Contra a Escravidão e a mudança do clima
Durante o encontro do Papa com os prefeitos das maiores cidades do mundo, a prefeita de Paris, Anne Hidalgo, filha de imigrantes espanhóis, fez um pronunciamento memorável, na linha do que o Papa disse na Bolívia, aos Movimentos Sociais.
(Não perca as entrevistas ao Conversa Afiada do Boff, Bosi e Comparato sobre esse tema que a Casa Grande e seus trombones amestrados no PiG colocaram no index. Não deixe de ver também que a Encíclica Laudato Si' explodiu no colo do bláblá da Bláblárina.)
Na primeira fila desse encontro com o Papa e D. Claudio Hummes aparecem Fernando Haddad e Hidalgo.
Amigo navegante que lá esteve enviou uma copia do discurso de Hidalgo que aqui se resume, numa tradução (precária) do ansioso blogueiro.
Estou muito feliz de estar aqui e agradeço ao Papa o convite para tratar do tema “Escravidão e Mudança Climática”.
A degradação do meio ambiente e a degradação social remetem a uma mesma lógica de liberalização e mercadização dos objetos, dos recursos naturais e das pessoas humanas, hoje submetidas às leis do mercado ou do interesse imediato – e não mais a qualquer norma natural ou espiritual superior.
A crise que abala o nosso mundo é portanto global: econômica, social, ecológica e moral. É uma crise de civilização. O hiper-capitalismo financeiro, fundado sobre a busca do lucro insaciável de curto prazo, não é viável, nem esse produtivismo sem controle, cego, associado à exploração sem limites das pessoas e do meio ambiente.
(… )
A Igreja, hoje, tende a preencher, com uma força extraordinária, a sua missão de “consciência da mundialização”. Lideres políticos e religiosos devem manter um dialogo frutífero … para renovar o laço entre o homem e a natureza, de que é parte integrante , para enfrentar a ideologia relativista, individualista e consumista que reina hoje.
(…)
… o trafico de seres humanos , sob múltiplas formas, atinge os mais frágeis…
As grandes cidades tem um papel importante no combate a esse trafico. Se elas concentram riquezas e dinamismo, elas abrigam também situações intoleráveis de trafico e escravidão, que muitas vezes, elas, as cidades, por sua densidade, tendem a dissimular.
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A crise ecológica e a crise social se alimentam uma da outra. Foi por isso que a Igreja fez do meio ambiente uma preocupação central. Por isso, saúdo a encíclica Laudato Si', cuja força extraordinária e inédita já ressoa no mundo inteiro e vai pesar no debate mundial sobre essa questão.
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A mundilização liberal produziu grandes desastres. Não basta tratar disso: temos que ter a ambição de promover um novo modelo e outros valores, a coragem de impor limites ao sistema atual e recuperar o sentido das grandes finalidades. Essa revolução será fruto de um diálogo renovado entre religião, ciência, política e sociedade civil. Temos um caminho comum a percorrer, que concilia o progresso social, em particular nos países mais pobres, e a preservação de nossa “casa comum”.
É assim que construiremos um novo mundo sobre os escombros do velho, um mundo que respeite mais a ecologia, um mundo mais justo e solidário. "