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Petrobras: as lições de uma sessentona rebelde

"Mais que uma empresa de petróleo, a Petrobrás é um marcador incômodo do desenvolvimento brasileiro."
publicado 02/10/2013
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O Conversa Afiada reproduz artigo de Saul Leblon, extraído da Carta Maior:


Lições de uma sessentona rebelde



Mais que uma empresa de petróleo, a Petrobrás é um marcador incômodo do desenvolvimento brasileiro.

Seus sessenta anos comemorados nesta 5ª feira, 3 de outubro, arguem o país do século 21 com um exemplo de audácia bem sucedida trazida do ciclo anterior.

A implícita capacidade de cobrar o presente com o desassombro de um passado que o pré-sal atualiza e magnifica, talvez seja a principal explicação para a profunda antipatia que a simples menção do seu nome inspira no sistema auditivo conservador.

Mais que antipatia, há um esforço para tornar inaudíveis as perguntas que a sua trajetória enseja.

Por exemplo: como é que uma Nação que teve audácia de se credenciar na corrida do petróleo, num tempo em que isso equivalia a uma maratona de ricos, sofre hoje a duras penas para fazer rodovias?

Ou ampliar portos? Ou ainda, estender dormentes de trens? Rasgar e concretar um simples canal para levar um pouco do São Francisco ao sertão nordestino, que concentra a maior demografia mundial em um regime semi-árido?

Como é que o país que fez a 8ª maior petroleira do planeta, detentora de conhecimento de ponta na exploração em águas profundas, não consegue mais prover a infraestrutura básica?

O PAC e os planos de investimento em logística estão aí a atestar o empenho do governo em fazê-lo.

Mas por que a coisa então se arrasta em ritmo enervante, sem avançar no volume e prazo requeridos pela economia e a sociedade?

A Petrobrás é a dissonância à resposta do cuco conservador

Aquele que troca de plumagem, mas não troca o canto fúnebre de seu veredito sobre o Brasil.

‘O país não faz e não tem condições de fazer e o Estado está fadado a fracassar se o fizer’.

Dito assim, de hora em hora, e reafirmado nos intervalos pela emissão conservadora, acaba inoculando uma prostração que subtrai ao país o direito de dizer: ‘eppur si muove’.

O que havia de tão vantajoso assim no Brasil de 1953, em relação à esférica impossibilidade dos dias que correm?

A Petrobras nasceu da rua.

Começa por aí.

Nasceu de um amplo debate que politizava as escolhas do desenvolvimento.

Fez delas uma causa pública.

Tornou-se o ponto de convergência dos anseios de prosperidade com a consciência do seu requisito, a soberania.

Era um sonho.

Mas um sonho politizado.

Que deixa de ser um devaneio, porque submete seus flancos às mediações das circunstancias e ao escrutínio dos projetos.

Há 60 anos, uma geração de homens e mulheres apostou que o petróleo era necessário ao país.

Porque sem ele o Brasil ficaria mais distante dos anseios de dignidade, justiça, independência .

A luta do ‘Petróleo é Nosso’ foi isso.

Como hoje, havia derrisão na mídia conservadora diante do projeto que associava o petróleo a uma industrialização ainda frágil e difusa.

Um especialista, Walter Link, geólogo norte-americano, contratado pelo Conselho Nacional do Petróleo, emitiria, ademais, um veredito fatal.

O famoso Relatório Link descartava (com alguma razão, vê-se hoje) a ocorrência de reservas de alta acumulação em quase todo o território brasileiro.

Exceção feita a uma hipótese intangível.

As reservas mais promissoras concentravam-se na plataforma marítima.

Em profundezas tecnologicamente inacessíveis, a custos economicamente inviáveis, ao abrigo de desafios logísticos inalcançáveis até pelas economias mais ricas.

Era desse calibre a pá de cal do famoso relatório, que as oligarquias estendiam à emergente industrialização.

Se dependesse das restrições da época e do imediatismo das elites saqueadoras, Getúlio Vargas não teria criado a Petrobrás, naquele 3 de outubro de 1953.

Tampouco insistido na industrialização. Ou Juscelino feito Brasília. Nem Celso Furtado teimado em erradicar o apartheid que dava ao Nordeste um quê de bantustão avant la lettre.

