IDH e Neri: o desastre social é ainda maior!
A pobreza aumentou 20%! É um genocídio!
publicado
22/03/2017
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A propósito da divulgação dos dados do IDH da ONU, "a Casa Grande exulta: somos piores que o Haiti!", o economista Marcelo Neri, que dirigiu o IPEA no Governo Dilma, disse ao PiG cheiroso:
Indicador subestima queda da renda e retrocesso é pior do que parece, diz Neri
O retrocesso social observado no Brasil desde 2015 é ainda pior do que mostra a estagnação do Índice de Desenvolvimento Humano, calculado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), afirma o pesquisador Marcelo Neri, diretor da FGV Social. "Os dados apontam um empate, que a gente não costuma ver como bom resultado, mas na verdade o que tivemos foi uma derrota grande. O retrato é pior quando você olha para indicadores mais abrangentes, e principalmente mais atuais".
Neri afirma que a discrepância se dá porque o cálculo do IDH leva em conta o comportamento do Produto Interno Bruto (PIB) per capita, mas, para medir o bem-estar social, o dado mais relevante é a renda, que teve queda expressiva. "A pobreza já aumentou muito em 2015 e provavelmente em 2016", afirma o pesquisador. Comparando as perdas por estrato social, Neri cita, com base em dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), que enquanto a renda média do país caiu 7,04% naquele ano, a renda dos 5% mais pobres caiu 14%. A dos que ganham acima da mediana da distribuição de renda, que são os que recebem salários ou benefícios previdenciários corrigidos pelo salário mínimo, caiu menos: 3,8%.
"Embora se fale que a recessão é a pior da história sob a ótica do PIB, a recessão do ponto de vista social é ainda pior", diz.
Para Neri, o ano de 2015 foi um mau exemplo de como aplicar o dinheiro público sem amenizar efeitos sociais da recessão, ou tampouco fortalecer a economia. "Os grandes perdedores foram os pobres, e de onde veio essa perda? De um congelamento nominal do Bolsa Família por dois anos, de 2014 a 2016, quando a inflação alcançou dois dígitos", afirmou. Ele destaca que em 2015 a pobreza cresceu 19,33% no país, com o ingresso de 3,6 milhões de pessoas. Na estimativa da FGV, é pobre a pessoa que ganha aproximadamente R$ 210 per capita por mês, valor ajustado pelo custo de vida de cada região. "A extrema pobreza ela aumentou mais, 23%".
Na opinião de Neri, a falta de sensibilidade com os mais pobres não é ruim apenas do ponto de vista social: também prejudica a economia. O economista cita estudo que estima que cada real em gasto público com Bolsa Família tem impacto três vezes maior no crescimento econômico do que quando se gasta com Previdência "ou com FGTS, que foi a opção que foi feita agora". "O Brasil começou 2015 com recessão forte e penalizou os mais pobres. Aumentou o salário dos aposentados quando não tinha que aumentar."
Em vez de usar a rede de proteção social que o país já tem para "anestesiar" os mais pobres e a economia, o país fez o oposto ao ampliar o gasto previdenciário que, diferentemente do Bolsa Família, não tem foco na camada mais vulnerável da população. Para Neri, o melhor caminho, seria, por exemplo, conceder reajuste temporário ao benefício do Bolsa Família durante o período mais duro, para amenizar o retrocesso social dos mais pobres. "Não defendo um reajuste permanente, porque a crise fiscal é grande. Mas o Brasil deu um reajuste permanente para a Previdência, o que não faz o menor sentido do ponto de vista de pobreza, nem macroeconômico".