Lucas do MPL anulou o voto. Com aumento, ação segue
O ansioso blogueiro entrevistou, por telefone, Lucas Monteiro, de 29 anos, professor de História e membro do Movimento Passe Livre:
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PHA – Lucas, o que quer o Movimento Passe Livre?
Lucas – O Movimento Passe Livre é um movimento que existe desde 2005, que se orienta de maneira horizontal, e que pauta a questão do transporte.
Ele defende que o transporte é essencial para garantir o direito à cidade, o acesso à cidade. E por isso, defende a tarifa zero para o transporte coletivo.
Essa proposta de tarifa zero é inspirada no projeto (de 1999) do Lúcio Gregori, secretário de Transportes da gestão Erundina.
PHA – Mas, no governo Erundina essa proposta não avançou porque havia dificuldades para financiá-la. Como financiar isso?
Lucas – Na verdade, no governo Erundina teve uma resistência interna muito grande, e não tinha uma pressão popular em torno disso. Mas, hoje em dia, existe essa pressão popular.
Além disso, nós podemos discutir qual é a prioridade para os recursos na cidade de São Paulo. A gente acha que a prioridade tem que ser as políticas sociais.
Há de se considerar que, com a tarifa zero, você vai ter uma ampliação do PIB da cidade.
As pessoas vão poder gastar o dinheiro em outras coisas. Além disso, a priorização do transporte público inclui mais gente circulando. Isso faz a economia da cidade se desenvolver. Faz a economia da cidade crescer e, com isso, a arrecadação crescer.
Se disse a mesma coisa - que eram inviáveis economicamente - dos programas sociais do Governo Federal. E, hoje em dia, os programas sociais são uma realidade consolidada. Ninguém diz que os programas são inviáveis financeiramente.
Então, tem essa questão. Um direito social, ele sempre vai ser tido como impossível de ser conquistado até a população conquistar esse direito. É isso que está em disputa.
Mas, no momento, não é por isso que o MPL está nas ruas. Ele está nas ruas revindicando a revogação do aumento das tarifas.
Então, embora o MPL se organize durante o ano em torno da tarifa zero, não é isso que leva esses milhares de pessoas às ruas nos últimos dias, Paulo. E sim, os vinte centavos de aumento, e a revogação desse aumento.
PHA – Como você explica o número tão grande de manifestantes em São Paulo e em outras capitais do País?
Lucas – Sim, sem dúvida esse número de pessoas ultrapassa e muito o MPL.
Mas essas pessoas estão mobilizadas em São Paulo porque há muitos anos a passagem vem subindo em São Paulo. A passagem vem aumentando muito, há muitos anos, e agora, com R$ 3,20, o aumento fica gritante.
Devido ao tamanho do absurdo, e do trabalho de anos que não só o Passe Livre tem feito, mas também outros movimentos, eu acho que isso permite uma mobilização ampla, que é a que a gente está tendo em São Paulo.
PHA – Você falou de um movimento horizontal. Isso significa que é um movimento que não tem identidade política partidária? O que você entende por movimento horizontal?
Lucas – Significa duas coisas: tanto não temos identificação política partidária - o MPL não é ligado a qualquer partido, ele é um movimento social autônomo. Quanto dentro do movimento, todas as pessoas são iguais dentro dele.
Então, o que eu falo, e o que outra pessoa fala dentro do movimento tem o mesmo peso. Não existe uma coordenação, não existe uma liderança, não existe uma presidência.
As pessoas decidem horizontalmente, lado a lado, discutindo as coisas e chegando a consensos; pensando como, politicamente, conjuntamente, fazer a mobilização pelo transporte na cidade.
PHA – Vocês são contra o Haddad e o Alckmin?
Lucas – Não. Eu não sou contra o Haddad ou o Alckmin.
A questão é que o Haddad e o Alckmin são os responsáveis pelo aumento da tarifa.
Então, os responsáveis pela mobilização e pelo caos na cidade são, principalmente, o governador e o prefeito, que se recusam a suspender o aumento - como inclusive, recomendou o Ministério Público.
Não é uma questão de ser contra pessoalmente nem um, nem outro. Mas, sim, de perceber que eles são responsáveis, que eles fizeram a escolha política de aumentar a tarifa.
PHA – Vocês são contra a presidenta Dilma?
Lucas – Também não. Não temos nenhuma questão quanto à presidência da República. Aliás, não é a presidente da República que decide sobre o aumento da passagem.
PHA – Você poderia dizer em quem você votou para governador, prefeito e presidente?
Lucas – Não, na verdade eu não votei para prefeito, governador e presidente. Eu anulei meu voto.
Mas eu já votei muitas vezes no PT, no PSOL e em diversos partidos políticos ao longo da minha vida. Porém, isso não quer dizer que eu ache que o ponto central da política está no debate institucional.
PHA – Se o governador e o prefeito forem inflexíveis e decidirem não reduzir a tarifa...
Lucas – A mobilização vai continuar. As manifestações vão continuar até a tarifa ser reduzida.
O prefeito pode reduzir, ou a Justiça pode reduzir - como já aconteceu em algumas cidades. Por exemplo, em Goiânia, agora, a tarifa foi reduzida, há uma semana, pela Justiça, e não pelo prefeito.
Então existem várias opções. Mas, eu espero que o prefeito dialogue, veja a necessidade da população e revogue o aumento.