Greve: bancos lucram mais que nos EUA
O Traíra entre açougueiros do neolibelismo (ver "em tempo")
PHA: Eu converso com Juvandia Moreira, presidente do Sindicato dos Bancários de São Paulo.
(Foi por telefone, na manhã de 14/set/2016.)
Juvandia, vocês e os bancos tiveram uma outra rodada de negociações nesta terça-feira, 13, e não chegaram a um acordo. O que separa vocês dos bancos?
Juvandia: Os bancos apresentaram uma proposta com perda real para os trabalhadores bancários. Ou seja, um reajuste abaixo da inflação. Uma inflação de 9,62% e uma proposta de 7%, mais um abono de 3.300 reais. Então, eles querem substituir o reajuste pelo abono, que não se incorpora nas férias, no 13o., na carreira. E isso, a gente viu na década de 1990. A gente viveu essa política e nós tivemos muitas perdas no salário, no poder de compra, no salário médio da categoria, por conta de reajustes abaixo da inflação.
PHA: Você diz, num press release, que, no primeiro semestre de 2016, o lucro dos cinco maiores bancos chegou a 30 bilhões de reais e, no mesmo período, houve o corte de aproximadamente oito mil postos de trabalho. É isso?
Juvandia: Exatamente. Esse é outro problema que nos afasta do acordo. Nós queremos o fim das demissões, a garantia dos empregos, algum mecanismo que garanta os empregos, e os bancos se recusam a fazer isso. Se recusam a ter um compromisso de que não vão continuar essa política de cortes, mesmo a gente vendo que os ganhos deles continuam muito altos, mesmo todos os dados mostrando que a rentabilidade dos bancos no Brasil é muito superior a outros países.
A gente vê estudo da Economática que comparou e estudou o setor financeiro, comparou o Brasil com Estados Unidos. Rentabilidade média aqui no Brasil, mediana, é de 20%. Nos Estados Unidos, é 8,37%.
Quer dizer, os bancos brasileiros não têm justificativa pra não repor a inflação, discutir um aumento real, ou negar garantia dos empregos, melhorar as condições do trabalho.
PHA: O que essa greve tem de diferente, Juvandia?
Juvandia: Negociar com banqueiro é sempre muito difícil. A categoria tem data-base em 1o. de setembro. Essa é uma greve que está colocada em um cenário de crise, de golpe... Com um governo que quer impor, também, redução de direitos para os trabalhadores, com ameaça de uma reforma da previdência que vai, na verdade, prejudicar muito os trabalhadores...
Ameaça de aprovar um projeto de terceirização na atividade-fim, que é o fim das categorias organizadas, é o fim de todos os direitos que tivemos anos de luta pra conquistar... A gente tem o exemplo do México, que aprovou a lei da terceirização e que, hoje, você tem o BBVA, que é um banco que tem 99% de terceirizados. Só sobrou 1% de bancários.
Então, é uma greve que também está colocada num cenário em que a gente está lutando por direitos, pra não perder nenhum direito. E onde o governo tenta colocar, junto dos bancos, para a categoria bancária, um exemplo de categoria que vai perder, que não vai repor a inflação, que vai ter perda salarial... E jogando a culpa da situação (econômica) na inflação e em cima dos trabalhadores, quando, na verdade, a gente vê que não é essa a questão. Tem a ver com o câmbio, tem a ver com a recomposição da margem de lucro dos empresários, porque a massa salarial caiu, o número de desempregados é grande... Não tem nada a ver com o reajuste das categorias.
PHA: Eu leio também aqui que, no oitavo dia - ou seja, ontem, terça-feira -, que, das doze mil agências, aproximadamente 51% estavam em greve. Esse número, 51% de adesão à greve, é o maior número de adesão que você tem em greve na história, que você conheça?
Juvandia: Exceto a greve de 1985, que foi uma greve que teve mais de 90% de adesão, é realmente uma das grandes greves. É uma greve muito forte. Muito mais forte do que a que a gente teve no ano passado, que foi já uma greve forte. São doze mil locais de trabalho parados. Pra você ver como os bancários estão indignados com a proposta que os banqueiros colocaram.
PHA: Eu li ontem no Valor um artigo do professor Yoshiaki Nakano, professor e diretor da Escola de Economia da FGV de São Paulo. Ele diz assim:
Diante desse quadro descrito pelo professor Nakano, você acredita que o atual Banco Central tem condições de reverter esse processo de endividamento do país junto aos bancos?
Juvandia: Quem comanda o Banco Central, hoje, é o Ilan Goldfajn, que é do Itaú.
PHA: Foi o economista chefe do Itaú.
Juvandia: Exatamente. Economista chefe do Itaú e também acionista. Então, na verdade, você está colocando a raposa pra cuidar do galinheiro. Você está entregando esse comando para o setor financeiro privado, que não vai fazer esforço. Na verdade, o esforço é o contrário: os bancos publicaram nota - Santander e Itaú - apoiando a PEC 241, que é uma PEC extremamente prejudicial para o Brasil e os brasileiros. Vai congelar, em termos reais, todos os gastos sociais. A saúde, educação, todos os gastos sociais, só vão crescer pela inflação.
Porém, os gastos financeiros, esses não terão limite - podem crescer, ter crescimento real. Isso quer dizer o seguinte: mais do que nunca, eles vão se apropriar da riqueza. Esse percentual que eles ficam, no orçamento público, vai crescer ainda mais.
PHA: Eu entendo que a sua resposta é "não"?
Juvandia: Com certeza! Não acredito nisso. Todo o movimento deles é o contrário. E você coloca um banqueiro para cuidar de toda a Economia. E ditar o orçamento, porque o Ministério da Fazenda também vai nessa mesma linha. É liberar o orçamento público para o setor financeiro, ao invés de liberar para saúde, para educação, para cultura, para investir em algo que fique para a população.
Então, acredito que eles não vão reverter esse quadro. Muito pelo contrário: eles estão tentando ficar com a parte maior do orçamento.
Em tempo: o presidente do Banco Central e o Ministro da Fazenda (ah, se o Tinhoso soubesse o que o Delfim pensa dele...) são aqui chamados de Açougueiros do neolibelismo. São os que pretendem instalar o programa dos Chicago Boys do Pinochet no Brasil. Mas, antes terão que combinar com os 40...