Fifa detona agentes. E a CBF, protegerá os clubes?
A Fifa decidiu pôr fim ao envolvimento de empresários no futebol. A partir de maio de 2015, os investidores estão proibidos de participar dos direitos econômicos dos atletas de futebol. A Confederação Brasileira de Futebol, por sua vez, foi a primeira entidade mundial a aceitar a medida da Fifa, e divulgou através de seu site oficial a criação do Regulamento Nacional de Registro e Transferência de Atletas de Futebol.
A medida deve impactar as negociações em todo o mundo do futebol. Os agentes, empresários, investidores e fundos - partes importantes no modelo atual - não poderão mais participar das transações. Os clubes passam a ser os únicos detentores dos direitos e responsáveis pelas transferências.
Na teoria, a mudança visa proteger os clubes. Na prática, pode ser mais um obstáculo para os times menores e, em especial, os times sul-americanos.
“Será difícil suportar a pressão e a capacidade financeira de clubes europeus sem ajuda de investidores. Vamos voltar como era há sete ou oito anos, quando o clube europeu chegava com um punhado de dólares e levava uma promessa brasileira. Isso pode voltar a acontecer”, opinou o advogado Marcos Motta, membro do grupo técnico escolhido pela Fifa para definir como será o processo de retirada dos investidores, em entrevista ao iG.
Pressão dos ricos
A nova regra é creditada a pressão dos grandes clubes europeus, principalmente os ingleses, franceses e alemães, que não querem dividir os direitos econômicos de suas principais estrelas. A explicação é óbvia: são equipes ricas e não precisam de ajuda de investidores. Os prejudicados serão os times menores e as agremiações fora da Europa, em especial na América do Sul e no México, que necessitam de parcerias para montagem de elenco e manutenção de grandes jogadores.
“A Fifa está protegendo os clubes ricos. Quem faz pressão é a Inglaterra e a França. Os ricos não têm interesse que fundos façam aportes para que outros clubes", explicou Nelio Lucas, CEO do Doyen Sports, em contato com o Globo.
Reação
As ligas espanhola e portuguesa de futebol estudam entrar com ação na Justiça Comum Europeia contra a Fifa. O grupo, que tem o advogado espanhol Juan Crespo Pérez à frente, defende uma regulamentação e não a proibição dos investimentos de terceiros em atletas.
Portugal e Espanha, como se sabe, passam por grave crise financeira. Barcelona e Real Madrid são pontos fora da curva. A medida da Fifa prejudicaria, e muito, o futebol da Península Ibérica, em detrimento aos ricos campeonatos da Inglaterra e da Alemanha.
Agentes
Além dos clubes de menor expressão, outra categoria será afetada: os empresários. Dentre eles está o português Jorge Mendes, polêmico agente responsável pelas carreiras de grandes estrelas do mundo do futebol, como o craque Cristiano Ronaldo e o treinador José Mourinho.
Mendes também criou a empresa Gestifute, que conduz as carreiras de outros jogadores de alto nível. O staff do português cuida de atletas como James Rodríguez e Falcao García. Mendes já foi acusado pela mídia britânica de usar empresas em paraísos fiscais para comprar jogadores como Di María e Diego Costa.
O sucesso de Jorge Mendes no mundo do futebol é inegável. O empresário chegou a lucrar mais que o Real Madrid, clube mais rico do mundo, com negociações numa temporada. Com as novas regras, tende a perder terreno.
No futebol brasileiro, o número de agentes com participação em direitos econômicos de jogadores também é grande. Nomes como Wagner Ribeiro, Carlos Leite e Juan Figer têm portas abertas para circular nos maiores clubes do país.
Clubes brasileiros
No Brasil, por sua vez, os clubes sofrerão as consequências da mudança da Fifa. Com dificuldades financeiras, os times mais tradicionais do país utilizam o modelo de parceria para aquisição de jogadores.
O São Paulo, por exemplo, contou com o grupo DIS para trazer o meia Paulo Henrique Ganso. O atacante Leandro Damião deixou o Internacional após proposta do grupo Doyen Sports, que o repassou ao Santos e, agora, ao Cruzeiro. Ainda no Colorado, o empresário Delcir Sonda participa ativamente das contratações mais importantes.
Por outro lado, a nova regra abre a possibilidade de os clubes iniciarem um trabalho mais qualificado nas categorias de base. Sem o intermediário, os times podem formar seus próprios atletas e, desta forma, terão o retorno nas futuras negociações. Assim, os clubes rompem esse vínculo e deixam de ser refém dos empresários.
E a CBF?
Como se sabe, a CBF foi a primeira federação a colocar a medida da Fifa em prática. A adesão brasileira, diante das reiteradas reclamações da Conmebol, causa mais dúvidas que certezas.
Afinal, será que a entidade máxima do futebol brasileiro está mesmo preocupada com o futuro dos clubes?
João de Andrade Neto, editor do Conversa Afiada
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