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Bancários abrem encontro com debate sobre o fora e o pós Bolsonaro. E uma agenda de retomada

Bolsonaro “nem salvou vida, nem salvou a economia”
publicado 18/07/2020
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(Redes Sociais)

Rede Brasil Atual - Na abertura da 22ª conferência nacional dos bancários, na noite desta sexta-feira (17), o principal debate – além da campanha salarial que começará em breve – foi sobre as saídas da crise. “A esperança é mudar o governo”, afirmou, por exemplo, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que integrou a mesa de abertura ao lado do ex-ministro Fernando Haddad, do governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), e do líder do MTST (sem-teto) Guilherme Boulos. Todos defenderam a atuação do Estado, com investimento e políticas públicas.

Com 635 delegados, representando 118 sindicatos e 10 federações, a conferência, que termina neste sábado, é realizada pela primeira vez de forma virtual. No total, a categoria reúne 453 mil trabalhadores, com data-base em 1º de setembro. Eram 512 mil antes do impeachment, em 2016, lembram os bancários.

Dino falou sobre “a tutela militar sobre as instituições civis” no atual governo, considera que se trata de uma questão central. Hoje, são 6 mil cargos civis exercidos por militares, o que talvez não tenha acontecido nem durante a ditadura, comentou o governador. Além disso, é preciso demonstrar para a população, na prática, a importância do regime democrático. “A democracia não pode ser uma abstração, um conceito jurídico”, afirmou. Tem que ser vista, acrescentou, como “um regime pelo qual as pessoas têm direitos”.

Mobilização social

A presidenta da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT), Juvandia Moreira, enfatizou a importância da mobilização da sociedade em um contexto adversos. “Só depois que a sociedade se organizou e lutou é que veio o auxílio emergencial”, exemplificou. Ela lembrou que o governo só se preocupou com a questão social depois de “socorrer” o sistema financeiro, a pretexto de garantir a liquidez, com R$ 1,2 trilhão. Mas o acesso ao crédito continua difícil.

Para Lula, um governo responsável teria antes de mais nada formado um comitê de crise. “Em vez de coordenar para reger sua orquestra, ele (Bolsonaro) preferiu brincar. Ele não tem competência para governar este país, ele não tem solução para os problemas. Ele não está pensando em salvar a economia. Ele é ignorante e não entende nada de economia. Absolutamente nada. E o (Paulo) Guedes, muito menos”, criticou o ex-presidente.

O petista afirmou que Bolsonaro trata a morte das pessoas (na pandemia) e os problemas sociais “com muito descaso”. E também lamentou a atitude dos militares. “Não imaginava que este país, depois da Constituição de 1988 fosse eleger um cidadão tipo Bolsonaro. E não imaginei que as Forças Armadas brasileiras fossem dar sustentação às loucuras que ele faz. Não podemos nos iludir, a direita está organizada.” Mas o principal empecilho, avalia Lula, está na elite brasileira, “que é muito perversa”.

Lula criticou e questionou a insistência de Bolsonaro com a cloroquina. “O isolamento é a única coisa enquanto não tiver a vacina. (…) Eu acho que ele é sócio do laboratório do Trump, não é possível”, ironizou.

Falta reação

Ele lamentou que esteja havendo no país o que chamou de “naturalização” da morte. Além das injustiças. Citou a comoção que tomou conta dos Estados Unidos após o assassinato de George Floyd por um policial, em maio. E lembrou que uma cena parecida aconteceu recentemente, com uma mulher, sem que houvesse reação semelhante.

Após a fala do ex-presidente, já depois das 21h, os bancários fizeram uma surpresa e colocaram no ar a cantora Ana Cañas. Ela cantou, à capela, O Bêbado e a Equilibrista, de João Bosco e Aldir Blanc, que morreu recentemente e foi homenageado. “É uma canção eterna, um hino desse país”, disse Ana.

Sem ilusão com o governo

Segundo Flávio Dino, haverá muito “entulho autoritário” recente para remover em um próximo governo progressista. “Um deles é a legislação antissindical”, afirmou. Ele pediu atenção a discursos que surgem sobre mudanças nas políticas sociais. “Estou com medo de esse discurso de política social ser para diminuir ainda mais a renda do trabalho.”

Haddad afirmou que também não pode haver ilusão quanto a um comportamento supostamente moderado de Bolsonaro nas última semanas, depois da prisão de Fabrício Queiroz. “Não estamos só diante de um mau governo. O mau governo a população corrige na urna. Estamos diante de um mau governo que tem intenção de solapar as bases institucionais construídas no pós ditadura, (criadas para) que nós possamos lutar por direitos com liberdade. Não podemos ter ilusões sobre a natureza do governo Bolsonaro. A sociedade, sim, demonstrou capacidade de reação”, disse o ex-candidato à Presidência pelo PT.

Para ele, até mesmo antes do impeachment as instituições “estão sendo minadas todos os dias por dentro”. E a ex-presidenta Dilma Rousseff não foi impedida por crime de responsabilidade. “Todo mundo sabe disso. Foi impedida porque foi reeleita.”

Também ex-candidato (pelo Psol), Boulos concordou que não se pode confiar em um Bolsonaro “civilizado”. Para o ativista, o presidente “quer se aproveitar do desastre humano para promover o autoritarismo político”. Nesse sentido, “fez dos domingos em Brasília o dia do fascismo”, acrescentou.

Muitas vidas poderiam ter sido salvas na pandemia se o governo atuasse nessa direção, argumentou Boulos. Mas Bolsonaro “nem salvou vida, nem salvou a economia”. “Não há salvação com esse desgoverno. Bolsonaro é incorrigível, é um criminoso, comete crimes de responsabilidade diariamente, atenta contra a democracia.”

Juvandia e a presidenta do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Ivone Silva, reforçaram a importância da convenção coletiva nacional, assinada pela primeira vez em 1992, para preservar direitos. E destacaram as recentes ameaças contra a organização sindical. Logo no início da pandemia, lembrou a presidenta da Contraf, os bancários abriram negociação para aprovar medidas “para proteger tanto os bancários como os clientes”.

Aprovação da pauta

“A pandemia nos coloca a obrigação do distanciamento, mas estamos procurando formas de aprimorar nossa luta e fazê-la acontecer”, acrescentou Juvandia. “Não é isso que vai nos impedir de organizar a categoria”, completou Ivone.

A mesa virtual de abertura da conferência teve ainda a presença de representantes de centrais sindicais, como os presidentes da CUT, Sérgio Nobre, e da CTB, Adilson Araújo. Também participaram dirigentes bancários de todo o país, representando as várias forças políticas internas. Durante o sábado, serão realizados debates com temas como sistema financeiro e reforma tributária, terminando com a aprovação da pauta de reivindicações a ser encaminhada aos bancos.