Dino: turistas vão voltar para a Copa
Paulo Henrique Amorim entrevistou, por telefone, o presidente da Embratur, Flávio Dino.
Dino fez um balanço sobre o impacto econômico gerado pela realização da Copa das Confederações, disputada em junho desse ano.
Segundo pesquisa realizada pela Embratur, cerca de 270 mil pessoas transitaram entre as seis cidades sedes da competição, sendo, pelo menos, 20 mil estrangeiros.
Estima-se que esse público tenha gasto 700 milhões de reais durante o evento, movimentando hotéis; bares; restaurantes; o comércio e o setor de serviços de todas as cidades sedes.
Apesar dos reconhecidos problemas em infraestrutura, especialmente em mobilidade urbana e telecomunicações, a avaliação dos estrangeiros sobre a realização dos eventos – tanto da Copa das Confederações como também da Jornada Mundial da Juventude – foi positiva.
Nem mesmo os protesto frustraram os turistas que visitaram o Brasil durante o evento. Dos estrangeiros pesquisados pela Embratur, 90% disseram que pretendem voltar ao Brasil.
Para a Copa do Mundo da FIFA no ano que vem, a Embratur espera receber 600 mil estrangeiros, além de lidar com um grande turismo interno. Cerca de 3 milhões de brasileiros devem viajar para acompanhar os jogos.
Acompanhe a íntegra da entrevista com Flávio Dino em texto e áudio.
Flávio Dino: A Copa das Confederações foi um evento – e estava previsto que seria – eminentemente local. Mobilizando, sobretudo, o público das cidades onde se realizam os jogos.
Ainda sim, nós tivemos um deslocamento de brasileiros para as sedes dos jogos, e também a presença, de 3% à 4% do público, de estrangeiros - além, da comunidade esportiva diretamente ligada ao evento – fazendo com que, a soma de tudo isso, gerasse uma movimentação econômica nas seis cidades sedes superior à 700 milhões de reais.
Isso, levando em conta os gastos diretos, ou seja, o que os turistas efetivamente gastaram; os gastos da própria FIFA, das seleções e delegações; e o efeito multiplicador que se reflete nas cadeias produtivas a partir do aumento do consumo, sobretudo, na hotelaria e no setor de alimentação, gerando, portanto, efeito indireto.
E é importante também mencionar que, do ponto de vista qualitativo, houve um resultado muito bom, na medida em que, mais de 90% dos presentes ao evento – turistas estrangeiros – pesquisados pela Embratur disseram que pretendem voltar ao Brasil, porque tinham tido uma boa impressão da capacidade [do país] em realizar o evento.
Claro que há problemas, sobretudo no que se refere à mobilidade urbana; telefonia e internet, que merecem uma maior atenção nos próximos meses.
2 - PHA: Quantas pessoas isso envolveu? Ou seja, quantos turistas, brasileiros e estrangeiro, o evento movimentou?
Flávio Dino: Nós tivemos uma presença nos jogos de turistas nacionais que chegou a 248 mil turistas nacionais.
Turistas estrangeiros, tivemos cerca de 20 mil. Nós consideramos esse número bastante positivo.
3- PHA: Com isso, já dá para fazer uma estimativa sobre o número de pessoas envolvidas na Copa do Mundo?
Flávio Dino: Considerando que é um evento de 30 dias, envolvendo 32 seleções, em 12 cidades sedes, nós consideramos que a previsão de 600 mil estrangeiros e 3 milhões de brasileiros é uma estimativa realista.
Nós estamos estimando que este deslocamento de turistas brasileiros e estrangeiros deva resultar em gastos [dos turistas] superiores a 25 bilhões.
4 – PHA: Levando em consideração o que houve na Copa das Confederações - sobre a sua observação de que houve problema, e ainda há problemas, principalmente nas áreas de mobilidade urbana, internet e telefonia - o que se pode imaginar na Copa do Mundo levando em conta esse número significativamente maior de pessoas, especialmente de estrangeiros?
Flávio Dino: É preciso, é claro, intensificar o ritmo das obras que precisam ser realizadas entorno desses itens. Esses, de fato, tem sido os pontos críticos, que vem sendo apontados desde a realização da Rio+20 [2012].
