Atacada por bolsominions, China responde por 80% do superávit brasileiro
Os ataques do governo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) à China podem custar caro à economia brasileira.
Segundo reportagem do Valor Econômico, de janeiro a março deste ano o superávit do comércio bilateral com a China, maior destino das exportações brasileiras, atingiu US$ 4,33 bilhões, bem acima dos US$ 2,96 bilhões de igual período de 2019. Já o comércio bilateral com os Estados Unidos, segundo parceiro comercial do Brasil, resultou em déficit de US$ 2,73 bilhões no primeiro trimestre deste ano.
O superávit com a China de janeiro a março de 2020 perde na série histórica do comércio bilateral do período somente para o saldo positivo de US$ 5,53 bilhões obtido de janeiro a março de 2017. Naquele ano, no entanto, o saldo com os chineses equivalia a 38,4% do superávit total da balança brasileira. Este ano, o resultado positivo do primeiro trimestre com a China equivale a 77,9% do superávit total, segundo dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex/ME), ligada ao Ministério da Economia.
“Com a crise de demanda internacional intensificada pela covid-19, a exportação brasileira está mais dependente da China”, diz José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB) ao Valor.
Nesse sentido, afirma ele, as recentes declarações do ministro Weintraub não ajudam. Isso, avalia, pode fazer com que o exportador de soja, por exemplo, perca mais ainda em preços, o que afeta o valor total embarcado pelo Brasil. “A crise cria uma situação em que o país precisa dançar conforme a música, e ainda estamos pisando no pé da dançarina.”
Mario Carvalho, economista da Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex), acredita que o episódio com o ministro criou “tensionamento desnecessário”. Atualmente, diz ele, há intensa negociação de preços entre exportadores brasileiros e importadores chineses principalmente em razão da desvalorização cambial. O episódio, avalia, prejudica o exportador brasileiro, que tende a entrar já em desvantagem na negociação.
Barral receia que “declarações desastradas” tenham efeito mais amplo. “As relações políticas podem afetar não somente o comércio de curto prazo de soja, mas também a certificação na China de frigoríficos ou de produtores de leite. Até mesmo investimentos em infraestrutura podem sofrer impactos. Foram as boas relações entre China e Brasil no governo [de Michel] Temer, por exemplo, que contribuíram para maior abertura do mercado chinês para as carnes brasileiras”, confirma Barral.