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EBC: por que Ricardo toma posse na véspera da queda

Até que a Globo volte a ser a “nós já temos uma rede de televisão”
publicado 09/05/2016
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ricardo melo

Ricardo Melo e a joia (desperdiçada) da coroa

O Roberto Requião conta que, logo após a posse do Lula, em 2003, ele foi ao Palácio do Planalto:

- Lula, por que você não faz como eu fiz no Paraná ? O Lerner tinha enchido o bolso da Globo de publicidade. Eu tirei tudo e botei na tevê educativa, que estava sucateada. Modernizei, contratei profissionais, abri o espaço para debates de temas sociais, de políticas  públicas. Fiz um acordo com a TeleSur do Chávez e entrei aqui na América do Sul. Por que você não pega o dinheiro da Globo e monta uma TV estatal forte?

O Lula achou a ideia ótima e disse, segundo o Requião:

- Requião, vai aí no corredor, entra na última sala à direita e conta essa história.

O Requião foi lá.

Era a sala do chefe da Casa Civil, o José Dirceu.

Requião contou a mesma história.

O Dirceu respondeu.

- Mas, Requião, você não entendeu nada!

- Como assim, Dirceu?

- Nós já temos uma rede de televisão!

- Qual?

-  A Globo!

É que, segundo o Requião, o Dirceu achava que ia “seduzir” a Globo com a mídia da SECOM, que o FHC Brasif despejou lá…

Por falar nisso...

Ricardo Melo é um dos melhores jornalistas brasileiros.

Não faz parte daquela turma que o Mino Carta define como “pior que o patrão”.

Ao contrário: trabalhei com ele na BAND, a rede de televisão porta-voz da UDR.

(Como o Ronaldo Caiado, seu símbolo, a BAND é “uma voz em busca de uma inteligência”.)

E testemunho a bravura e independência do Ricardo.

Ricardo Melo foi convidado para presidir a EBC, a Empresa Brasileira de Comunicação, uma S/A controlada pelo Governo Federal.

É o que deveria ser uma central estatal de mídia: rádio – duas marcas fabulosas, Nacional e MEC - , uma agência de notícias, a Agência Brasil, e a joia da coroa, a TV Brasil.

Ah, se o Requião metesse a mão nisso!

Aos 40' do segundo tempo, quando vaca já tinha ido para o brejo – foi o que aconteceu com o Aragão, ministro da Justiça – o Governo Dilma chamou o Ricardo para presidir a EBC.

Ricardo toma posse amanhã, 10 de maio.

No dia seguinte, a Dilma cai no Senado.

No dia 12, a Globo volta a ser a “nós já temos uma rede de televisão” estatal.

Por que o Ricardo toparia assumir a presidência da EBC, na véspera do Golpe?

O ansioso blogueiro fez essa pergunta a um amigo/a comum, que trabalhou também com o Ricardo e conhece um pouco dessa história.

Aqui vai (em parte) seu relato, sem que se possa identificá-lo/a:

A explicação é simples, pelo menos até onde eu sei.

Desde a saída intempestiva do Américo Martins há três meses, a presidência da EBC estava vaga.

A intenção da SECOM desde então era indicar uma pessoa alinhada com o PT e com o Ministro Edinho.

Houve a escolha de um nome, mas esbarrou no pente fino que é feito com todo mundo que é indicado para o cargo.

As tentativas de regularizar a situação não deram certo.
 
Com a lentidão própria deste governo, propuseram que o Ricardo assumisse o cargo na… semana passada!

Porque sabiam que o Ricardo é identificado com o projeto de uma emissora pública, por ser um jornalista com história própria e por ter trânsito com o Governo efetivamente eleito.

Mesmo sabendo que ele não é filiado a partido algum.

(Você sabia que, desde 1989, o Ricardo não vota em ninguém: paga as multas e pronto!)

Vendo de fora, o que pesa em tudo isto é que, pela lei que criou a EBC, o presidente nomeado tem mandato de quatro anos.

Só pode ser afastado pelo Conselho Curador, se cometer crimes contra a administração pública ou se pedir demissão.

Ou seja, será uma trincheira política.

Você conhece o Ricardo: não faria sentido ele entregar ao "novo governo” o direito de fazer a indicação.

Não renunciaria a fazer uma resistência política.

É o jeito dele!

Ele está careca de saber que os direitos previstos em lei não querem dizer muita coisa neste momento.

Se conseguem depor uma presidenta eleita pelo povo, o que dizer de um simples presidente da EBC?