A determinação de viabilizar cada um dessas bandeiras, extraiu do planejamento público a credibilidade que lhe sonegavam as elites e seu aparato emissor.

Há mais exemplos que o alto-falante conservador cuida de abafar.

A atual e festejada eficiência agropecuária, por exemplo (de custos ambientais e sociais nunca ponderados).

Só atingiu a grandeza de escala e produtividade, graças à semeadura incansável do crédito público.

E da pesquisa realizada por uma estatal fundada em 1973, que se transformou em referência mundial na agricultura tropical: a Embrapa.

O etanol brasileiro é outro.

Que não sairia do sonho de visionários sem um programa estatal iniciado em 1975, o Pró-álcool.

Bilhões de dólares foram destinados à consolidação do que é hoje uma opção efetiva de combustível renovável.

Sem esquecer a Embraer, estatal criada no final dos anos 60, privatizada em 1994.

Uma das maiores fabricantes de aeronaves de autonomia regional do mundo.

O que havia de singular no pós-guerra, até meados dos anos 80, era esse entrelaçamento da indução pública de recursos com o poder operacional de estatais.

Criadas ou já existentes, elas ordenavam o mercado e o setor privado à consecução de objetivos estratégicos.

O que se seguiu à crise da dívida dos anos 80 é conhecido: rapinagem, corrosão fiscal, sucateamento e privatizações escalpelaram a capacidade do setor público de orientar o desenvolvimento do país.

A década de 90 juntou a fome com a vontade de fazer regime de soberania.

Entregou-se o destino da economia e o da sociedade aos impulsos reptilíneos dos mercados autorreguláveis.

Não por acaso, a industrialização brasileira embicou a partir daí.

Padece hoje do longo e corrosivo esgarçamento dentro do qual terá que se reinventar nas novas –e difíceis-- condições de integração às cadeias globais.

Não é apenas um desafio tecnológico.

Os sacerdotes do sacrifício exibem a sangria como prova dos pecados da oferenda.

E cobram a penitência do autoflagelo definitivo, com a abertura irrestrita do país à purga redentora da concorrência internacional.

O diabo é a Petrobrás.

A sessentona rebelde, com todas as suas cicatrizes e cabelos brancos, avança na contramão do trânsito.

A disparar saltos de eficiência e avanços tecnológicos ali onde a disputa é mais renhida e travada entre gigantes da geopolítica mundial.

Seu êxito ofusca o discurso da rendição redentora aos ‘livres’ fluxos de capitais e mercadorias.

Pior que isso.

Longe de se resumirem a uma efeméride, seus 60 anos embalam um trunfo que avaliza a possibilidade da reindustrialização brasileira.

A sangria de décadas sofrida no parque fabril do país tem sido mitigada com desonerações, protecionismo e ajuste de câmbio.

Mas reverter os buracos consolidados é mais difícil.

O dinamismo que se perdeu teria que ser substituído por um gigantesco esforço de inovação e redesenho fabril, a um custo que um país em desenvolvimento dificilmente poderia arcar.

Exceto se tivesse em seu horizonte a exploração soberana, e o refino, das maiores jazidas de petróleo descobertas no século 21.

É isso o que representa o pré-sal.

Dele o país já obtém 300 mil barris/dia. Este ano nove plataformas entram em operação e podem elevar em 50% a produção da empresa.Em 2020, o pré-sal fornecerá 2,1 milhões de barris/dia, dobrando a produção nacional.

Até 2017, US$ 237 bilhões serão investidos nessa maratona.

Não existe automatismo entre esses valores e o desenvolvimento do país.

Os efeitos virtuosos desse no conjunto da sociedade só ocorrerão por conta de um lacre de segurança que não pode ser removido: o marco regulador do pré-sal.

Aprovado com a oposição de quem agora agita a bandeira contra o intervencionismo petista –- ele institui o regime de partilha e transfere o comando de todo o processo tecnológico, logístico, industrial, comercial e financeiro da exploração à Petrobras.

Todos os contratados assinados nesse âmbito –inclusive os do polemico leilão de Libra-- incluem, por exemplo, cláusula obrigatória de conteúdo nacional nas compras de equipamentos, de 65% , pelo menos.

Esse é o ponto de mutação da riqueza do fundo do mar em prosperidade na terra.

