Libra: Tijolaço desmonta tucano da PUC
O Conversa Afiada reproduz impecável trabalho de desconstrução da ideologia tucana para Libra:
Repensar Libra com as mesmas ideias do passado?
Depois de tentar, pela enésima vez, no post anterior, desmanchar a tolice de certos setores – com boas intenções e péssimos métodos e aritmética – vamos cuidar de quem, como disse a Presidenta Dilma, critica as regras da partilha por defender o capital estrangeiro e não quer mostrar a cara.
No mesmo O Globo, Rogério Furquim Werneck, simpatizante tucano de longa trajetória, publica artigo dizendo que é “hora de repensar o pré-sal”.
O título, provavelmente, é obra de um redator piedoso, porque Werneck nem usa sequer essa palavra no texto: o máximo que diz é que, se fosse “num país sério, deveria dar lugar a uma reavaliação criteriosa das restrições que o governo decidiu impor ao leilão”.
Como Werneck não acha o Brasil um país sério, seu artigo dedica-se a lamentar que “a Petrobras não se tenha contentado com a já esdrúxula participação legal mínima de 30%”.
Como nem o Dr. Werneck nem eu somos novos neste combate, republico aqui o que escrevi sobre suas ideias – de resto, as mesmas – há quase dois anos. Ponto por ponto, procuro revelar o que está por trás de seus argumentos.
A lógica do caixeiro
O professor Rogério Furquim Werneck, um dos decanos do ninho neoliberal instalado na PUC do Rio de Janeiro, volta à carga hoje, na sua coluna, contra a Petrobras.
O seu artigo anterior, prevendo uma Petrobras imobilizada, levou, no mesmo dia, uma tunda do pessoal que não confunde a profissão de economista com a de caixeiro, aqueles mascates tão simpáticos do passado, que se preocupavam em vender tudo, bem rápido, como melhor preço possível e voltar logo para encher de novo o baú de mercadorias, para repetir a dose, enquanto as costas aguentassem o fardo.
Levou uma tunda porque, no mesmo dia, a Petrobras vendia títulos em volume recorde – US$ 7 bilhões – e pagando os menores juros já obtidos em toda a sua história.
Porque, ao contrário dos caixeiros, o mercado heavy-metal está olhando a empresa no médio e longo prazo e sabe que suas perspectivas não são boas, são ótimas.
Porque a Petrobras tem as três coisas que são necessárias para fazer uma grande petroleira.
A primeira, é óbvio, é petróleo. E as jazidas brasileiras, no cálculo mais modesto, vão chegar a 40-50 bilhões de barris. Com otimismo, talvez ao dobro.
E a reserva estabelecida pelo regime de partilha estabelecido no lugar das concessões que vigiam garantem a ela o acesso a este mar de petróleo.
A segunda, é capacidade técnico operacional e tecnológica para explorar este petróleo de águas ultra profundas, bem diferente de furar no deserto de monarquias e regimes “domados”. Nem o mais sectário adorador das multinacionais é capaz de negar a liderança absoluta de empresa neste segmento exploratório.
E a terceira, e é aí que a coisa começa a pegar com o nosso mascate intelectualizado, é capital. Porque ela tem um sócio controlador que não apenas pode capitalizá-la como, neste processo ampliar sua fatia na propriedade da empresa e, portanto, na absorção dos lucros que todos sabem – inclusive o professor Furquim – que ela vai gerar.
Curioso que o professor se escandalize com o fato de que o Governo Federal colocou nela – e não foi grátis, pois a cessão das jazidas já mapeadas de Franco e Libra é, como diz seu nome, onerosa, isto é, a União será remunerada por elas – “R$ 75 bilhões de preciosos recursos do Tesouro”.
Desculpe, professor, mas é da lógica do mercado que o sócio majoritário de uma empresa com perspectivas brilhantes coloque nela capital, porque está colocando onde terá retorno.
A alegação que estes recursos poderiam ser alocados em outras áreas é que se constitui, para usar suas próprias palavras, num “primitivismo estarrecedor”.
E não é preciso uma construção teórica para o provar. Basta perguntar - ao Dr. Furquim Werneck, inclusive – se ele pode apontar os benefícios que o povo brasileiro, dono da Petrobras, auferiu com a venda de parte de seu capital na Bolsa de Nova York, na forma de ADRs, no período FHC. Nem mesmo abateu-se na dívida pública ou se acumularam reservas.
Trocamos um naco da Petrobras – só em parte recuperado com a capitalização – por um nada. Ou por despesas que – mesmo admitindo que não houvesse uns espertalhões de outro tipo de PAC, um “Plano de Acumulação no Caribe” – não deixaram nenhum benefício perene para o Brasil.
Como o tolo da história da galinha dos ovos de ouro, ele reclama que tudo está devagar demais. Que o ouro poderia vir mais depressa se a Petrobras não teimasse em usar o plano de investimentos que terá, obrigatoriamente, de realizar para explorar estas reservas num processo de compras nacionais que gere novas plantas industriais, emprego, riqueza e conhecimento dentro do Brasil.
No “primitivismo estarrecedor” do professor Furquim, por exemplo, teria sido um erro a Petrobras encomendar os navios que levantaram a indústria naval brasileira. Na lógica do mascate, se tem navio para vender lá fora, para entregar mais rápido e custando um pouco menos, é lá que temos de comprar.
Foi assim que o mascate mais festejado do Brasil, o sr. Roger Agnelli, comprou a “Frota do Mico”, os supergraneleiros que, quando não racham, não podem aportar na China.
Ao professor Furquim, com a lógica do caixeiro, pouco se lhe dá, por exemplo, que a encomenda bilionária de três dezenas de sondas de águas ultraprofundas tivesse sido feita aqui. Ao contrário, ele é capaz de provar, e com razão, que se poderia comprá-las na Escandinávia ou na Coreia talvez até uns 10% mais baratas e com entrega mais rápida.
Ele se agarra na entrevista (ótima, por sinal) do ex-diretor de Exploração da empresa, Guilherme Estrella, de que há um ônus imediato na contratação de equipamentos aqui, que faz uma vinculação entre a velocidade de exploração e a capacidade nacional de prover, em boa parte, os equipamentos industriais que ela irá demandar para rebater uma resposta de empresa de que as compras nacionais não guardariam essa relação.
Ora, se algum texto de assessoria afirmou isso, desta maneira, está mais que claro, nos discursos que fizeram a nova presidente da Petrobras, Graça Foster, e a própria presidenta Dilma Rousseff, que essa é uma orientação estratégica.
Aqui não se cometerá a tolice da história da galinha dos ovos de ouro, de correr loucamente para arrancar todo o petróleo, seja como for, para vender seja como for.
Porque nem mesmo o caixeiro, que pratica essa lógica na venda de quinquilharias, age assim quando se trata dos bens próprios, ao que pertence à sua família. Ou aos “batricios”.
Quando se trata de uma riqueza imensa, não-renovável, estratégica, só pode praticá-la quem é outro tipo de vendedor.
Que geralmente são, ao contrário dos cansados caixeiros que viajavam pelo país, encantando as nossas cidadezinhas remotas, homens “cultos”, bem-vestidos e de modos sofisticados.
Mas, na sua alma de desamor a este povo e seu futuro, pensam com um lápis preso na orelha e oferecem-se como os mascates do Brasil.
Por: Fernando Brito