Estado do Rio tem 1,3 mi de desempregados
"Ultimamente, nem bico aparece..."
publicado
19/10/2017
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O Conversa Afiada reproduz trechos de reportagem do UOL:
Rio tem mais de 1 milhão de desempregados: "Pior tempo da minha vida"
"O pior tempo da minha vida é esse agora", diz Tatiana Cristina da Silva, que tem 34 anos e é mãe solteira de três filhos, de 17, 15 e 9 anos.
Ela conta que há pelo menos um ano não faz nem ao menos um "bico". "Já passei aperto, mas esse é o pior. Ultimamente nem bico aparece. Faço faxina, passo roupa, faço o que aparecer. Nem que seja entregar papel. Estou surtando", diz a carioca, que atualmente vive em uma comunidade em Madureira, na zona norte do Rio.
Na casa dela, a crise se manifesta principalmente na geladeira. "Antes, eu trabalhava e não faltava nada. Tinha danone na geladeira e o armário cheio. Agora é vaca magra. Não tem carne. Tem só arroz e feijão", afirma Tatiana.
(...) "Falam que a situação está brava, que não estão contratando. A gente manda currículo e ninguém liga. Fiz uma entrevista, gastei com a passagem e até hoje ninguém me ligou. Tem três meses isso", diz Tatiana. (...) Ela já imagina uma nova tentativa para equilibrar as contas: "O calor está chegando e vou vender sacolé. Viver assim não dá, é muito ruim depender dos outros", diz.
(...) Tatiana é uma entre 1,3 milhão de desempregados no Estado do Rio de Janeiro, de acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Em agosto, o Estado fechou 3.400 vagas com carteira assinada, de acordo com o Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados).
A taxa de desemprego no Rio de Janeiro ficou em 15,6% no segundo trimestre do ano. (...)
O último ano também não foi bom para a advogada Bárbara Barros de Oliveira, 49. Apesar da formação superior e de até já ter sido dona do próprio escritório, atualmente ela espera a resposta para ser bilheteira no BRT Rio, empresa de ônibus no sistema de transporte coletivo.
"Me formei em 2000 e antes tinha ofertas melhores de trabalho. Já tive meu próprio escritório, parcerias. Fechei há dois anos e até ano passado eu trabalhava em um escritório de um advogado. Mas as coisas pioraram. Quiseram cortar salários, diminuir honorários e depois demitiram", diz a advogada.
Ela continua procurando trabalho e fez alguns trabalhos de "free-lance". "Uso sites, Facebook, compro os jornais aos domingos, entro em grupos de WhatsApp. Mas também distribuo currículo in loco", contou Bárbara, que hoje depende da mãe, aposentada, com quem mora.
"Não sou só eu, tem muita gente nesse barco. Se olhar em volta, tem gente em situação bem pior. Vou continuar distribuindo currículo" (...)
Alexander da Silva, 42, diz que não se lembra de quando teve um trabalho estável com carteira de trabalho assinada.
Em 2016, teve uma breve esperança. Mas durou somente três meses.
"Era um trabalho de repositor em um supermercado. Mas aí teve um corte e eu saí", disse Silva, que estudou até a quinta série do ensino fundamental.
Atualmente, carrega uma placa de "compro ouro" ou uma de "compro joias" pelas ruas do centro do Rio. O "bico" paga R$ 50 por dia e mais nenhum direito.
"Gasto R$ 8 de condução e R$ 12 na quentinha. Sobram R$ 30. De vez em quando, aparece um bico de eletricista também", diz ele.
"Já fiz de tudo: coletor de lixo, catador de reciclagem, serviços gerais. Antes da placa, eu entregava panfleto e era pior porque eram apenas R$ 30 por dia. Mas eu sempre estou 'botando' currículo", conta, esperançoso. (...)
Em tempo: sobre o crescimento do trabalho informal, assista à nova reportagem da TV Afiada, O que o povo faz nas ruas para sobreviver.