame Thatcher e Reagan. Nestes últimos trinta anos, nos Estados Unidos, o famoso um por cento dos americanos mais ricos viram sua renda multiplicar 300 vezes. Os americanos mais pobres tiveram um aumento de 40% em seus rendimentos, mas em conseqüência da participação intensiva das mulheres no trabalho. Essa participação, exigida pela crescente dificuldade dos lares, fez com que houvesse uma melhoria na renda familiar. Sem isso, só com o trabalho dos homens, não teria havido nenhuma melhoria.

A economia moderna – na avaliação de John Plender, um dos mais lúcidos analistas do Financial Times – parece ter duas pistas: uma de altíssima velocidade para os ricos, e outra, vagarosa, para os pobres. Segundo o próprio Financial Times, em matéria de janeiro deste ano, os conselhos de administração das grandes empresas, notadamente as do setor financeiro, têm fixado a remuneração de seus presidentes-diretores gerais em 400 vezes o salário de seus empregados de base. Há três décadas, essa diferença,  já extremamente injusta, era de 40 vezes.

O sistema financeiro se tornou incontrolável, nos quadros legais de hoje, na medida em que se tornou grosseiramente obeso, na observação do mesmo jornal britânico.

Os estados nacionais abdicaram do senhorio da moeda, em favor do BCE (leia-se, do Goldman Sachs) mediante o Mecanismo Europeu de Estabilização. Os gestores desse “Mecanismo”, entre outros absurdos, não podem ser processados pela justiça. São invioláveis e impunes, cometam as irregularidades que possam cometer. Por essas razões, começa a crescer, nos meios políticos europeus, a idéia de que é preciso estatizar logo os bancos, antes que a impaciência popular leve a soluções radicais,  mediante a articulação revolucionária, ou a ascensão da extrema-direita, que tampouco ama os banqueiros.

O controle mais efetivo da moeda pelos Estados, e sua intervenção direta  no processo econômico são o caminho natural para impedir o fim do sistema democrático, ao reduzir a brutal desigualdade entre ricos e pobres e entre países marginalizados pela pobreza e as economias mais desenvolvidas.

Mário Draghi reconheceu que os bancos não atuam como seria de esperar. E prometeu dar explicações mais detalhadas das providências que pretende tomar. Vamos ver o que dirá o fiel servidor do Goldman Sachs.