Colosso da Cegonhóloga faz homens de cachorros!
São Paulo tem 20 mil moradores de rua
publicado
03/11/2017
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Robério de Jesus veio de Jacobina (BA) para tentar arrumar emprego em São Paulo; mesmo morando na rua, ele não quer retornar para a terra natal (Créditos: Ricardo Matsukawa/UOL)
Do UOL:
Crise e desemprego acentuam drama de moradores de rua: "A gente é visto como cachorro"
Todas as manhãs, depois de comandar a missa na paróquia de São Miguel Arcanjo, na Mooca (zona leste de São Paulo), o padre Júlio Lancellotti repete a mesma rotina. Por pelo menos duas horas, ouve, orienta e auxilia dezenas de moradores de rua a buscar um lugar para comer e dormir.
Nos últimos três anos, a quantidade de pessoas que procuram o padre para pedir ajuda aumentou. Com mais de 30 anos dedicados ao convívio com a população de rua de São Paulo, o religioso vê um agravamento da situação. "Há um aumento de pessoas desempregadas, desalentadas, que não encontram nenhuma possibilidade", observa.
"É muita gente procurando emprego, com dificuldade para pagar aluguel, despejadas. As pessoas estavam na beirada, se segurando em alguma coisa, e caíram."
Uma das pessoas que chegaram à paróquia em busca de apoio é José Ivonaldo de Lima Santos, 38. Depois de uma discussão no açougue em que trabalhava, ele foi demitido e não conseguiu mais pagar o aluguel do quarto onde morava, em Guarulhos, na Grande São Paulo. Desde maio, passou a viver pelas ruas, sem um lugar fixo para dormir.
Ivonaldo já havia passado por situação semelhante em 2005, quando, depois de se separar da mulher, começou a abusar de bebidas e drogas e chegou a viver como morador de rua por dois anos. Desta vez, no entanto, ele diz que o problema é outro: a dificuldade para arrumar emprego, apesar da experiência como açougueiro. "Fica difícil cuidar da aparência, tomar banho. A gente é visto como cachorro", lamenta.
(...) Pai de uma menina de um ano de idade, Robério de Jesus, 27, chegou de Jacobina (BA) há cinco meses. Conseguiu viajar de ônibus para São Paulo com a mulher e a filha, mas, desde então, vive uma rotina de dificuldades nas ruas.
Com o dinheiro que ganhou com bicos, conseguiu comprar uma barraca e passou a morar nas imediações da paróquia do padre Júlio. Mas, há cerca de duas semanas, teve a barraca apreendida por equipes de zeladoria urbana da prefeitura. A família voltou a viver em situação precária, às margens da avenida Radial Leste.
No início da semana, quando já pensava em desistir da vida em São Paulo e voltar para a Bahia, Robério conseguiu um emprego para trabalhar no setor de carga e descarga de um supermercado. Mesmo morando na rua, ele agora não quer mais retornar para a terra natal, onde trabalhava na roça, quase dez horas diariamente, para ganhar apenas R$ 25 por dia.
O censo de 2015 apontou que mais de 80% dos moradores de rua de São Paulo são homens, têm em média cerca de 40 anos de idade e a grande maioria é formada por "não brancos" --o que inclui negros, pardos e aqueles com ascendência oriental ou indígena. A taxa de analfabetos chega a 10%. (...) Atualmente, entidades que atuam junto à população de rua estimam que o total de moradores vivendo em abrigos ou nas calçadas da cidade já passa de 20 mil pessoas (...)
Em tempo: sobre a Cegonhóloga, consultar o ABC do C Af.