Na Jornada Mundial da Juventude, também foram os itens, ao lado da comunicação em outro idioma, os aspectos mais criticados.
Temos que voltar os nossos olhos para esses itens ao longo dos próximos onze, dez meses que faltam, para encontrar caminhos e solucionar problemas.
Naturalmente, não há tempo hábil para solucionar todos os problemas, mas é possível, sim, minimizar o impacto sabendo que são esses os itens mais sensíveis.
Agora, eu faço questão de ressaltar que, tanto em um evento como no outro, ou seja, tanto na Copa das Confederações como na Jornada Mundial da Juventude, a avaliação final dos turistas foi bastante positiva.
Em rasão da simpatia; da alegria; do espírito acolhedor do brasileiro, mesmo as dificuldades acabaram sendo sobrepujadas pelos fatores positivos, por isso, nós tivemos uma aprovação do Brasil como sede desses eventos.
E é interessante notar que, isso se deu mesmo com a concomitância do evento com o auge dos protestos.
Nem isso atrapalhou a compreensão de que o fato de ter protestos no Brasil, de ter passeata, de ter manifestações, na perceptiva dos estrangeiros, isso não gerou uma avaliação negativa dos estrangeiros, muito pelo contrário.
5 – PHA: Com relação aos protestos. Houve protestos durante a Copa das Confederações, como houve também durante a Jornada Mundial da Juventude. E é possível que isso recrudesça durante a Copa do Mundo, inclusive com um ensaio geral que aparentemente está sendo programado agora para o 7 de Setembro.
Eu pergunto: que medidas adicionais estão sendo tomadas, levando em consideração a prevenção de protestos que possam prejudicar o acesso e a mobilidade dos turistas durante a Copa do Mundo?
Flávio Dino: Nós estamos vivendo um período de continuidade dos protestos. Essa dificuldade inclusive tem sido vivenciada quase que diariamente, principalmente nas grandes cidades.
É algo que requer um aperfeiçoamento técnico no que se refere a atuação das polícias diante dessa situação nova. Sabendo que, quase certamente, para a Copa do Mundo vai haver protestos, como houve em outros grandes eventos no Brasil e fora do Brasil.
O que é importante é distinguir a necessidade desses protestos acontecerem de forma pacifica, de acordo com os preceitos democráticos, e que isso não atrapalhe a realização do evento em si.
Foi o quadro que nós tivemos na Copa das Confederações e durante a Jornada Mundial da Juventude.
Então, o esforço principal é no sentido de qualificar as forças de segurança pública para garantir dois direitos: o direito absolutamente legítimo de quem quer protestar, e o direito de quem deseja assistir aos jogos.
6 – PHA: Sabe-se – inclusive, isso foi noticiado na imprensa - que a Alemanha, teoricamente, está pronta, desde que seja avisada com dois ou três meses de antecedência, para substituir qualquer país que promova a Copa do Mundo.
Existe alguma medida que possa ser tomada, para evitar que qualquer tipo de protesto, qualquer tipo de desorganização social, venha a tirar a Copa daqui?
Flávio Dino: Eu não acredito que a FIFA venha a adotar uma opção tão absurda quanto essa. Os investimentos públicos e privados que já foram feitos, inclusive com o acompanhamento da FIFA, mostram que há um esforço sincero de toda nação para realização do evento.
E nós realizamos três eventos globais: a Conferência do Clima e do Meio Ambiente; a Copa das Confederações e a Jornada Mundial da Juventude, reunindo mais de 3 milhões de pessoas na praia de Copacabana em um ambiente em que havia também protestos, fazendo com que fique evidente que não há incompatibilidade entre uma coisa e outra.
Até porque, você que conhece a História política e a História do esporte. Desde a maratona de Boston recentemente, até os Jogos Olímpicos, em várias partes do planeta – inclusive na Alemanha – tiveram problemas.
Por isso, não se justificaria qualquer tipo de opção dessa natureza.
A Copa será realizada no Brasil, será um êxito econômico, produzindo bons resultados para o Brasil.
E a FIFA não tem nenhuma razão objetiva para tomar uma medida dessa, que seria uma punição absurda diante do trabalho que tem sido feito até aqui com muita seriedade e com muito êxito, como a realização dos eventos até aqui demonstram.
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