Geraldo Silva no céu
Geraldo entrou no Boeing 737-800 com a insegurança de quem tenta andar numa espaçonave.
Como se lhe faltasse a gravidade.
Trocou o assento 11F pelo 11A e, quando chegaram os verdadeiros proprietarios, Geraldo provocou um engarrafamento no embarque.
Sentou-se ao lado do ansioso blogueiro.
Geraldo tem 64 anos e trabalha numa usina elétrica em Comodoro, Mato Grosso.
A "véia", diz, levou ele a Sapezal e, pela internet, comprou a viagem Cuiabá-São Paulo-Natal-São Paulo-Cuiabá.
Pagou à vista, com a poupança dele e, não, da "véia".
De Natal ele vai a Ceará Mirim ver "meu povo".
Povo que ele não vê há 40 anos.
Ele nunca tinha andado de avião.
Pediu ajuda com o cinto de seguranca.
O ansioso blogueiro sugeriu colocar a mochila no compartimento acima da poltrona.
Para viajar com mais conforto.
- Mas e se a "véia" telefonar ? O celular tá aí dentro.
- Não tem problema. Lá em cima o celular não pega.
Ele aceitou.
Quando o avião decolou, ele reclamou: sentiu um frio na barriga.
- Fica firme. Olha a paisagem que passa.
Ele ficou firme e começou a sorrir.
O avião subindo.
O ansioso blogueiro interrompeu o êxtase:
- Lá em Comodoro alguém já ouviu falar numa moça chamada Miriam Leitão ?
- Não, senhor.
Geraldo pôs os óculos RayBan made in Sapezal, arrumou o boné do Corinthians na cabeça, recostou-se e lá se foi a caminho do céu.
Paulo Henrique Amorim