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Gabas: presidente ladrão impõe "teto da morte"

Reforma entrega a Previdência aos bancos!
publicado 30/01/2018
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O Conversa Afiada publica artigo de Carlos Gabas, ministro da Previdência Social do governo Dilma (assista à entrevista na TV Afiada) e de Esther Dweck, Professora do Instituto de Economia da UFRJ e ex-Secretária de Orçamento Federal:

“A Terapia do Choque e o Desmonte da Previdência Social”


O governo apresentou no dia 22 de janeiro o resultado do Regime Geral da Previdência Social (RGPS) e o resultado do Regime Próprio de Previdência Social Federal (RPPS), registrando um “déficit recorde” de 268 bilhões de reais para o ano de 2017. A divulgação com grande pompa tem o objetivo claro de influenciar no debate sobre a reforma da previdência que tem votação marcada na Câmara no próximo mês, dia 19 de fevereiro.

Temer sabe que ainda não tem os votos suficientes para aprovar a PEC e por isso quer aumentar o clima de terror usando os dados alarmantes. Com isso, mantém o falso discurso de que a Reforma é para garantir a sustentabilidade e reduzir privilégios.

Uma análise mais detalhada dos dados permite entender o resultado apresentado e reduzir o alarmismo do discurso oficial. Além disso, é possível demonstrar que a proposta de reforma da previdência apresentada pelo governo não tem por objetivo nem a sustentabilidade do sistema muito menos combater privilégios, ao contrário, é um ataque frontal aos mais pobres e tem por objetivo o impacto no curtíssimo prazo, ao longo dos próximos 10 anos, em um período de boom demográfico.

Em primeiro lugar é preciso separar a análise do Regime Geral (RGPS) do Regime Próprio Federal (RPPS), pois têm lógicas muito distintas e passaram por mudanças diferentes ao longo do tempo. Parte das alterações recentes nos dois regimes ajudam também a entender o que está acontecendo agora. As duas mudanças mais recentes foram a criação do FUNPRESP, no caso do RPPS, e a substituição do fator previdenciário pela regra 85/95, no caso do RGPS. Ambas mudanças foram feitas durante o governo Dilma, em 2012 e 2015 respectivamente, e têm impacto negativo no curto prazo.

A criação do FUNPRESP, em 2012, foi a verdadeira equiparação entre os dois regimes, ao criar o Regime Complementar para os servidores públicos federais de todos os poderes e estabelecer o mesmo teto para todos os trabalhadores de ambos os regimes. Essa mudança, como não poderia deixar de ser, vale para todos os servidores que ingressam no serviço público federal a partir de 2013 e tem duas consequências principais. No curto prazo, tende a aumentar o descasamento entre receitas e despesas, com efeito negativo sobre o resultado, pois os novos servidores passam a contribuir apenas até o teto e a União faz o aporte nas contas dos servidores que aderiram ao regime complementar. No médio a longo prazo, a partir de 2030, passa a ter um resultado extremamente positivo, garantindo a total sustentabilidade do sistema.

Em segundo lugar, é preciso separar os fatores conjunturais dos fatores estruturais na explicação dos resultados apresentados. Como os próprios números apresentados pelo governo demonstram, a despesa do RGPS se manteve praticamente constante em termos do PIB entre 2005 (6,7%) a 2014 (6,8%) oscilando, ao longo dos anos, entre 6,4 a 6,9%. Os valores menores estavam claramente associados a um crescimento maior do PIB. Foi apenas a partir de 2015 que houve um aumento acelerado da despesa, passando de 7,3% em 2015 para 8,4% em 2017. Esse fator é claramente um fator conjuntural, decorrente principalmente da queda do denominador, que teve crescimento real negativo em dois anos consecutivos (2015 e 2016) e um crescimento baixo em 2017. Pelo lado da receita, ao contrário, entre 2003 a 2014 houve um crescimento ininterrupto (considerando a compensação pelo tesouro da desoneração) passando de 4,7% do PIB para 5,8% e caindo desde então. A combinação desses dois resultados aponta para uma situação oposta ao que o governo propaga. Até 2014, o indicador considerado pelo governo como déficit da previdência estava em queda. Passou de -1,7% em 2006 para -1,0% em 2014, tendo alcançado -0,8% em 2012. É somente a partir de 2015, diante do aumento do desemprego e da queda do PIB que o resultado dispara, chegando a -2,8%.

Finalmente, cabe destacar que nenhum regime previdenciário e mais amplamente de seguridade social do mundo é financiado exclusivamente com receita dos trabalhadores e empregadores. A própria concepção de seguridade social estabelece um sistema de proteção para a sociedade como um todo e foi concebido após a crise de 1930, onde em um País que já era a maior potência mundial, os EUA, houve fome decorrente de uma crise econômica. Desde então, tornou-se evidente a necessidade de uma garantia de renda permanente à população idosa como forma de evitar colapsos sociais e ficou claro que era um benefício de toda a sociedade e que assim deve ser financiado de forma repartida.

Os regimes previdenciários no Brasil, seja o RGPS ou RPPS federal e mesmo subnacionais têm passado por diversas mudanças. As alterações feitas nos governos Lula e Dilma tiveram o objetivo de garantir a sustentabilidade e cortar privilégios, mas sempre com a preocupação social de tornar o regime cada vez mais justo e distribuidor de renda.

A proposta feita pelo governo Temer, ao contrário, tem como único objetivo atingir os mais pobres e adiar a aposentadoria daqueles que poderiam exercer esse direito nos próximos 10 anos, para tentar impor o “teto da morte”. Ao reduzir a proteção social pública, o Governo entrega para iniciativa privada um potencial enorme de lucro às custas dos Trabalhadores, especialmente os mais pobres. Afinal, quem fala em “acabar com privilégios” não pode perdoar as dívidas dos grandes devedores da Previdência Social, como tem feito o Governo Temer, de forma descarada.