O novo marco regulador transfere à Petrobras a responsabilidade soberana de harmonizar duas variáveis básicas: o ritmo da extração e do refino; e a capacidade brasileira de atender a demanda por plataformas, máquinas, barcos, sondas etc.

Se a exploração correr livre, como gostariam a república dos acionistas e as multinacionais, o fôlego da indústria local será atropelado.

Não são apenas negócios o que está em jogo.

Cerca de 300 mil jovens brasileiros serão treinados nos próximos anos pelo Promimp, o Programa de Mobilização da Indústria Nacional de Petróleo e Gás Natural.

Sem o novo marco regulador, que sofreu e sofre o cerco beligerante do conservadorismo, eles seriam desnecessários.

O conjunto requer ainda forte expansão da rede brasileira de refinarias, estagnada desde 1980.

Tudo isso causa erupções cutâneas na pátria dos dividendos, que prefere embolsar lucros rápidos, com o embarque predatório de óleo bruto.

O que a sexagenária Petrobras propicia hoje ao país, portanto, é uma espécie de berçário da reindustrialização de que o seu desenvolvimento tanto necessita.

É desse arcabouço de medidas e salvaguardas que poderão jorrar os recursos do fundo soberano para superar os grandes interditos que ainda afligem a população brasileira.

Sobretudo, o acesso à saúde e à educação públicas de qualidade.

Desqualificar a estatal criada por Getúlio é um requisito para reverter a blindagem em torno de uma riqueza, da qual as petroleiras internacionais e o privatismo de bico longo ainda não desistiram.

Mais que isso.

É uma salvaguarda contra um perigo maior.

Aquele que pode levar o discernimento nacional a enxergar no épico contrapelo do petróleo nacional – ordenado pelo guarda-chuva de uma estatal espelho poderosa-- uma inspiração para destravar o arranque de um ciclo acelerado de expansão da infraestrutura brasileira.




Clique aqui para ler "Escândalo: Governo quer que Petrobras produza mais!"


E aqui para "Cerra e o pré-sal: entregar como fez com a Vale".


Em tempo: o Conversa Afiada reproduz post do blog Fatos e Dados, da Petrobras:


Completamos 60 anos com meta de dobrar produção



Completamos hoje, 3 de outubro, 60 anos de história. Em ritmo acelerado, temos como meta dobrar a atual produção de petróleo até 2020, chegando a 4,2 milhões de barris por dia (bpd). Só em 2013, nove plataformas, com capacidade de produção somada de 1 milhão de bpd, serão entregues. Temos contratadas 28 sondas de perfuração marítimas para águas ultra profundas. Esses equipamentos estão sendo, pela primeira vez, construídos no Brasil, e começam a ser entregues em 2015. Para transportar o petróleo até a costa, 49 navios de transporte foram encomendados, cinco deles já entregues.

Na área de Refino, também planejamos um grande salto. A produção de derivados, entre eles diesel, gasolina e querosene de aviação, subirá dos atuais 2,1 milhões de barris por dia para 3 milhões bpd em 2020. A Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, e o Comperj (Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro) serão os grandes responsáveis pelo aumento. O primeiro trem da Refinaria Abreu e Lima está previsto para entrar em operação em novembro de 2014 e o segundo em maio de 2015. Já o primeiro trem do Comperj começará a operar em agosto de 2016.

No segmento de fertilizantes, vamos quase dobrar a atual capacidade de produção de ureia, atingindo 3,5 milhões de toneladas em 2020. Para isso, duas unidades de fertilizantes, uma no Mato Grosso do Sul e outra no Espírito Santo, estão sendo construídas. Em julho deste ano, essa capacidade – que era de 1,1 milhão de tonelada/ ano – chegou a 1,8 milhão tonelada/ano com a aquisição da Fábrica de Fertilizantes do Paraná.

Para conseguir dobrar de tamanho, desenvolvemos tecnologia de ponta. Nosso Centro de Pesquisas (Cenpes), além das pesquisas em seus laboratórios, coordena 49 redes temáticas, com 88 universidades, um dos maiores modelos de colaboração entre empresas e academia no Brasil. Os temas de cada rede são relacionados às nossas metas tecnológicas. Com a descoberta do pré-sal, a escala e a complexidade das nossas demandas têm aumentado, estimulando várias empresas fornecedoras, incluindo multinacionais, a construir centros de pesquisa no Brasil, em locais próximos às nossas instalações ou de universidades parceiras.